quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Novos negócios

Eu ia escrever “A gangorra das bolsas e o carrossel financeiro mundial me levam...”. Me levam a quê. A onde? Estaquei na busca de uma comparação que me socorresse. Diante do impasse, cortei caminho para outra história.

À órbita de idéias para novos negócios - sem jamais possuir os recursos econômicos e intelectuais para implementá-los -, imaginei um Armazém de Metáforas. Claro, a iniciativa não é original: já me ocorre que Nelson Rodrigues abrira uma loja de frases para Otto Lara Resende. Mas, por que não estender o conceito? Afinal, como faz falta hoje uma boa metáfora! Sobretudo para posts em blogs.

Se os negócios prosperassem, a expansão comercial poderia ser viável, inclusive com a ampliação da linha de produtos para atender a novos nichos e aumentar o market share. Que tal uma franquia de figuras de linguagem? Redes de fast letter com frases recheadas de onomatopéias de boi, porco, aves e peixes, a gosto do freguês. Mercearias onde nada faltasse, nem um grama de zeugma ou um potinho de elipse. Uma drugstore com remédio para casos de prolepses, disfemismo e anacoluto. Armarinhos para pequenas urgências, como um eufemismo na parte interna da manga assim como quem prega um botão. Butiques com o que há de melhor na moda mundial - hipérboles ultradecotadas e paradoxos de nobre tecido - e também com o que nunca sai de moda - o velho e bom sarcasmo, surrado mas utilíssimo para diversas ocasiões sociais. Calçaremos frases elegantes com metonímias, assim como quem calça botas, e experimentaremos metáforas em períodos curtos e apertados, assim como quem troca um sapato que não serviu. E, quem sabe, você venceria a timidez de entrar em uma sexshop para perguntar à balconista se ali eles vendiam “Clímax”, quais tamanhos e sabores disponíveis.

Contudo, nem todas as figuras de linguagem seriam acessíveis ao grande público. Ironias, por exemplo. Jóias raras, finas, preciosas. E por elas você costuma pagar caro.

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