quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sobre obra

Descobri, não sei se tardiamente, que a suprema felicidade de quem mexe com obra em casa é pura aritmética: Bem-aventurados aqueles que têm menos de dois aborrecimentos por dia.

Caudiquê ao menos um desapontamento diário é o mínimo, o sine qua non, o "pingo" no pôker: pré-requisito.


O tal sinal digital

Pra quem gosta, é uma beleza. Digo, ver futebol com o sinal digital. A imagem é superior a tudo o que já experimentei. Você assiste como se estivesse no estádio e o tempo das dúvidas e lances polêmicos acabou, tamanha a nitidez visual. A definição é ainda melhor do que a transmissão de tv a cabo. Menino, uma beleza. Porém...

Ai, porém. Sei lá se é por ser um sistema neófito, verde, em amadurecimento pelo uso, mas o sinal digital é absolutamente imprevisível. Pouco a pouco, vamos nos resignando aos seus caprichos.

Por exemplo, uma ou outra emissora de tv aberta desaparece e fica fora do ar por dias. Num domingo, de repente, regressa; só para na manhã seguinte sumir outra vez sem deixar vestígios ou notícias de que algum dia retornará.

Sim, já tentei mudar a posição da ultra-mega-maxi-moderna antena, trocá-la de lugar para quem sabe encontrar o ponto mágico invisível onde converge todo o éter eletromagnético digital do universo, mas o resultado da aventura quase sempre é arriscado, várias vezes o canal perdido continua sumido e os que estavam funcionando bem já deram de embirrar e desaparecer. Donde se conclui: o mafuá deve ser mais na emissão do sinal e menos na recepção lá de casa.

Recordo um dia terrível. Quando acompanhava o final do Paulista entre Santos e Santo André, faltando 15m para o jogo findar, todas as emissoras saíram do ar. Essa não. E se for assim durante a Copa, Meg? Hein? Me diga, o que você vai fazer a respeito?

Bem. Chegamos à Copa e, até agora, o sinal digital não nos deixou na mão. Saiu-se bem, performance quase incólume, salvo alguns pequenos aborrecimentos. Por exemplo: na primeira partida da Seleção, não, mas, nestes últimos dias de jogos, já nos deparamos com nova artimanha do diabólico sinal. De tantos em tantos segundos, imagem e som dão uma pequena travadinha, um gap, uma intermitência, ou seja: a transmissão digital lá de casa anda sofrendo de soluço. Cogitei pregar uns sustos na eletroparafernália ("Troco você por uma tv de tubo!" ou "Que bonitinha essa antena com tufos de Bombril"), mas desisti.

A última traquinagem que agora descobrimos é o delay. Contra o Chile, o povo nos butecos e adjacências gritava o gol antes de o virmos, audição mó quebra-clímax que nos deixou com cara de delayados em três oportunidades. E, segundo uma reportagem do UOL, parece que vai ser assim mesmo.

Enfim, se o delay é inevitável até no trocadilho, relaxemo e gozemo. E, é claro, com a velha 29 polegadas e a antena com palha de aço a postos.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dog vs. Vuvuzela - Dog Wins

Semelhanças

Um dos filmes mais legais e sensíveis dos últimos tempos: Away we go. Em português do Brasil, Distante nós vamos. (graças a uma imbecilidade e à ferrugem no trato, na hora errei mentalmente na tradução do título em inglês, mas agora vejo que algo como "A gente vai longe" talvez não ficasse de todo ruim).
É um road movie indie do Sam Mendes. Um casal duro de grana se descobre grávido e, sem raízes ou vínculos, viajam para descobrir o melhor lugar para começarem um lar.

Desde Miss Little Sunshine não via um filme tão bom. E um dos protagonistas consiste num sujeito esquisito: pacato, tranqüilo, meio nerd, meio cool, meio sem-noção e muito bem-humorado.

Me identifiquei de cara.

Uma crítica aqui.

Red alert

Depois de torcer de camarote pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, Mick Jagger irá hoje ao estádio torcer pelo Brasil contra o Chile.

Beware, green-yellow folks: there is a "frozen foot" around.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Copitacos 2ª fase

Uruguai x Coréia do Sul
Uruguai; fácil, se jogar com denodo; difícil, se tiver uma recaída daqueles longos anos de covardia.

Estados Unidos x Gana
Estados Unidos. Menos categoria mas, curiosamente, tem mais fibra que uma seleção chamada Gana.

Holanda x Eslováquia
Holanda, um dos times mais perigosos e difíceis de se vencer desta Copa.

Argentina x México
Messi.

Inglaterra e Alemanha
Parelho, parelho. Cheiro de pênaltis. Enfim, tudo vai depender de quem sabe jogar bola: Rooney e Gerrard, pela Inglaterra, ou, pela Alemanha, Ozil e aquele Schw... Shwaz... aquele primo do Xuazenéguer.

Paraguai x Japão
Depois que os japoneses aprenderam a fazer gol de falta com o Zico...

Conjecturas:
Portugal x Chile
Surpresa: Chile.

Portugal x Suíça
Duro de assistir, mas passa Portugal.

Portugal x Espanha
Espanha.

Brasil x Chile
Bielsa, hmmmm... Aperto, mas é nóis.

Brasil x Suíça
Dá cuíca.

Brasil x Espanha
Dá olé.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Copitacos

Incrível: o gol que o nigeriano Yakubu perdeu ontem só o Muriqui perderia.

EquivoKakado: talvez Juca não devesse ter comparado a lesão do Kaká com a do Guga, pois é um juízo baseado em opiniões médicas controversas e suposições. Não é factível. Mas, como jornalista, acho que deveria dar a informação sim, de que o bicho tá jogando com dor, no sacrifício. E Kaká não tem nada que confundir as cousas, botando religião no meio.

Lamentável: Domenech deixar o cargo de técnico da França. Deveria ficar lá para sempre.

Radiante: Messi (até aqui o maior candidato a craque do mundial) ainda não ter feito gol porque, uma hora a bola entra e aí resta a questão: contra quem?

Preocupante: um olho na Espanha. O outro tambiém.

Estiloso: o figurino de Maradona durante as partidas. Parece aqueles vilões de enlatados de ação dos anos 80, sempre um chefão do narcotráfico, normalmente porto-riquenho, mexicano ou colombiano, cheio de capangas e que sempre sequestravam as mocinhas. Mas se o visual é de filme B, o intérprete bufão é classe A: vai ser diva dramática assim lá numa ópera no Cólon, ó Dom Diego.


terça-feira, 22 de junho de 2010

Dunga em UM DIA DE FÚRIA!

É tudo bobagem, mas a parte que dá pra rir é a partir do momento que o bicho pega a Uzi.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Copitacos

Sacanagem a garfada sobre os Estados Unidos contra os eslovenos.

França sem Zizou sifou.

Não é caso ainda de desistir da Espanha. E se ela se reerguer, e o Brasil pegá-la nas oitavas, hmmmmm...mau, mau.

México e Uruguai: um dilema para os dois. Jogo de compadritos ou a vontade de vencer pra evitar a Argentina?

Messi ainda não fez gol, mas foi essencial pro time nas duas vitórias. É quem tem tentado também fazer o diferente, o dono dos melhores (e poucos) lances do Mundial até agora.

O fanfarrão Maradona sempre foi um personagem, não?

Há um ritmo de tango no ar. Lembro o Leo outro dia: Toda Copa, Rubão fala que dessa feita a Argentina leva. Uma hora ele acerta.

Mas bem poderia ficar contente em errar outra vez.
* * *

Obra, nem comento: é uma sorveteria cheia de dissabores. Se quiser, dá pra provar um diferente por dia. Você toma e o pior é que ainda estão sempre a te tirar uma casquinha.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ele, outra vez


Jotapê ataca novamente, ateando paixões por onde passa. Contam que a fila de candidatas a sogra e suas respectivas filhotas dobra as depauperadas esquinas de Teófilo Otoni. Quando sai de casa com os pais, Jotapê não passeia, entra em exposição.

Penso em deixar de ser publiciotário para ser seu agente. E onde estão os reclames de fraldas quando mais precisamos?

Posso fazer o comercial do Uno no lugar daquele mala?


Comigo no time ia ser uns 4 a 1, pro gol chuto até de bico.


"Pantera, te quiero". É pra dizer assim mesmo, tio?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Brasil 2 x Coréia do Norte 1

Subscrevo minha leitura do jogo ao que encontrei no blog Olho Tático:

Primeiramente os equívocos de sempre que já se tornaram crônicos: a saída de bola continua lenta e previsível, com muitos toques laterais, sem força pela esquerda e que depende fundamentalmente dos passes corretos não tão freqüentes de Felipe Melo e das descidas de Maicon auxiliados por Elano pela direita. Se o jogo não flui, Kaká e Robinho são obrigados a recuar demais para organizar e isolam Luís Fabiano no 4-2-3-1 brasileiro.

Foi, como se diz, uma experiência, assistir a partida com Meg, Laurinha e Bibi. Que eu me lembre, não consta em minha biografia ter visto o Brasil jogar ao lado de crianças, muito menos em companhia de duas (opa, três) meninas.

Bueno. Reparei que as crianças (ou as meninas, não sei, menino talvez seja um pouco diferente) não prestam muita atenção e, quando não fazem perguntas o tempo inteiro, estão presentes em todos os lugares possíveis da sala, menos no sofá, que é naturalmente onde deveriam estar naquele momento. É uma coisa tal espantosa que me convenci de que existe alguma misteriosa corrente magnética que leva Bibi a ziguezaguear inúmeras vezes entre a tela da tv e a gente, a mão a brandir perigosamente um cabo com a bandeira pátria.

Me surpreendi mesmo foi quando saiu o primeiro gol canarinho, e de repente o ambiente foi tomado por gritos cujos decibéis fariam uma arquibancada repleta de vuvuzelas parecer o ronronar de gatinhos. As três Marias loucas e ensandecidas então se puseram à janela imbuídas do mais elevado dever cívico para avisar a qualquer desligado ou alienada presente no Anchieta, Sion e adjacências, que o Brasil tinha inaugurado o placar.

No segundo gol brasileiro, seguiu-se tudo em igual diapasão, com as três , salvo Laurinha, que, naquele raro e talvez inédito momento de liberdade para soltar a garganta sem risco de admoestação privada ou pública, ficou ali no sofá e não gritou gol, apenas gritava e gritava, cada vez mais alto, descobrindo (e, ao mesmo tempo, imagino admirando) os limites de sua potência e alcance vocal. Fiquei parado, observando-a o máximo que pude: já que os ouvidos estavam provavelmente inutilizados, tive medo que meus olhos também ensurdecessem.

De maneira que, mais de uma vez, me passou pela cabeça aquela velha imagem dos documentários da vida selvagem, em especial na África, na qual leões e leoas adultos mantêm um olhar distante, totalmente impassíveis enquanto são mordiscados, triturados, empurrados, pentelhados por filhotes infatigáveis.

Tá, sei que sou um chato. Mas sabem o que é pior? Eu até que gostei. Vejam bem, se não for agora, em que Copa, senão esta, vou ter a oportunidade de experimentar um genuíno safári na tranquilidade do lar?

Niversário da Dra.

16 de junho, se não me engano, é o dia em que se transcorre todo o Ulisses de Joyce. É também quando a Doutora cumpre anos.
Bem, pra deixar tudo no campo da literatura, vou ao socorro do Poetinha quando a especialidade da ocasião necessita e também quando o pobre coração falha: em palavras não transmuta todo o carinho que guarda.

Poema de aniversário


Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte...
Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas, tudo o que nunca foi dado por um homem à sua Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma.
Quisera dar-te também o mar onde nadei menino, o tranqüilo mar de ilha em que perdia e em que mergulhava, e de onde trazia a forma elementar de tudo o que existe no espaço acima – estrelas mortas, meteoritos submersos, o plancto das galáxias, a placenta do Infinito.
E mais, quisera dar-te as minhas loucas carreiras à toa, por certo em premonitória busca de teus braços, e a vontade de grimpar tudo de alto, e transpor tudo de proibido, e os elásticos saltos dançarinos para alcançar folhas, aves, estrelas – e a ti mesma, luminosa Lucina, e derramar claridade em mim menino.
Ah, pudesse eu dar-te o meu primeiro medo e a minha primeira coragem; o meu primeiro medo à treva e a minha primeira coragem de enfrentá-la, e o primeiro arrepio sentido ao ser tocado de leve pela mão invisível da Morte.
E o que não daria eu para ofertar-te o instante em que, jazente e sozinho no mundo, enquanto soava em prece o cantochão da noite, vi tua forma emergir do meu flanco, e se esforçar, imensa ondina arquejante, para se desprender de mim; e eu te pari gritando, em meio a temporais desencadeados, roto e imundo do pó da terra.
Gostaria de dar-te, Namorada, aquela madrugada em que, pela primeira vez, as brancas moléculas do papel diante de mim dilataram-se ante o mistério da poesia subitamente incorporada; e dá-Ia com tudo o que nela havia de silencioso e inefável - o pasmo das estrelas, o mudo assombro das casas, o murmúrio místico das árvores a se tocarem sob a Lua.
E também o instante anterior à tua vinda, quando, esperando-te chegar, relembrei-te adolescente naquela mesma cidade em que te reencontrava anos depois; e a certeza que tive, ao te olhar, da fatalidade insigne do nosso encontro, e de que eu estava, de um só golpe, perdido e salvo.
Quisera dar-te, sobretudo, Amada minha, o instante da minha morte; e que ele fosse também o instante da tua morte, de modo que nós, por tanto tempo em vida separados, vivêssemos em nosso decesso uma só eternidade; e que nossos corpos fossem embalsamados e sepultados juntos e acima da terra; e que todos aqueles que ainda se vão amar pudessem ir mirar-nos em nosso último leito; e que sobre nossa lápide comum jazesse a estátua de um homem parindo uma mulher do seu flanco; e que nela houvesse apenas, como epitáfio, estes versos finais de uma cançâo que te dediquei:

... dorme, que assim
dormirás um dia
na minha poesia
de um sono sem fim...



segunda-feira, 14 de junho de 2010

Diário de obra II

Episódio de hoje: Isso pode, Arnaldo?

Como tudo o mais, a obra parece ter entrado em definitivo no ritmo da Copa.

Liguei cedo para o eletricista. E ele:
- Bom-dia, Maurício. É o Rubens.
- Rubens? Rubens...
- Aquele com quem você combinou de ir ao apartamento nesta manhã, lembra? Para orientar o pedreiro sobre quais as partes se deveri...
- Ah, lembrei.
- Ótimo. Você poderia aproveitar e me passar a lista de material para que eu pos...
- Onde é mesmo o apartamento?
- Aí, ao lado do seu trabalho. Na Rua Taltal. Fomos lá junto.
- Rua Taltal... Rua Taltal... Ah, sei. Estarei lá daqui meia hora.

Ligo pro pintor pra confirmar o encontro com o eletricista. Mas o pintor disse que não foi à obra nem irá, porque o pedreiro teve um problema pessoal, era ele quem estava com a chave e que o dito cujo mora lá na casa do caixa-prego, não daria pra ir lá e voltar a tempo de fazer alguma coisa.

De maneira que o eletricista foi lá e perdeu a viagem, tocando o interfone em vão.

Ligo pra Cemig no intervalo do almoço e quase estrebucho de felicidade ao saber que o ex-proprietário ainda não quitou os débitos de maio. Agradeço à atendente e desligo; seria inútil pedir para religar (pela 135ª vez) a energia do apê enquanto houver dívidas pendentes. Estou sem luz há quinze dias.

Quase me esqueço: no sábado, o pintor me perguntou se o frete com os materiais de construção já tinha saído do depósito, porque ele queria saber se daria tempo de pedir umas peneiras (pra areia) e uma linha (pro alinhamento da parede), coisas que, pra mim, fazem parte do bat-cinto do pedreiro, suas ferramentas de trabalho.

Isso também pode, Arnaldo?

Brrr

Menino, gripei bonito.

Aquecimento global no mundo, friaca local aqui em Belzonte.

Não me lembro de nada igual, desde 1987.





sexta-feira, 11 de junho de 2010

Bola rrrolando!

Me abre um sorriso saber que os caras que eu gosto também se gostam - ou se gostavam: depois deste episódio, já não sei bem.

Rola, Jubilani, rola

Alberto Helena Jr.

Direto de Johanesburgo – A cidade amanheceu ensolarada, como de hábito nestes dias, com um vento mais ameno do que o de ontem, aço frio de mil punhais perfurando a grossa jaqueta comprada há dezesseis anos na Copa dos EUA com o emblema do NY Team.

Mas, o calor maior vem do som persistente e uníssono, num tom próximo ao de contralto, das vuvuzelas, essas cornetas africanas que são o encanto e o horror de Johanesburgo.

Ainda no jantar da véspera, num pub irlandês, cujo dono, ironicamente, é o português João, fui submetido a uma tortura tão insuportável que quase me declarei publicamente ser o cabo Anselmo em pessoa. Pra quem não sabe, cabo Anselmo foi o símbolo da traição da resistência à ditadura militar no Brasil.

Em duas mesas repletas de brancos e um japonês, os comensais se revezavam na arte de tirar sons de uma vuvuzela, que passava perdigotos de boca em boca, ao pé de meu ouvido, aos gritos e risadas histéricas.

Ao fundo, ou ainda mais alto, o som do show de abertura da Copa, um desfilar de cantores e cantoras internacionais, cuja estrela maior – Shakira – provocava estertores na moçada cada vez que aparecia com seus trejeitos e rebolados, numa versão mezzo sul-africana da abominável Macarena de anos atrás, misturada com a dança do piu-piu do nosso inefável Gugu.

Ah, as vuvuzelas! Disse que são o encanto e o horror desta cidade aprazível. E cometo aqui uma confissão de culpa irremissível.

Outro dia, numa mesa do café do hotel, ouvi uma inconfidência de Lúcia, mulher do Veríssimo, mais que companheiro de outras viagens, mestre silencioso na arte das palavras: tramava a digna senhora uma falseta para o marido ilustre – dar de presente à netinha uma dessas vuvuzelas e instigá-la a acordar o vovô todas as manhãs, ao som mais irritante do mundo.

Em retribuição à gentileza que Lúcia me fizera dias antes, comprando-me um cosmético qualquer em suas andanças pela cidade, dei-lhe a tal vuvuzela. Ganhei dela um sorriso velhaco. Do Veríssimo, o silêncio eterno.

As cornetas, porém, continuam a soar, enquanto filas e mais filas de carros se encaminham lentamente para o estádio, onde África do Sul e México, finalmente, botam a bola da Copa, a famigerada Jabulani, pra rolar.

Já sei

Descobri: grande parte das dificuldades que enfrento nessa vida é porque, tentando agir sensatamente, deduzo, por extensão, que os outros também o farão.

Santa ingenuidade, Batman. Big mistake. Eu tenho que prever é a insensatez. Tenho que contar com ela, que ela vai acontecer. Vou acertar, invariavelmente; e se eu contar com o mau senso alheio, antecipá-lo, cercá-lo em todas as suas possibilidades de manifestação, a vida será mais tranqüila, segura, plana.

Ponto positivo: só a experiência traz essa clarividência.

Anotação para um cuidado mental: daqui em diante, em toda empresa que me meter, em tudo o que me dispuser a fazer, preciso me vigiar constantemente para prevenir a insensatez antes que ela me atinja com toda a sua série de aborrecimentos.

É isso. Contar com a má-fé talvez seja a melhor maneira de evitá-la.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Diário de obra

Hoje no portal Grobo vi que mais um ex-Menudo saiu do armário. Puxa vida. George Michael, Ricky Martin... virou moda. Pô, eu também tenho algo a contar!

Sei que muitos vão duvidar, outros tantos não acreditarão.

Lamento decepcionar a quem quer que seja, pessoal. Mas eu gostaria vir à público confirmar que SOU HETEROSSEXUAL.

Sei que muitas vezes não parece, mas irredutivelmente sou.

Me desculpem, me desculpem. Sinto muito se arruinei ilusões.

/ / /

E amanhã terei que escapulir do trabalho em algum momento para comprar tijolo, areia, cimento, telhas, etc.

Mas o que vem me tirando do sério foram as trapalhadas da CEMIG, uma situação que se originou a partir do instante em que o ex-proprietário resolveu fechar a conta com a instituição, me cabendo a religação da energia.

A nossa querida Cemig levou oito dias, três telefonemas de vários minutos no meu horário de trabalho, três idas inúteis a postos de atendimento (estacionamentos + perda de tempo + sentimento de ter sido feito de otário = fúria assassina), além de outra viagem infrutífera hoje com cópias xerox e outros reaizinhos amiúde desperdiçados, para finalmente me revelar, pela boca do profeta que está atrás do balcão de atendimento do posto da Rua Carijós, que, a melhor solução, no meu caso, é quitar os débitos pendentes do mês de maio - do contrário, nada de religação.

Ora, como só peguei as chaves do imóvel no dia 30 de maio, entendo que as contas deste mês (assim como condomínio) são de responsa do ex-proprietário, que utilizou a energia enquanto permaneceu na residência.

Agora, não consigo falar com o ex-proprietário e o angu continua. Uma idéia de encrenca no horizonte me apavora: e se ele cismar que essas contas não são com ele? Pô, eu não fechei a conta na Cemig com o cara que comprou meu apê, já falei que vou pagar a conta de maio cheia, mesmo entregando o apartamento dez dias antes do previsto. O cara não vai ter que passar por esses transtornos, apenas, confio, trocar a titularidade.

Bem, veremos. Apesar dos pesares, sigo sem luz - mas não sem energia.

Quebra-quebra

O combinado era abrir um vão entre a sala e o quarto de empregada + despensa, de modo que, na perspectiva de quem estivesse na sala, esta abertura fosse centralizada e eqüidistante de suas extremidades: 90 cm de parede a partir da porta de entrada e 90 cm de parede a partir do acesso à cozinha.

Quando cheguei lá, vi que o demolidor não tinha respeitado (ou esquecido) este detalhe. O vão foi até o limite da parede da cozinha, comendo uns 30 cm de parede da sala que deveriam permanecer. Tinha ficado esquisito, então o acordo prévio deixara da fazer sentido.

Não titubeei: pedi então pra quebrar tudo, deixando um palmo de parede a partir da porta de entrada, pra bichinha ter onde escorar. Espero ter agido certo, nessas ocasiões é preciso ter equilíbrio para decisões rápidas. Obra planejada, como se sabe, é um cronograma de imprevistos.

Ao menos, nossa reforma não será faraônica, espero. Aliás, qual seria a obra antônima de faraônica? Plebéica?

terça-feira, 8 de junho de 2010

Onze pitacos

Felipe Melo: nervosinho, valentão, chegado a um mau-caratismo. Vai acabar complicando.

Gilberto Silva: corre o jogo inteiro, só que em marcha atlética. Não marca bem, não sai pro jogo bem (só toca de lado), está lento. Envelheceu, uma pena. Não deveria estar ali.

Felipe Melo e Gilberto Silva: redundantes, uma vez que é preciso um para corrigir as falhas do outro e vice-versa; com eles, o time fica com menos um.

Juan e Lúcio: têm pernas para agüentar o tranco?

Kaká: Procuram-se as arrancadas e os chutes de chapa.

Ramires e Daniel Alves: substituição no Brasil; saem Felipe Melo e Elano.

Júlio César: Há muito é o melhor, mas, atenção: tristemente, para se tornar o pior de todos os tempos, goleiro só precisa de um instante.

Maicon: não devemos ter problema por ali.

Michel Bastos: por ali é que o bicho pega.

Robinho: com Kaká baleado, ou é com ele ou...

Josué: o caçula do Zezé di Camargo e Luciano.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Eventos

Há algo de temerário na ideia de começar uma reforma em plena Copa do Mundo. São dois eventos de importância capital em minha vida, ambos a exigir uma vigília minuciosa e acompanhamento de perto.

A eletricidade assalta o corpo, a excitação se sente no ar, as datas se aproximam de seu prazo fatal: vai começar. Num canto da África, duas seleções se preparam para o pontapé inicial; num cantinho do bairro Buritis, a marretada inicial para demolir duas paredes da sala lá de casa.

É difícil a vida de técnico. Além de convocar os profissionais certos e coordenar o time, definir o papel de cada um para que saibam exatamente o que fazer quando entrarem em cena – eletricista, gesseiro, pedreiro, marceneiro, pintor, etc. É preciso encaixar as peças.

Sem falar nos fatores extra-campo, que atrapalham a seqüência do nosso trabalho. Anteontem mesmo foi preciso conter a sanha da sede de informações de jornalistas do mundo inteiro. Meus craques tiveram que se virar na coletiva.

IMPRENSA MUNDIAL: Você acha que é possível fazer um belo trabalho?

PEDREIRO: Olha, nem sempre a gente consegue entrar e dar espetáculo. Mas isso não é objetivo. O que vale é ganhar.

PINTOR: Alguns ainda vivem na ilusão. Esperam que tudo seja uma pintura, que cada jornada seja uma obra-prima.

PEDREIRO: Isso é saudosismo.

PINTOR: Saudosismo. Hoje, o mundo mudou. O negócio é resultado. Beleza não põe mesa, taí nosso treinador que não nos deixa mentir (riso geral).

IMPRENSA MUNDIAL: E se algum de vocês contundir?

PEDREIRO: Ninguém quer isso, mas, se rolar, não tem problema. Somos um grupo, e quem entrar com certeza vai dar conta do recado.



Que esse time seja exitoso para brindarmos juntos, no final, de taça na mão.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A obra que não começa

A obra do novo cafofo está atrasada - e olha que nem começou!

Tá danado acertar com prestadores de serviço. Ora é falta de disponibilidade, ora é o custo que se vislumbra excessivo.

Nessas horas, praguejo minha falta de conhecimentos práticos sobre marcenaria, pintura, etc. Pô, eu mesmo arregaçaria as mangas. Menos pela economia de grana, mais pelo valor da aprendizagem.

Até contatei uma oficina de bricolagem pra, quem sabe, fazer um curso relâmpago, se houvesse. Mas, quiçá em função do feriado, ninguém atendeu.

Ninguém - eletricista, pedreiro, pintor, etc - tem atendido plenamente, pensando bem.


terça-feira, 1 de junho de 2010

Publicitários

Outro dia, Meg comentou sobre uma analogia de pizzaiolos com o trabalho de criadores publicitários e suas dificuldades com os clientes em geral. Achou divertido.

Imediatamente me lembrei de uma outra, que li há anos, do Alexandre Peralta e Sérgio Valente, que me parece insuperável para ilustrar como, não raro, a gente sofre com o despreparo do mercado, seja pelo desconhecimento/falta de ousadia e confiança na agência, seja pelo fato imutável de que qualquer pessoa de qualquer nacionalidade ou grau de instrução entende tudo de publicidade e comunicação, a ponto de saber mais do que o profissional que, curiosamente, requisitou consulta para a solução de um problema.

Atire a primeira pedra o publicitário que não se identificar com o esquete.


"INTERNA. DIA. HOSPITAL. HOMEM PASSANDO MAL. MULHER E MÉDICO DO LADO.

Homem - É o meu peito, doutor... Tá doendo.

Médico: Quantos anos o senhor tem?

Homem: Quarenta e dois.

Médico: Bebe?

Homem: Todo dia.

Médico: Fuma?

Homem: Só quando bebo.

Médico: Pratica algum esporte?

Homem: Não, mas acompanho pelos jornais.

Médico: É, seu Luís, vamos ter que fazer um eletrocardiograma.

Homem: Eletrocardiograma? Parece interessante.

Médico: Mas antes eu quero que o senhor tome um Cluorossil 300 mg.

Mulher: Não sei se concordo, mas vamos lá.

Médico: Através do eletrocardio...

Homem (interrompendo): Doutor...

Médico: Pois não...

Homem: E se fosse exame de sangue?

Médico: Não, nós precisamos do eletrocardiograma porque...

Homem (interrompendo de novo): Pelo preço de um eletrocardiograma, a gente poderia fazer três exames de sangue!

Mulher: Humn. Eu gosto disso.

Médico: Mas o senhor não precisa de um exame de sangue! O senhor precisa de um eletrocardiograma!

Homem: E aspirina?

Mulher: É mesmo. E a aspirina?

Médico: O quê que tem?

Homem: Dizem que a aspirina faz bem pro coração.

Médico: O senhor não está me escutando.

Homem: Estou sim, o problema é o peito, não o ouvido.

Mulher: Sabe, as minhas amigas tomam aspirina.

Homem: Eu gosto de aspirina.

Médico: Eu sou médico há trinta anos e estou dizendo que o senhor precisa de um eletrocardiograma.

Homem: Aspirina não é mais barato?

Mulher: E se também dá resultado...

Médico: Seu Luís, o senhor me paga pra dizer o que é melhor...

Homem: Tive uma idéia! Aspirina infantil.

Médico: O senhor quer morrer, seu Luís?

Homem (vira p/ mulher): O que você acha?

Mulher: Se você quer morrer?

Homem: Não, da aspirina infantil.

Mulher: Docinha.

Homem (vira p/ médico): Viu? Acho que poderíamos pensar em outras soluções.

Médico: Como assim?

Mulher: Mais opções.

Homem: Eu dou mais três dias para o senhor pensar.

Mulher: Vamos tentar para amanhã?

Homem: Dois dias então, ok?

Médico: Se o senhor não fizer este eletrocardiograma, pode ser que nem dure dois dias.

Homem: Um dia então. E não se fala mais nisso.

Médico: Não vai tomar o Cluorossil 300 mg?

Mulher: Acho que devíamos rever tudo.

Homem: É, eu estou desconfortável.

Mulher: Aumentou a dor?

Homem: Não é isso, estou desconfortável com este Cluorodril.

Médico (corrige): É Cluorossil... Clu-o-ros-sil 300.

Mulher: E o 200? E o 250? Vamos pensar...

Homem: Veja, não queremos dar a solução, o médico é você...

Mulher: Isso, a gente gosta de ser provocado.

Médico: Mas eu estou dizendo que você precisa...

Homem: Doutor, é o seguinte...

Médico: O quê?

Homem: Quem paga a conta?

INT. DIA. VELÓRIO. VIÚVA SENTADA, PARENTES EM VOLTA.

Viúva: Eu disse pra gente trocar de médico...