quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Inté

Dizem que, no Brasil, ironia não se escreve, explica-se. Ainda assim, isso não apaga a constatação constrangedora de eu estar escrevendo muita porcaria. Além do suportável, certamente.

Falar nisso, suportamos 2009 e suas crises com denodo e paciência. Ponto pra todos.

E agora? Agora, um ano a mais, um ano a menos, lá vamos nós, privilegiados, marchar rumo aos banquetes.

Vou ali engordar para começar o Ano Novo culpado. Boas festas para você também.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Nada com nada

Natal, reveillon chegando. E resfriado, numa hora dessas? Pô, parei.

* * *

Agora, direto chega alguém e diz: - Te vi tal hora, tal lugar. Nem me surpreendo mais. Curioso é que, além deu não ver ninguém, em nenhuma das circunstâncias o fulano foi lá oferecer um aperto de mão, um abraço, buzinar, dar um grito.

Hmmmm, será sonseira minha ou essa turma me vê e se esconde? Ando tão cacete a ponto de ser evitado?

Num pode, num admito. Das duas, uma: ou eu de fato não enxergo essa gentalha ou é essa gentalha que não se enxerga.

* * *

Outro dia, tinha falado por telefone com um corretor, ele ia nos mostrar um imóvel. Como Meg e eu chegamos mais cedo, fomos dar a volta no quarteirão, reparar a vizinhança. Detalhe: a gente tava adiantado ao horário, fora do local combinado, andando à paisana pela calçada como qualquer cidadão.

Aí, na dobra da esquina, sujeito atravessa a rua em nossa direção e grita: - Rubens!

Parei, intrigado: - É você o corretor? (havia esquecido seu nome). O sujeito confirmou e comentei com ele que eu deveria ter mesmo cara de mim, porque era um mistério como ele havia detectado um Rubens em meio aos transeuntes de forma tão bem sucedida. Quase lhe dei parabéns.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ti-au


Laka, a Akita das minhas irmãs, se foi.

É o que me conta mãe, por telefone.

Entrou em coma e não pôde resistir mais.

Tadinha, descansou. A bichinha já vivia doente há anos, num estado de penúria que dava dó.

Mãe revela ainda que as manas, sensíveis que são, estão em prantos.

Compreendo o apego. Tive um vira-lata chamado Ludo. Era apaixonado pelo cachorro. Então ele ficou doente e eu adoeci junto. Durante dois dias, não fui à aula, não comi, não dormi, fiz nada. Só chorava. A situação era irremediável, porém ninguém foi forte o bastante para dizer a verdade a um menino de dez anos. Inventaram uma conversa fiada para me tapear e deram um jeito de tirar o bicho lá de casa, me apaziguando com o papo de que Ludo estava sendo tratado e se recuperando bem lá na roça.

Digo à mãe que foi melhor assim. Adultas, Ju e Nanda se recuperam. O sofrimento da Laka, que era de arrancar suspiro, acabou. E sorrio ao telefone: agora é só arranjar outro cachorro.

Exacerbada, ela própria sentida, rebate:

- Nada!, lá em casa nunca mais entra cachorro nenhum. Arrependimento!

- Foi você mesma quem comprou.

- Porque na época sua irmã tava em depressão. Mas foi a pior coisa que eu fiz.

Uma pena. Mãe não consegue compreender que se fosse um pouco além da contrição presente, veria os inúmeros momentos de alegria compartilhada – e, por que não, dor e preocupação também - que a presença da Laka proporcionou em todos esses anos. Que foi ela a responsável direta por oferecer às manas a companhia e o apoio emocional que só um cachorro pode e sabe dar. E, acima de tudo, veria que ter colocado um cão em nossa família – mesmo contra seus princípios domésticos! – não foi a pior; foi a melhor coisa que ela fez.

Viver é isso, mãe.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Ação e reação

Eram três riscos paralelos por toda a lateral; de nascente no bagageiro, serpenteando pelas portas, até a foz sobre o capô - como se o próprio Wolverine tivesse alguma coisa muito pessoal contra os Clios hatch pretos.

Cara, tem sujeito muito, muito espírito de porco.

* * *

Se você flagrasse alguém deliberadamente depredando seu veículo, o que imagina que faria?

Dependendo do tamanho do animal, daria um pau? Se fosse um moleque, uns bons tabefes?

A violência seria admissível? Pouco sensata, porém lícita? Nada que consertasse os danos provocados ao bem, mas, no calor dos acontecimentos, infligir um pouco de dor ao responsável daria uma sensação de reconforto?

Se, num caso desses, fosse possível antecipar que os punhos seriam as únicas armas empregadas, acho que os fins justificariam os meios e valeria correr o risco: bora partir pro bacubufo no caterefofo pra tirar a história a limpo.

Mas, como se sabe, não existe código de ética nas ruas.

C.Q.D.


PS. Caralho, foi o carro inteiro.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Restart

E como era domingo nove e meia da noite, e nos invadiu o espírito o estranho desejo de sofrer, fomos ao cinema ver 2012.

Até que sobrevivi bem àquela porqueira. Acho que, quando a expectativa é a pior possível, qualquer coisa que venha além tá valendo.

Nota: curioso constatar que o estacionamento vazio de um shopping à meia-noite é mais assustador do que as cenas de hecatombe no filme. Experimente pra ver.

* * *

Prestes a dormir, perguntei:

- Se você pudesse levar para o novo mundo pós-pocalips apenas alguns livros na sacola, o que levaria?

- A Bíblia.

- A Bíblia?

- Certamente. É o livro. Tem tudo lá, explica muita coisa importante.

- Hmm. Que mais?

- Dom Quixote, claro. Todo o Borges, todo o Rosa... enfim, tem que pensar. E você?

- Qualquer guia ou manual prático de agronomia.

Yes, Wii can

Compramos o Wii, dividido em oitocentas prestações.

Pra quem não sabe, é aquele console que leva o seu traseiro para fora do sofá (no bom sentido, no bom sentido).

Pra jogar, você acaba sendo convidado a imitar os movimentos dos tenistas, golf players, etc.

Admito a aquisição por impulso, mas penso que pode valer a pena.

Primeiro, Bibi, Laurinha e Meg se divertem brigan.., ops, brincando. Ponto para a harmonia familiar.

Segundo, as meninas se familiarizam com essas geringonças modernas. Ponto para inserção tecnosocial.

Terceiro, depois de alguns ajustes necessários, certamente vamos adquirir os equipamentos para o programa de ginástica/ioga, resolvendo de uma tacada só o desejo de Meguinha de fazer uma atividade física e a falta de saco/tempo/condições de ir a uma academia fora de casa.

De minha parte, direi que o Wii também anda me trazendo benefícios. Pelos meus cálculos, 1/12 do que consumo em cerveja vai embora jogando. Estou certo de que esse gasto calórico e minha performance ainda melhoram, é só beber um pouco menos.

No fim, com sua proposta inovadora de ser um videogame que combate o sedentarismo, penso que o Wii está subvertendo um pouco aquele aforismo dos computadores que diz que software é a parte que você xinga e hardware a parte que você chuta. Tudo se integra no console: a gente xinga e chuta ao mesmo tempo, inclusive, se bobear, uns aos outros.



quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Verdade

Pode ser que me engane (raríssimo), mas deve haver uma lei escrita em algum lugar da metafísica ou do universo: tudo o que é procrastinado volta intensificado para você.

Aconteceu nesta sexta: eu, que passei o ano inteiro adiando organizar correspondências, contas, recibos, comprovantes - só juntando papéis para formar pilhas e pilhas aqui, ali e acolá - agora tenho que descobrir, até segunda-feira, se paguei uma determinada mensalidade em maio, sob a ameaça de meu nominho entrar para o SPC.

Eu, por mim, paguei. Como provar, tu que é o mais bagunceiro dos seres, o mais displicente com as coisas pessoais e documentais, lambão, nas palavras complacentes e carinhosas de tu madre, ó Rubens?

De um jeito ou de outro, agora paga. Ocupe a tão esperada, desejada sexta à noite e, quem sabe, o fim de semana, sendo um arqueólogo de boletos, e desenterre a prova de que houve um dia, no sítio perdido de suas finanças e contas, um resquício, um mínimo de civilização.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Monstros

Sei não, mas esse cabra aí do meio tá com um olhar mais assustador que o do Bill Bixby e o Lou Ferrigno juntos.

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A tese de mestrado "A importância do Incrível Hulk e do Espetacular Homem-Aranha na formação do caráter de um guri de 8 anos" jamais sairá. Nem escritor nem leitor teriam paciência.

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Uma vez imaginei uma reunião tipo Alcóolicos Anônimos só com monstros famosos da cultura POP e literatura universal.

Sentados em semicírculo, Fantasma da Ópera, Quasímodo, Sloth dos Goonies, Fera (da Bela), Hulk e Frankenstein Jr. compartilham suas aflições, anseios e amores incompreendidos, debatem a supervalorização da estética nos dias de hoje, trocam receitas, etc.

Lobisomem e o Conde não vieram porque o encontro pode ter sido pela manhã.

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Nietzsche disse que os monstros não devem ser combatidos se tivermos medo de nos tornamos um.

Protesto. Vai ver é por isso mesmo que devemos combatê-los.