quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Lembrancinha

Ao longo da história, igrejas católicas foram construídas sobre templos e locais sagrados que eram dedicados à adoração de divindades pagãs.

Assim na terra como no céu: o calendário também foi afetado. Datas importantes para o paganismo foram substituídas pelo poderio de Roma, interessada em estabelecer sua prevalência ou supremacia sobre os cultos panteístas.

Natal - por exemplo. Como ninguém pode precisar ao certo quando Jota Cristo nasceu, algumas leituras trazem a informação de que a compreensão do Natal em 25 de dezembro, em comemoração ao nascimento do Filho do Homem, veio a substituir um antigo culto ao solstício de inverno - um decreto do Imperador Constantino.

Isso lá pelo século IV, anos de avanço e consolidação do catolicismo na Europa.

Segundo e seguindo antigos costumes, diferentes nações pagãs celebravam o deus-Sol no dia de menor duração no hemisfério norte; cada uma tinha uma divindade e uma festa para a ocasião (Rá, Apolo, Mitra etc); era o início do inverno, e todos queriam sobreviver a ele para chegarem inteiros à primavera. Era a festividade conhecida, no Império Romano, como Natalis Solis Invicti: O nascimento do sol invencível.

Como todos sabemos, São Nicolau foi figura histórica. Já Papai Noel, como hoje o conhecemos no ocidente, é uma invenção do marketing da Coca-Cola, apropriando-se da propaganda do final do século 19 e começo do século 20.

Repare, não; é só uma lembrancinha de cultura porventura inútil e talvez apócrifa. Feliz Natal pra você.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Paris

Não tô tendo tempo pra dedicar às pesquisas sobre Paris. Me aflige um pouco, porque a antecedência é amiga dos descontos e pechinchas em viagens.

Mas foi muito interessante saber que o dono do apartamento que alugamos, no 13 eme, fala e escreve em português, é professor universitário casado com uma brasileira de BH, onde o casal mora também em boa parte do tempo.

Touché.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Justiça LTDA

É preciso com urgência desmascarar a justiça brasileira. Descobrir e trazer a público a bola que alguns ilustres juízes devem ter levado nas últimas décadas.

Pipocas

Honestamente: acho que, pouco a pouco, cresce o nível de consciência das pessoas. Sobre um monte de aspectos no que tange ao atual estado de coisas. O papel dos governantes, as operações do sistema financeiro mundial, a atuação das corporações, os dilemas da questão ambiental e energética, a cupidez das superelites transnacionais, a vassalagem de políticos nacionais a países estrangeiros e multinacionais, o caráter basal da mídia/educação/cultura no processo de manipulação de massas e manutenção do status quo... enfim.

Gradativamente, em fogo brando, parece surgir, ao redor do mundo, a noção de como as coisas realmente são e funcionam. De parte a parte, e em partes, tenho impressão de que o cidadão começa a despertar de um longo sono.

Bom, claro que essa é uma perspectiva otimista. Mas também se espera reação e recrudescimento. Ninguém que está com o burro na sombra há tantas décadas vai querer largar o osso de mão beijada. Haverá choro e ranger de dentes.

Mas, pra mim, a grande batalha para tornar essa existência um pouco melhor para a maior parte das pessoas é no campo das ideias. No xadrez da comunicação. Esse é o busílis.

Por isso vejo com esperança o fato de a consciência do homem comum, o homem de bem, aquele que ainda se indigna, aflorar. Ainda que seja devagar, ainda que leve tempo. À medida que a panela esquenta, somos cada vez menos milho e cada vez mais pipoca.

Ou como diz aquela frase das manifestações na Porta do Sol, em Madri, ao que tudo indica inspirada no best-seller de 32 páginas Indignez-vouz!, de Stéphane Hessel:

"Não somos anti-sistema. O sistema que é anti-nós".


Sobre Hessel: http://pt.wikipedia.org/wiki/St%C3%A9phane_Hessel

domingo, 18 de dezembro de 2011

O óbvio

Durante a semana, observei todas as ressalvas e platitudes necessárias: futebol é futebol, é uma partida só e pode dar qualquer resultado, etc, etc.

Mas, lembro-me com total clareza de ter cravado para o compadre: o Santos nem vai ver a bola. Quatro a zero Barça.

E querendo ser chato: se a turma da Globo lesse o Boêmios no Divã, já teria descoberto o óbvio, como demonstraram Caio, Casagrande, Tande, Glenda e a boa besta do Cléber Machado.

O negócio é o espírito de 82. Precisou o Santos, a despeito de toda a babação de ovo midiática sobre o Neymar, tomar um chocolate para os caras externarem o óbvio.

Daqui em diante, vão ficar todos aí babando com a descoberta do pólvora.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dois toques e um tique (nervoso)


- "Se não houver uma resposta conjunta à crise, o mundo terá que enfrentar uma situação semelhante a dos anos 30, que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Nem economias avançadas, nem mercados emergentes, nem países de rendimento médio serão imunes à crise que vemos crescer. O risco que está em cima da mesa é o da recessão aumentando o isolacionismo e o proteccionismo. Isto é exatamente o que aconteceu nos anos 30 e o que se seguiu não foi algo que gostássemos de encarar outra vez."

(Cristiane Lagarde, diretora-geral FMI, em pronunciamento nesta 5ª feira, nos EUA)
Excerto do portal CartaMaior.



- Uma retirada sem glória nem honra*

Depois disso, nos últimos nove anos, a ocupação norte-americana causou a morte de mais de 100 mil civis, 20 milsoldados iraquianos e 4.800 militares invasores, dos quais 4.500 ianques. Milhares e milhares de cidadãos iraquianos ficaram feridos, bem como soldados invasores, a maioria deles mutilados. As cidades foram arrasadas — mas se dividiram os poços de petróleo entre as empresas dos países que participaram da coligação militar invasora.
Artigo de hoje* do jornalista Mauro Santayana:



- Li que no ano de meu nascimento - 1975 - as tropas americanas foram retiradas do Vietnam. Aí pensei... e como perguntar não ofende... alguém se lembra de algum ano das últimas décadas em que os Estados Unidos não estivessem envolvidos em algum conflito em algum lugar no planeta?

Com as eleições presidenciais chegando, infelizmente é razoável supor que ano que vem tem mais.


Como de hábito


Só mesmo no Brazil-zil-zil

Mino Carta


Pergunto aos meus intrigados botões por que a mídia nativa praticamente ignorou as denúncias do livro de Amaury Ribeiro Jr., A Privataria Tucana, divulgadas na reportagem de capa da edição passada de -CartaCapital em primeira mão. Pergunto também se o mesmo se daria em países democráticos e civilizados em circunstâncias análogas. Como se fosse possível, digamos, que episódios da recente história dos Estados Unidos, como os casos Watergate ou Pentagon Papers, uma vez trazidos à tona por um órgão de imprensa, não fossem repercutidos pelos demais. Lacônicos os botões respondem: aqui, no Brazil-zil-zil, a aposta se dá na ignorância, na parvoíce, na credulidade da plateia.

A mídia nativa segue a produzir seus estrondosos silêncios. Mas o Brasil é outro. Foto: Michelangelo. Século XVI. Afresco

Ou, por outra: a mídia nativa empenha-se até o ridículo pela felicidade da minoria, e com isso não hesita em lançar uma sombra de primarismo troglodita, de primeva indigência mental, sobre a nação em peso. Não sei até que ponto os barões midiáticos e seus sabujos percebem as mudanças pelas quais o País passa, ou se fingem não perceber, na esperança até ontem certeza de que nada acontece se não for noticiado por seus jornalões, revistonas, canais de tevê, ondas radiofônicas.

Mudanças, contudo, se dão, e estão longe de serem superficiais. Para ficar neste específico episódio gerado pelo Escândalo Serra, o novo rumo, e nem tão novo, se exprime nas reações dos blogueiros mais respeitáveis e de milhões de navegantes da internet, na venda extraordinária de um livro que já é best seller e na demanda de milhares de leitores a pressionarem as livrarias onde a obra esgotou. A editora cuida febrilmente da reimpressão. Este é um fato, e se houver um Vale de Josaphat para o jornalismo (?) brasileiro barões e sabujos terão de explicar também por que não o registraram, até para contestá-lo.

Quero ir um pouco além da resposta dos botões, e de pronto tropeço em -duas razões para o costumeiro silêncio ensurdecedor da mídia nativa. A primeira é tradição desse pseudojornalismo arcaico: não se repercutem informações publicadas pela concorrência mesmo que se trate do assassínio do arquiduque, príncipe herdeiro. Tanto mais quando saem nas páginas impressas por quem não fala a língua dos vetustos donos do poder e até ousa remar contracorrente. A segunda razão é o próprio José Serra e o tucanato em peso. Ali, ai de quem mexe, é a reserva moral do País.

Estranho percurso o do ex-governador e candidato derrotado duas vezes em eleições presidenciais, assim como é o de outra ave misteriosa, Fernando Henrique Cardoso, representativos um e outro de um típico esquerdismo à moda. Impávidos, descambaram para a pior direita, esta também à moda, ou seja, talhada sob medida -para um país- que não passou pela Revolução Francesa. Donde, de alguns pontos de -vista, atado à Idade Média. O movimento de leste para oeste é oportunista, cevado na falta de crença.

Não cabe mais o pasmo, Serra e FHC tornaram-se heróis do reacionarismo verde-amarelo, São Paulo na vanguarda. Estive recentemente em Salvador para participar de um evento ao qual compareceram Jaques Wagner, Eduardo Campos e Cid Gomes, governadores em um Nordeste hoje em nítido progresso. Enxergo-o como o ex-fundão redimido por uma leva crescente de cidadãos cada vez mais conscientes das -suas possibilidades e do acerto de suas escolhas eleitorais. Disse eu por lá que São Paulo é o estado mais reacionário da Federação, choveram sobre mim os insultos de inúmeros navegantes paulistas.

Haverá motivos para definir mais claramente o conservadorismo retrógado de marca paulista? E de onde saem Folha e Estadão, e Veja e IstoÉ, fontes do besteirol burguesote, sempre inclinados à omissão da verdade factual, embora tão dedicados à defesa do que chamam de liberdade de imprensa? Quanto às Organizações Globo e seus órgãos de comunicação, apresso-me a lhes conferir a cidadania honorária de São Paulo, totalmente merecida.


PS Boêmios no Divã: ainda relativo a esta temática, quem se interessar pode acompanhar as impressões de um olhar de fora: veja quais foram as opiniões do filósofo Alain de Botton, em sua recente visita ao Brasil, sobre o país, e, especificamente, São Paulo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Tô chocada

Lendo Privataria Tucana. É estarrecedor. Detalhado. Absurdante.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Cadê?

Ali Kamel, Willian Bonner, Fátima Bernardes, Renato Machado, Alexandre Garcia, Noblat, Boechat, Joelmir Beting, Boris Casoy, Merval Pereira, Lúcia Hippólito, Urubóloga Míriam Leitão, Carlos Alberto Sardenberg, Josias de Souza, Clóvis Rossi, Eliane Catanhede, Fernando Rodrigues, Renata Lo Prete, Cony, Xexéo, Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Lauro Jardim... e, last but not least, Srs. Ministro da Justiça Zé Eduardo Cardozo e Procurador-geral da República Gurgel:

Cadê vocês?

Porque, se forem genuínas, as evidências e provas do maior crime praticado contra os brasileiros estão aqui, no best-seller do ano:


E aí? Ninguém fala nada? Ninguém vai indiciar ninguém?

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Comendo com Sam Cooke

Sam Cooke

Acho que o Sam Cooke não é lembrado com a frequência - e contundência - que mereceria.

Em vez de me desculpar pelo mau trocadilho no título, quero reforçar a ideia exatamente por este caminho para propor um teste. Para quem conhece ou não, goste ou não de Sam Cooke.

No almoço de domingo com toda a família, ou no jantar a dois no sábado, ponha o bicho na vitrola. Nem que seja a virtual, do iutúbe. Se aprecia cozinhar, experimente ouvi-lo enquanto pica umas cenouras ou confere se o molho fumega a contento. Se é mais da turma da mesa do que da do fogão, experimente saboreá-lo com um belo tinto - ou um espumante, escolha talvez mais apropriada para estas épocas úmidas e tépidas - enquanto se prepara para a refeição.

Cabe aqui o aviso de amigo: apesar de bom, não espere nada de outro mundo. Nas canções de Cooke, há empolgação, melancolia, esperança, tristeza, beleza... tudo o que seu paladar provavelmente conhece ou já experimentou.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Mais um show

Barça e Real Madrid, ontem. Isso que é futebol, não essa porcaria que aqui nos impingem.

A cada dia, descubro que sou Barcelona desde criancinha.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O livro mostra, o silêncio fala


O Edu Guimarães, do blog da Cidadania, matou a charada. O silêncio esmagador, unânime e completo da imprensa "independente" - Abril (Veja), Globo (portal, Época, JN, O Globo), Folha de S. Paulo, Estadão e similares - é de uma eloquência, eu diria, atroz.

Tudo por conta do lançamento - apenas coberto por Carta Capital - do livro-bomba: Privataria Tucana, do reporter Amaury Ribeiro Jr., uma verdadeira reportagem investigativa, fartamente documentada, que mostra como nós, povo brasileiro, fomos criminosamente assaltados com as privatizações do patrimônio público.

Gente, o silêncio dessa cambada é simples como juntar lé com cré. E tem nome: cumplicidade.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sócrates

Ainda meio chateado com a partida do Doutor. Nunca o considerei um colunista de escol - mas era um desses cidadãos necessários e imprescindíveis. Um time que sempre se ressente da falta de cada um de seus integrantes. Ao contrário dos adversários - verdadeira hidra de canalhas e idiotas onde a ausência de um logo é preenchida com a reposição de outro.

Com tanto porqueira por aí que poderia ter ir pro chuveiro mais cedo...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Emblema da minha geração

Designers de plantão: tô a fim de fazer uma camiseta com os dizeres: "82 forévis" e sair usando por aí.

Depois de pensar bem, aquela Seleção na Espanha talvez tenha sido o último momento em que jogadores tinham espírito, cabeça e bola, representando a verdadeira escola brasileira de jogar futebol. Algo que dava prazer assistir, vibrar e torcer.

Nada disso que está aí.

Derrota ou vitória, não importa. 82 é um símbolo. Símbolo do que eu, como apreciador de futebol, gostaria de ver outra vez.

Por esse símbolo, visto a camisa.

domingo, 4 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Destin: Paris

Do site Viajeaqui:

Tudo o que contam sobre Paris é verdade. Poucos lugares do planeta marcam um antes e um depois tão claro na vida de quem a visita. Habitada por 2,3 milhões de pessoas – sem contar a zona metropolitana –, a capital da França não foi presenteada com uma geografia que a diferenciasse especialmente por sua beleza natural, como o Rio de Janeiro ou Veneza, por exemplo. Mas seu conjunto arquitetônico deslumbrante, o charme de suas ruas e avenidas e seus imponentes monumentos lembram o turista a todo momento que ele está diante de parte do melhor que o ser humano foi capaz de construir – e preservar. Restringindo-se ou não ao clássico circuito Louvre-Torre Eiffell-Arco do Triunfo-Champs Elysées, a pé, de metrô ou de bicicleta, o que não falta é local bonito para conhecer – tanto para notívagos quanto para quem acorda cedo, como ressalta Adriana, a personagem de Marion Cotillard em Midnight in Paris, filme de Woody Allen que celebra as maravilhas da cidade. Paris tem muita informação em cada esquina, cada pequeno café, cada impecável bulevar. Uma quantidade de atrativos que se equipara à sua riqueza humana, fazendo do encontro entre o multiculturalismo dos milhões de imigrantes e o orgulho e a elegância dos parisienses um programa imperdível por si só.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Afobação

Vamos a Paris. Começou de novo a necessidade de economizar, juntar tudo quanto é níquel perdido nos bolsos das calças; colher as informações sobre o destino; apreender noções elementares de francês para ao menos ter condições de tartamudear (Meg, que domina o idioma, e sempre naquele espírito motivante e incentivador, outro dia me disse que, cada vez que falo algo em francês, Moliére morre um pouco);descobrir um lugar que se aju$te ao que queremos; conexões e transportes; passes para museus; seguros de viagem; possibilidade de passeios bate-volta; etc.

Simbora?


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Olho nesse time


É preciso ficar de olho aberto. Eis a seleção da grana, convocada pelo nefasto Dom Ricardo Teixeira: o empresário J. Havilla, Luciano Huck, o empresário José Victor Oliva, Galvão Bueno, Ronaldo Fenômeno e André Sanchez. Só a fina flor.

No momento, gostaria de declarar que torço mais pelo Romário Futebol Clube na Câmara dos deputados em Brasília do que o Ronaldo-amiguinho-da-Globo no COL.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Solidários

Eu tô querendo fazer a minha parte. Assim que vi uma promoção de uma companhia aérea, decidi deixar para trás todos os planos de reforma da casa, toda a segurança orçamentária, toda a prudência financeira. Poupar pra quê? Bora ajudar quem mais precisa.

Eu tô querendo fazer a minha parte e dar uma modestíssima contribuição ao bloco econômico europeu em crise - no caso, a França, coitada, que já dá sinais de alarme - e me submeter ao sacrifício de passar pelo menos duas semanas em Paris com Meg. Eu sei, um fardo terrível nesse momento, mas solidariedade não escolhe horas.

Só falta convencer a Meg. Ajudem-me, compadres e comadres, a apelar para seu espírito humanitário.

Obrigado.




quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Uma corrente diferente


Durante os recentes protestos no Egito contra a junta militar que governa o país, uma cena de solidariedade: manifestantes cristãos protegem os muçulmanos, enquanto realizam suas orações diárias. (Fonte: bikyamasr.com)

Subscrevo

Do João Ubaldo:

"A essa altura, eu escrevo porque não tenho outro jeito. Eu me convenci de que escrever é a única coisa que sei fazer e de que tenho alguma coisa para dizer. Numa entrevista à Libération, depois de ter pensado muito, cheguei à conclusão de que escrevo porque quero; porque, no fundo, o meu escrever é reduzível a isto; não a um ato voluntarista, mas a um ato de decisão, um aspecto do livre-arbítrio. Você tem aquela vocação, você tem de deliberar uma hora na vida o que é que você vai fazer. Existe um velho verso em português (que não é assim mas a expressão ficou): ‘Não se pode passar pela vida em brancas nuvens’, sem ter feito nada. Então, eu escrevo por isso, para não passar pela vida em brancas nuvens".


Do Millôr:

“Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava. Pergunta feita a todos os escritores, desde o princípio dos tempos, antes mesmo da invenção da escrita: Por que você escreve? E eu respondo.

Imitando o dito popular dipsomaníaco: “Bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comia” atribuído a todo mundo porque não é de ninguém (provavelmente foi dito pelo primeiro bêbado), eu esclareço: “Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava”. Nunca procurei, pleiteei, um emprego na vida. Quando vi me pagavam pelo que eu batia à maquina (é, já havia a máquina datilográfica, sucessora gloriosa da caneta-tinteiro, substituta da caneta, do tinteiro e do mata-borrão!!! Por pouco não peguei a pena de ganso) e muito até. Dava pra pagar a pensão, pelos versinhos gloriosos das GAROTAS do Alceu, quem quiser saber o que é, ou era, isso, que pesquise. Ia escrevendo, e o que saia, vendia. Ás vezes já maluco, psicodélico, contestatório, surrealista. Tudo, naturalmente, sem saber.”



terça-feira, 22 de novembro de 2011

É nóis

Uma vez li Verissimo parafraseando John Updike: "E nem sabíamos que éramos uma geração".

Hoje, a respeito de uma canção de mais vinte anos de idade no youtube, pela primeira vez eu li alguém dizer: - "Queria era ter vivido nos anos 80". Depois praguejou contra as bandas que fazem a cabeça da moçadinha de hoje, como Restart.

Percorrendo o mesmo ciclo, toda época tem um índio com saudade de tudo que ainda não viu.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nomes para gatos

Parece que o cabra não tem o que fazer; mas só parece. A quem interessar possa, segue um abecê de sugestões pra batizar os bichanos - ainda que, quando você os chama, eles só respondam quando querem.

Nomes para gatos:

Avatar

Barão (Bibelô)

Chewbacca

Dilma

Etc

Fuzuê (Figa)

Gatorade

Habib´s

Ímpar

Jedi

Kill Bill

Lennon

Mustache

Nietzsche (Neca de Pitibiriba)

Ohm

Peruca

Quarup

Ragnarok (Ruffles)

Sonic

Tilt

Ukla

Vil (Vip)

Xerox

Wally

Yupi

Zeta (Zanga)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Dá-lhe, Mino!

Mino Carta

Editorial

18.11.2011 10:20

Uma comparação e suas lições

As seis capas que ilustram esta página contam uma história de várias lições, ou morais. As seis são o rosto de semanais de informação publicadas ao mesmo tempo no fim da semana passada, quatro de revistas brasileiras, uma britânica, outra americana. Estas duas últimas são de repercussão mundial. Time é o incunábulo dos news magazines do planeta todo. Fundada em 1923, provocou o nascimento da Newsweek dez anos depois e influenciou todas as demais publicações do gênero continentes afora. The Economist, com a qual CartaCapitalmantém honrosa parceria, é tida há tempo a semanal mais importante do mundo.

The Economist

Time

Três capas focalizam o mesmo assunto e estampam a imagem da mesma personagem, simbólica da crise econômica e financeira que a ninguém poupa em qualquer latitude e longitude, o premier italiano Silvio Berlusconi finalmente derrubado em um lampejo de senso comum. The Economist, Time e CartaCapital coincidem na mira da informação prioritária, se quiserem na apreensão a respeito do destino de todos. Em oposição, Veja, Época e IstoÉ parecem editadas, nem digo em outro planeta, em outra galáxia.

Desde as primeiras conversas entre dois universitários americanos, Henry Luce e Britton Hadden, empenhados em levar a cabo o projeto da pioneira Time, ficou assentado o propósito de iluminar os leitores ao lhes oferecer o resumo dos fatos da semana devidamente analisados e hierarquizados em ordem decrescente ao sabor da sua influência sobre a vida do mundo e de cada cidadão. Na semana passada, The Economist, Time e CartaCapital foram fiéis ao legado. Veja, Época e IstoÉ prontificaram-se a participar de um capítulo especial de Jornada nas Estrelas. Não são deste mundo, com o risco de que o Brazil-zil-zil também não seja, ao menos aquele da chamada classe média à qual se refere Veja na sua capa. O que vem a ser, exatamente, de limites nítidos, a classe média nativa não sei.

Época

IstoÉ

Sei dos herdeiros da casa-grande e dos seus capatazes, de uma minoria de ricaços estabelecidos em rincões esfuziantes na imitação de Abu Dabi e de um largo número de cidadãos que gostariam de lhes seguir os passos. Sei também que esta classe média habilita-se a achar graça no mulherão Pereirão e a digerir outras lições de infatigável alienação pontualmente ministradas.

Veja

CartaCapital

Em termos de civilização, classe média significa, no bem e no mal, conhecimento, ideias, crenças. Cultura. Classe média é o burguês na acepção política e representa, na Europa, por exemplo, a porção mais conspícua de uma população também em termos numéricos. Não era, é óbvio, quando fez a Revolução Francesa, mesmo assim foi decisiva para vincar o tempo e dar início oficial à Modernidade. A nossa classe média, em boa parte, e tanto mais em São Paulo, o estado mais reacionário da federação, ainda mantém ligações com a Idade Média, com a inestimável contribuição da mídia nativa, inclusive de semanais nascidas com outros, nobres, republicanos intuitos.

Se recordo a Veja que tive a honra de dirigir à testa da equipe fundadora, experimento um forte abalo entre o fígado e a alma. Precipitado também por uma constatação: o jornalismo brasileiro, entre o imediato pós-guerra e o golpe de 64, foi bem melhor do que o atual, se não no conteúdo pelo menos na forma, e mesmo durante a ditadura algumas publicações souberam ter momentos de grande dignidade. Na convicção de que as tiragens fermentam ao baixar o nível de sorte a secundar a parvoíce do público, com o pronto respaldo da publicidade mais abundante, acabou por enredar-se em suas próprias artimanhas e os profissionais, salvo notáveis exceções, assumiram o estágio intelectual inicialmente atribuído aos seus leitores.

Costuma-se dizer que Deus é brasileiro, não somos porém o povo eleito, enquanto o Brasil é uma terra prometida que por ora não merecemos. E a classe que haveria de ditar rumos, salvo raros oásis de sabedoria e boa visão da vida e do mundo, gosta de viver de aparência, de consumir em desvario, de cultivar alegremente sua ignorância.