quinta-feira, 30 de abril de 2009

Enquanto isso, em algum ponto periférico do sistema solar...

Qual o sentido de tudo? Por que fazemos o que fazemos? Por que intuo que jamais saberemos a resposta? É verdade que só o outro é que pode dar algum sentido à vida? Sem o outro não há sentido possível? Por que estamos - inevitavelmente - sozinhos? O que vou fazer com o tempo que me resta? Tudo está determinado? Possuo livre-arbítrio? Ou tudo o que tenho é o momento presente?

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- Iconoclasta? 
Simpatizante.   

- Em que você acredita? 
Tenho um pé no agnosticismo e outro no ceticismo. 

- Religioso, então?  
Não. Heresiarca de carteirinha e marxista groucho.   

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Gostaria de escrever um conto. Que terminasse assim:

- Oi. Vim por um sorriso.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Tentações

Abobrinha fatiada com macarrão ao forno, regada a solução de tablete de bacon, queijo, creme de leite, temperinhos, filé de frango como arremate: almocinho quebra-galho no meio de semana, de improviso com o que a despensa oferecia.

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Outras Inquisições, Livro de Areia, Discussões: o curioso (desconfio que o eterno) em Borges é uma fortuita capacidade de estranhar - sem falar da máxima elegância da prosa. Mesmo na releitura, lê-se certos contos como se fosse a primeira vez.

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A Wilde se atribui o "Resisto a tudo, menos a uma tentação".

Ora, na dureza dos tempos, é auto-sabotagem ir a livrarias, bancas e congêneres com o cartão de débito ou crédito. O perigo aumenta consideravelmente se não se está à procura de nada específico. 

Há sempre aquele lançamento, aquele autor em que você bóia mas que adoraria mergulhar, além daquelas dezenas de títulos que você, necessariamente, não precisa. Mas que, assim que botou os olhos, descobriu que sempre os desejou.

Desta vez , não fui forte. Sucumbi, entre outras publicações indignas de registro, ao Variedades da Experiência Científica - Uma visão pessoal da busca por Deus, coletânea organizada pela viúva Ann Druyan de um ciclo de palestras do Carl Sagan, em Glasgow, 1985.

Mas suportei, não sem tremor e arranques de vai-e-volta, ao impulso de adquirir a Coleção Arquivinhos do Nelson. Em preço promocional! A do Vinicius não tinha; ainda bem, senão seria fatal. Foi melhor, sobretudo porque no site da editora está ainda mais em conta.

Eu deveria era terminar a leitura das cinco ou seis edições que, como tudo na vida, requerem o meu tempo. 

terça-feira, 28 de abril de 2009

Sogros

E a efeméride de hoje: dia da sogra. 

Minha sogrinha é uma delicadeza. Fina, divertida, com uma risada gostosa e um sotaque português encantador. 

Grande D. Zezinha.

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Certa feita, tive um sogro, descendente de italianos, de inclinações racistas - conforme a namorada de então, em elogiável sinceridade, revelara. 

Na minha presença, nunca foi de falar nada do gênero. Mas era de uma falta de sorrisos realmente admirável. Eu ficava um pouco desconcertado junto a ele. Mas, depois, deixei de me importar. 

Ele havia implicado com meus lábios grossos. Beiços de negro, talvez dissesse. E o incomodava, certamente, ter sua adorável filhinha recebendo os beijos dessa bocarra. 

Em sua opinião, eu não era para ela.

Ora, nisso ele estava coberto de razão. 

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Não temos um dia do sogro? E, acima de tudo, do genro?

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Houve uma vez: minha mãe, já desquitada, foi cortejada por um senhor cuja filha eu namorava. Já pensou se mãe se casa com o meu sogro? Uia, ia dar uma confusão dos diabos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Vexame

Ser atleticano é um estado perene de miséria (penso que a frase já configura um oxímoro).

Sempre nesse baile entre a comédia e o trágico; um rodopio atrás do outro, como uma bailarina de caixinha.

Nada vai mudar, a menos que retirem do clube até o último idiota. 

Tenho mais de três décadas e nunca vi no Atlético um armador admirável. Gostaria que houvesse pelo menos um. Um craque, um pensante.

Que recolhesse a bola das próprias redes e a pusesse no centro do campo, tal qual um Didi; e que dardejasse, em seu duro semblante, a cada companheiro de equipe, a certeza infernal:

- Vamos lá, moçada. Não há nada de errado que a gente não possa consertar com os próprios pés.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

B.A.

Estou me encharcando de informações sobre Buenos Aires. Não sei se vou, se não vou. De qualquer maneira, es mucha cosa e poco tiempo. 

Aceito dicas.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Pra brasileiro ver

Outro 4 x 4; outro jogaço; futebol jogado pra frente, sem medo e sem brucutus no meio de campo; três times na fase derradeira do campeonato interclubes mais categórico, valorizado e prestigiado do mundo. E a velha Albion só não enfiou mais um nas semifinais porque houve eliminação entre dois deles nas quartas.

Manchester United, Liverpool, Chelsea, Arsenal. Os ingleses reinventam o futebol. E nós aqui. 

Pode até o Barça levar o caneco dessa Champions League, mas não importa. Uma locomotiva britânica em alta velocidade está passando, e a gente perdendo o bonde da história. Nessa estrada seguimos a pé - ou de carona com Dungas, Josués, Felipes, Gilbertos e seus respectivos dedões.

O Florentino de SJ Del Rey

Leio sobre o 21 de abril em Ouro Preto. Às câmeras e teleobjetivas presentes se reservou registrar os acordes das violas e o lustro das insígnias; um pouco além, entretanto, a menos de um quilômetro,  rangiam-se os dentes em meio aos distintivos. 

Houve um fortíssimo esquema de segurança que impediu que cerca de mil manifestantes, distribuídos em vinte e um ônibus, participassem da solenidade. Além das revistas, intimidações e cerceamentos, quem foi barrado afirmou ter se tratado do maior cordão de isolamento da história do evento.

Exagero ou não, Aécio parece seguir mesmo a cartilha. Aposto que O Príncipe e A arte da Guerra são seus livros de cabeceira.

Pílulas

O feriado se encerrou com Gomorra: uma chatice. 

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Pensei numa nova modalidade de evento gastrocultural: o Comida de Motel. Tal qual seu irmão mais velho Comida di Buteco, consistiria na criação de pratos com ingredientes preferencialmente afrodisíacos e picantes, fesceninamente decorados como poderiam soliciar as circunstâncias.

Mais informações: rubão.ideias.com.

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Na festa, Meg dá conselhos para a adolescente que recém-descobre o calor e fragor de paixonites por rapazinhos maravilhosos e mega-populares:

-  Menina, esse negócio de ter namorado bonito não está com nada

Com um leve sorriso de interrogação, olhei para a Paixão da Minha Vida. Mas ela não percebeu e continuou:

- O importante é que ele seja inteligente, engraçado e divertido!

A pequena assentiu, impressionada. E imediatamente seu olhar pueril deixou Minha Amada Imortal para me perscrutar com uma expressão que eu definiria entre a incredulidade e a admiração. 

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Lula é pop

Quem diria: o Lula em South Park. Um episódio no qual as autoridades mundiais tentam evitar um incidente diplomático com uma civilização alienígena. Bom, só falta agora uma ponta nos Simpsons, uma camiseta tipo "Che" de Albert Korda e um design fotográfico a la Shepard Fairey (aquele da campanha do Obama).

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Pintou uma discussão aqui na agência. Dois nós. O primeiro: a propósito de brincar com o Dia das Mães, defendi que é do conhecimento de todos o uso popular de que "mãe é tudo igual", "vêm da mesma fábrica" (eu usaria como pretexto no job pra falar o contrário). O segundo: disse que comida japonesa é, praticamente, tudo igual (claro, grosso modo, compreendo as exceções de praxe, fusion style, etc). 

Em ambos, a colega designer travou, refutou, discordou, disse que eu me equivocara. 

Ok. Não sou senão um vago admirador, mal sei manejar aqueles palitos, mas digam-me: comida japonesa é ou não é tudo igual?  

Dirá você também que não? Então tá, gourmet. Gostaria de fazer um teste cego (quem é de Belzonte entende as referências): ponho à mesa um sushi do Rokkon, um do Kei e outro do supermercado Verdemar e quero ver neguinho saber qual é de qual.

Moleza: se a designer aqui da agência consegue...

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Hoje tive que passar a manhã em casa para esperar reparo da linha telefônica (muda) e internet (inoperante) e vim trabalhar só à tarde.

A disposição é outra! 

Puxa, por que será que a gente trabalha tanto, hein? Por que tanta pressa? Por que tanta gana? Pra que tanta ansiedade, tanta produção? Que será que a gente ganha no fim seguindo cordeiramente a ditadura das horas? Por que não trabalhar só meio-período, diminuir os dias úteis e aumentar os ociosos, por que os chefes do mundo inteiro não páram num concílio planetário on line e decretam que a partir de então será assim em todos os países?

Sei lá você, mas na calmaria, sem a opressão da pressa, dá até pra achar prazer em pendurar no varal as próprias cuecas.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Já existe

Nem por troça a gente acha um troço pra ganhar a vida. 

Na brincadeira despretensiosa de abrirmos o próprio negócio, Meguinha e eu fantasiamos utopias variadas. A mais recente, de ontem à noite, foi um bar-biblioteca, ou algo do gênero.

Não adianta. O que você pensar, já foi feito. 

No fim, não era mesmo para gente. 

Cedo iríamos à falência: temos menos perfil de proprietários do que de clientes.



Amadeu

Dizem por aí que o seu Amadeu, do sebo mais famoso de Beagá, morreu.

Menino, lembro que saía do colégio ao lado e ia lá comprar na mão dele as peripécias do detetive Hercule Poirot e seu leal parceirinho capitão Hastings.

Dizem por aí que o seu Amadeu morreu. 

Morreu, não: virou página.

Inadimplência

Querem cancelar minha carteirinha do Boêmios Recreativo Clube. Pelas ausências, faltas, adiamentos. 

De fato, não estou dando conta de conciliar os compromissos. Devo, não nego; bebo quando puder.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Páscoa

Atravessei uma Páscoa mui agradável com Doc and the Little Angels. 

Espero que a de vocês tenha sido ótima como a minha: dormir até tarde. Cafés-da-manhã esmerados. Almoços deliciosos, menos elogiados do que realmente mereciam. Boas conversas, jogos e filmes, nas companhias amabilíssimas do cunhado e dos sogros. 

Aliás, na casa dos pais da Doutora - onde, me parece, não se tem o hábito de beber - havia desta vez cerveja de sobra à nossa espera, dúzias de latinhas, vários "fardos", como diz o cunhado. Há melhor maneira de encantar um incorrigível boêmio? 

Como é muito o pouco que a gente precisa pra ser feliz.

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Pra completar, nosso domingo de chocolate terminou com Milk. O filme é bom, e acho que todo enredo de injustiça, seja sobre minorias ou sobre apenas um indivíduo, te pega, te prende. Faça uma revisão rápida aí na sua memória e veja se não há um bocado de histórias que você gosta que são assim.

Sean Penn está muito bem como o ativista, talvez tenha merecido o Oscar. A Doutora comenta: 
- Ele faz o gay no ponto certo, sem exagero.  

Eu digo que, se quisesse, poderia fazer melhor. Ela duvida. Diz que sou estereotipado e caricatural. Ok.

Amicas, phinas e divas queridíssimas: me a-guar-dem. 



quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bernbach

Diz o sumo pontífice do advertising:

“When we started our agency, we had in mind precisely the kind of people we wanted with
us. There were two requirements: You had to be talented and you had to be nice. If you
were nice but without talent, we were very sorry, but you just wouldn’t do. We had to ‘make
it.’ And only great talent would help us do that. If you were a great talent, but not a nice
person, we had no hesitation in saying ‘No.’ Life is too short to sacrifice so much of it, to
living with a bastard.”

The question is: who am I? The nice guy without talent? The bad-ass? Or just a bastard? 

Quando olho para os lados, vejo que tenho trinta e quatro estagnados anos e me pergunto porque não consigo ter forças para NÃO continuar assim. 

O que você realmente chama de sucesso? "Sucesso" é uma régua que se mede diferente para cada um?  Seja qual for a escala, na soma dos sonhos, desejos e necessidades, deve ser o que te faça feliz, menos insatisfeito mais vezes por dia, semana, mês. 

Se uma pessoa não está satisfeita, o natural não seria eliminar a fonte de insatisfação e resolver o problema? Que tanto se protela? Que sentido há em adiar e adiar as coisas? Mais: será que você é mesmo tudo aquilo que você um dia pensou? Será que não chegou a hora de parar de se enganar?  

Ou se põe rédeas nas próprias expectativas ou se cavalga na indulgência. Parece atualmente, a única escolha a que me digno.

“You’ve got to believe in your product ... you’ve got to believe in your work. Only a deep
belief will generate the vitality and energy that give life to your work.”

Acrescentaria algo mais a acreditar.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Preferências & Rabugices

Eu, publicamente, nunca falo "eu, particularmente".

A pior gestão de trânsito do Brasil

Sidney Lopes/EM/D.A Press

A BHTrans é pra mim o que a Scorpius é para o 007: uma organização de gênios do mal que quer dominar o mundo.

BH é só o começo. O objetivo é o caos mundial via trânsito. 

Como no poema de Shelley - não a Mary, o Percy: "Look on my Works, ye Mighty, and despair!"




Sarro

E essa, agora. Na reunião do G20, Obama apontando Lula para outros líderes mundiais e dizendo: "Esse é o cara! Eu adoro esse cara!".
Teve mais: "O político mais popular da Terra" e "É porque ele é boa pinta". 

É um pândego, esse Barack.

Esse é o cara?

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Os The Boemios

Nostalgia à parte, que é da natureza de qualquer geração, venho notando no Iútubi um crescimento significativo dos vídeos contendo músicas doo-wop e apresentações dos anos 50. Há comentários, gente de todas as idades, de velhinhos de 70 a adolescentes de 14, elogiando o ritmo, dizendo que música era aquilo, etc, etc.

Será possível? 

Mas, como no universo voraz da pós-modernidade tudo é cíclico, não me surpreenderia se a qualquer momento astuciosos homens de marketing detectassem nas entrelinhas um filão ainda não esgotado e resolvessem trazer novamente à tona o doo-wop, então repaginado e adaptado para os dias atuais, influenciando assim a produção musical, artística, industrial e fashion e lucrando um bom dinheirinho com isso - é claro. 

Talvez não seja pra agora, nesses dias de Índia. Mas, moçada! Boêmios! Se Shiva quiser, vamos afinar desde já nosso conjunto pra garantir a boquinha. 

Dia dos bobos

Mentir chega a ser inofensivo, cotidiano, banal. Dia da Mentira não faz sentido. Qual o valor? Qual a verdadeira efeméride de um dia da mentira, se todo dia todo mundo mente? 

Perigoso, revolucionário mesmo, ia ser a instituição do Dia da Verdade. Vinte e quatro utópicas horas em que todos os homens  se comprometeriam a dizer a verdade, nada menos. 

Acho que o mundo iria ao holocausto.

A verdade liberta e dói. A mentira aprisiona e fere.

Minto: a mentira é o analgésico de uma dor de verdade.