quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Reflexões em uma loja de brinquedos

A princípio, parece trivial: menino gosta de carrinhos, menina gosta de bonecas, reza a cultura popular - isso todo mundo sabe e eu também. Mas, ai de mim, a verdade é que a questão me angustiava há dias. O problema, caros amigos, é o de sempre: a vontade de impressionar já levou mais de um homem à perdição.

Porque me perguntava: “- Puxa, Zé Rubens. Quer dizer que você vai mesmo dar à menina uma simples boneca? Que falta de imaginação, meu caro! Que falta de sensibilidade! Pense num presente original, diferente, divertido! Ora, uma boneca? Venhamos, mas não convenhamos!”

Então, começou assim meu delírio. Nesse martírio particular, eu queria causar boa impressão não só na aniversariante de seis anos - a principal interessada e beneficiária na história toda - mas era preciso também agradar a irmãzinha mais velha e encantar a mãe - por acaso, a minha namorada.

Na tenra idade de seis anos, boneca é escolha segura, pensei. Mas nada é tão simples nessa vida, pois logo atinei que a decisão foi se tornando gradualmente mais complexa a partir do momento que deixei os corredores do shopping grã-fino para entrar no maravilhoso cosmos mágico e sedutor de uma loja de brinquedos. Lá, concluí, com alguma rapidez, que certamente há menos estrelas no firmamento do que bonecas na Terra ou, mais especificamente, na loja de brinquedos do shopping.

Já esteve numa roça à noite, ou numa praia deserta, e mirou estupefato o céu noturno, com o olhar bêbado e ziguezagueante diante de tantos brilhos, tantas estrelas? Assim meus olhos se perdiam, aleatoriamente consumindo as informações daquela constelação de bonecas - algumas de intensa magnitude, outras de primeira grandeza, muitas minúsculas, enfim, um universo róseo em diferentes tons e matizes, onde o alienígena, ali, era eu.

Muito bem. Que levar? Barbie, escolha clássica. Mas, peraí. A mãe pode achar ruim, considerando que uma loura magrela e estereotipada não seja o melhor dos exemplos. Você próprio discorda desse tipo de proposta de boneca Barbie, clones e assemelhadas, que parecem representar uma certa frivolidade, símbolos e índices de valores “modernos” um tanto quanto questionáveis.

E aquela boneca careca, grande, tipo bebezão? Hmm, melhor não. Embora o sentimento maternal possa ser atávico nas mulheres, e praticamente todas as meninas brincam de casinha ou imaginam algum tipo de reconstrução familiar. Será que isso é tão inato ou nós, adultos, nós, sociedade, estimulamos e infundimos desde cedo em nossas menininhas esse sentido da maternidade, do acolhimento, do cuidado?

De repente, comecei a reparar brinquedos e bonecas em contextos estranhos. Esquisitei a quantidade de coisas que levam as meninas a brincar de cozinha, a fazer compras no supermercado, a ter uma caixa registradora de sacolão, a trocar de figurino no esquema “colecione quantas roupas diferentes puder, quanto mais você tiver, melhor”, a se maquiar e se empetecar com os mais diferentes apetrechos, lápis, batons, rouges, pós, brincos, colares, tiaras - o escambau.

Meio zonzo, parti para seção de jogos - o que, secretamente, era o que eu de fato gostaria de dar. Porque aí a gente poderia participar, interagir também, e acho que isso é importante para a criança. Vários me pareceram boa opção, mas acabei desistindo de um por um.

Achava uns jogos bem legais, mas caros demais, e aí meu orçamento não dava; outros, algo baratos, e eu não queria a mãe me adivinhando pão-duro e a lindinha me olhando com cara de quem chupou jiló depois de desembrulhar o presente.

Alguns me pareciam perfeitos, no preço e na bacanice. O que atrapalhava é que, tendo apenas cinco anos e uma irmã de oito como companheira, nossa heroína - que não é, digamos, dada a laivos de espírito esportivo e bom humor quando perde (saiu à mãe) - costuma se complicar em disputas que exijam um pouco mais de habilidade fina e coordenação motora.

Blocos alfabéticos? Seria interessante, eu marcaria pontos, provavelmente. A menina está em fase de alfabetização e você, todo consciencioso, investindo na aprendizagem e desenvolvimento intelectual da florzinha. Só que pensei: ô presente maçante! Se fosse criança e não soubesse ler, você ia querer ganhar blocos alfabéticos ou um sabre de luz? Pior que isso, só dar roupa de aniversário. Roupa de menino é muito legal, algumas parecem mesmo irresistíveis, mas só para os adultos; no meu jeito infantil de ver o mundo, a gente gosta mesmo é de brinquedo.

Pistolas e brinquedos com balões d’água? Acho legal, mas arriscado; a mãe pode não gostar, e, depois, pode dar briga entre as pequenas e, você, acusado de ser a causa da confusão.

Jogos de tabuleiro? Grande parte, inadequada para a idade dela.

Bichos de pelúcia? Fora de cogitação. Esqueceu da rinite alérgica da pobrezinha?

Acabou que, no fim, espero ter feito uma boa escolha.

Que, para uma garotinha prestes a fazer seis anos de vida, seja apenas um brinquedo, um brinquedo simples e singelo de criança. E não um veículo de mensagens subliminares capitalistas, perniciosas e fúteis para menores, como as que nós, adultos paranóicos, costumamos criar, entender ou enxergar.

Ou seja: me rendi às bonecas. Pensando bem, sempre fui refém delas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Comprar presentes nunca foi o meu forte...

Tomara que ela goste!

Anônimo disse...

Compra um SHRUBBERY. Ni!
Abs

Anônimo disse...

Como assim eu perdi e não vi qual foi "a grande escolha"??? Não me perdôo!
Pelo menos a blusinha que eu escolhi ela já usou no dia mesmo.

Beijos

Anônimo disse...

Como assim eu perdi e não vi qual foi "a grande escolha"??? Não me perdôo!
Pelo menos a blusinha que eu escolhi ela já usou no dia mesmo.

Beijos

Anônimo disse...

Adoro comprar presente pra criança... passo horas na loja brincando... o q eu mais gostei de brincar e o que acho q vai dar pra gente brincar juntos... levo... a... não pode ser barulhento... se não os pais não deixam brincar...
Acho q nunca errei na compra...
Pergunte ao meu sobrinho... hehehe!!!

Rubão disse...

Sandrinha, Letícia!
Bem-vindas ao blog! Voltem sempre.
Acabei comprando uma boneca da Chiquititas - mas era da temporada passada e eu nem sabia. Mas acho que a Bibi gostou.
Beijos,
r