É batata. Toda vez que pai me liga, estou num bar. Já nem sei o que dizer. Nada, talvez, posto que o bicho sente o barulho da agitação noturna e lança a pergunta capciosa - pois desnecessária. Adivinho-lhe discando os botões do celular já fazendo caso do meu paradeiro.
Fico a imaginar-lhe os pensamentos. Conjurará ele algum arrependimento? Ou atrevirá um sentimento de sabedoria maior, de finitude da vida, de Gibran? Não sei. Mas, assim o intuo, tem o pendor do perdão.
Digo essas coisas porque tem uma mesa de bar que está pela hora. Ah, mesa que me é cara. Nela me encontro e me encontrei; nela me perco e me perdi. Ah, faço coro como nos espetáculos. Mais um! Mais um! Mais uma!
Ah, a moça que serve essa mesa... vós não o sabeis. Não há, em toda a latitude, tanto amor. Tanto carinho. Não há, vos asseguro, tanta dor e beleza e tristeza e alegria em um só sorriso. Num só lance de olhar. Deus, com que descaro me aproveito da cegueira dos homens!
Mas, não fosse essa idiotia generalizada, essa cegueira insensata, essa insensibilidade conveniente, jamais talvez teria eu uma cadeira disponível. Sento à mesa sem saber se fui convidado; isso importa menos que o prazer com que compartilho seus predicados. E me sinto em casa, e me sinto homem, e me sinto irmão.
Pai. Quando ligares, eu, teu filho, continuarei pelos bares. Porém, espero, à mesa que me cabe.
Um comentário:
Obrigada pela preferência!
Servimos bem para servir sempre.
Sente-se, fique à vontade.
Uma cerveja ou trago o cardápio?
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