Cuidados
Ou, talvez, ele ainda tenha só 34 anos e precise de cuidados.
Ele até sabe tomar banho sozinho (há quem duvide!); mas, às vezes, pede que a namorada lhe dê banho e esfregue as costas.
Sabe escolher as próprias roupas e vestir/despir/tirar/trocar. Mas o resultado invariavelmente é pífio, e quer que a namorada o ajude em cada etapa.
Come sozinho e é bom de garfo. Mas não dispensa, ou melhor, se enternece quando a mulher voluntariamente se oferece para dar uma colherada na sua boquinha, do próprio prato dela. Ele já tem 34 anos, mas ainda pede por cuidados da namorada.
Certamente não por preguiça, nem por ciúmes de ninguém, nem por querer controlar a namorada. Talvez, porque precise mesmo.
Ou porque, simplesmente, gosta de ser cuidado.
Gosta de receber beijinhos quando estão abraçadinhos na mesa de bar, no sofá, seja onde for.
Gosta dos pés esquentando pés enquanto dormem juntos. E da massagem que a namorada lhe concede quando esfrega suas costas nas horas mais íntimas.
E eu me subtraio e não lhe exijo os cuidados que já poderia dispensar um menino de 34 anos. Porque também pressinto os dias em que o acesso ao meu corpinho será negado às mãos dela, pois este corpinho terá conjugado o infinito verbo do tempo. E hei de querer me pentear sozinho porque terei apenas cãs, não mais o cabelo negro e basto para o deslizar de seus dedos. E vou me encher de pudores perante o corpo que já se modifica e não me deixarei vestir ou despir ou calçar. E não terá volta.
Aproveito o quanto posso, enquanto posso, pois sou um menino de 34 anos e já posso fazer tudo sozinho. Mas a dádiva de um cuidado da mulher é eterno.