Hotel Windsor, Flamengo.
- “Serviço de quarto! Foi daqui que pediram uma boca gostosa, carnuda e suculenta de Belo Horizonte?”
Um sorriso abriu a porta. E me apresentou o double de luxo a custo de standard.
Da nossa janela vinham os burburinhos urbanos. Ecos da via onde, pouco à frente, ficavam os fundos do Palácio do Catete. Era sexta-feira à noite, hora de luzes velozes e vozes que andam.
Lembrei-me de Nelson: “sexta-feira é o dia em que a virtude prevarica”.
No entanto, preciso dizer. No quarto, tudo era a cama. A maior que já pude me derramar.
Sem sombra de dúvida. A cama era exageradamente grande, o suficiente para caber várias camadas de nós. Com o característico espírito de pobre, calculei que seria preciso ser dono de tecelaria para dar conta de cobrir aquele latifúndio de lençóis.
Ancorei o corpo fatigado de viagem por alguns momentos no colchão hipermacio. Mas não procedia: o tempo era um fator. Fomos para a Lapa.
Deixamos o carro no estacionamento e pegamos um táxi para que eu pudesse beber. Era pertinho, chegamos logo. Ainda assim, o motorista do táxi arredondou o custo da corrida e me levou o troco.
A Lapa é uma fauna. Um zôo de gentes de classes sociais, estilos pessoais, opções sexuais, idades, profissões e países diferentes. E, agora, com um estrangeiro a mais. A linda já havia conhecido o bairro em um samba de véspera.
Pessoas nas ruas, pessoas nas calçadas, pessoas nos bares lotados. Gente dependurada até no lustre (Nelson não me saía da cabeça). Conversas diversas, buzinas de carros e ritmos se aglutinavam numa estranha harmonia musical. Havia uma calma palpável nas ruas confusas e barulhentas. Na balbúrdia da Lapa, as pessoas se mostravam seguras.
No segundo bar da noite, sentamos em uma cantina que tinha uma roda de samba e pagode. Tomamos nossos chopes, trocamos nossos afagos. A noite foi boa, embora não tanto como deveria. Cansaço me ocupava.
De volta ao hotel, me senti tungado outra vez no táxi. Decidi, de mim pra mim, que, da próxima vez, exigiria troco.
A porta do 537 se abriu, e lá estava a cama. Um desmesurado e convidativo banquete de colchas, mantas e travesseiros.
Minha primeira noite no Rio. Cumprimos nossas obrigações boêmias e civis para com a Lapa em clima de boa vontade e denodo. O relógio nos dizia: já passa das três. O Palácio do Catete estava mudo.
Depois de alguns minutos, conseguimos nos encontrar naquele colchão gigante, King Momo-size. Abraçado à linda, deitei em berço esplêndido. Poderia ter sido eternamente.
5 comentários:
Esse seu jeito de escrever me atrai tanto! Quero outros capítulos dessa história. Com sua descrição, o Rio fica ainda mais fascinante.
Um dia eu podia ganhar um prêmio como sua leitora nº 1!!!
Oi! Olha, o Rio é mesmo encantador! que beleza de cidade, né?!
E nem é aquela doidera toda que pintam na tv, dá pra andar pelas ruas, afinal as precisam viver, não é mesmo?!
E eu acho que vou concorrer com a Nanda ai de cima, a ser sua leitora n° 2!!!
Abraço, Érika.
Vocês duas: obrigado pelo carinho, mas parem com isso. Nanda tem laços consagüineos; portanto, um juízo sob suspeição, embora mereça um prêmio de qualquer maneira e por qualquer coisa que se queira imaginar, menos por ler este blog. Desta forma, Érika, com a vaga em aberto, o título de leitora nº1 poderia ser seu, mas - ahá! - pra isso, você talvez teria que se entender com uma certa doutora...
hahaha!
Bjs,
r
PS Tem conversado com o bebê? O que ele achou do Rio?
Oi! Converso muito com o bebê sim! e as vezes me sinto meio bobona, sabe?! Mas, acho que o sentimento de mãe babona que eu vou ser começa a aflorar...rsrsrsr
Eu sou apenas uma leitora e fã número 1 de vc e da Doutora! Vcs me isnpiram sempre a ser uma pessoa melhor! Ah! E fico muito feliz em ser amiga de uma casal tão bacana! Abraço, Érika.
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