quarta-feira, 30 de julho de 2008

Parabéns

Sempre achei fazer aniversário um negócio complicado. É uma enxurrada de sentimentos contraditórios. O dos outros, ótimo: festa, bagunça, beleza, animação, farra - jóia. Mas quando é comigo, não raro me dá complexo de avestruz.
Não chego à misantropia, não. Mas é que me embaraça receber carinhos, cumprimentos, agrados de todos os tipos. Me deixa sem-graça, sem fala, sem atitude. Ou melhor, eu é que sinto deixar sempre a impressão que não queria, a fala que eu não gostaria de dizer, a parvoíce na expressão do corpo e o jeito de jeca na cara.
Também não creio ser timidez, aquela a que o Verissimo aludiu uma vez, dizendo que os ultratímidos são, na verdade, os mais exibidos ou carentes de elogio. Nah. O que incomoda mesmo em todo aniversário é eu ter que ficar nu, ter que trazer à tona e revelar um sentimento que eu não sei lidar, o de não merecer o carinho, a dedicação, o sacrifício que as pessoas ao meu redor ora me concedem. A vergonha de todo ano ter que tirar lá das profundezas essa tristeza só minha, certa ou errada, feia, estranha e inata, como um balde que a gente puxa de dentro do poço e vê que a água que sobe é turva e barrenta e que, de uma forma ou de outra, você se trai e acaba por mostrar às pessoas por cada gesto de ternura que recebe. Então, desenterrar essa melancolia me constrange, me dá dor, me dá medo de decepcionar quem eu jamais deveria e, no entanto, por mais que eu não queira, é exatamente o que acontece.

Aniversário. Passa, mas deixa ele. Um dia eu não faço mais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Rubão,

Aniversariar é bom demais.
Essa comemoração deveria ser diária principalmente quando gozamos de saúde e temos amigos para festejar conosco.
Já pensou o quanto você é importante e faz essas essas pessoas felizes com a sua companhia?
Então, vamos festejar a vida!

Rubão disse...

Ok, mãe. Já passou.
Tem uma canção que diz assim:
"Smile for a while and let's be jolly
Love shouldn't be so melancholy
Come along and share the good times while we can "

bj
r

Anônimo disse...

Bão,
cê sabe que também não gosto? Essa timidez que nos impede de abrir largamente os braços e receber todos os abraços - e beijos - que nos querem dar?
Mas tem um adendo: excluindo pai, mãe (quem os têm) e irmãos, que gravitam o nosso universo e nos querem muito e de graça, aqueles outros que a vida nos trás pra perto e anotam na agenda o nosso aniversário e fazem questar de aparecer/ligar/cobrar os bebes, esses a gente esconde a lágrima teimosa e fica agradecido pro resto da vida.
Parabéns pra você. Parabéns e obrigado pra quem se lembrou de você.
A. None Moh.