quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Vergonha, vergonha

Há pouco vazou o vídeo com evidências de corrupção e propina entre o Legislativo, Executivo, Ministério Público e Tribunal de Justiça do governo do MS.

Parece que a PF já investiga o caso. Os parlamentares e o governador são do PSDB.

Vou ao portal Globo. Nada da notícia.

Vou ao jornal O Globo. Nada.

Vou à Veja. Nada.

No Estadão e na Folha, há manchetes.


Nenhuma menção ao partido ou a nomes, numa manchete de baixa hierarquia na composição da página e sem links adicionais. Ah, se fosse coisa do PT!

Na Folha, um pouquinho mais de sordidez:


Novamente, sem mencionar partido ou nomes. Mas reparo no uso do termo - "mensalão", sobretudo contextualizado na página com as outras manchetes de "denúncias" sobre Dilma, Lula, etc.

Curioso reparar também que, na matéria da Folha, não se salienta em nenhum momento o detalhe que o governador do Estado, o tal Puccineli, tem o mesmo sobrenome do desembargador que responde pela idoneidade do (supostamente favorecido) Tribunal de Justiça.

Volto à página pra buscar o link e publicar aqui, o que encontro?

Retiraram a página do ar!

Cortaram quase tudo. Encurtaram matéria com este trecho que acabo de citar. Deixou de ser matéria pra virar uma nota.

Aqui, a matéria completa.

Aqui, o que agora está no ar.

* * *

Isso não é jornalismo.

Vergonha, vergonha.

* * *
Recomendo, com força, a leitura diária do Tijolaço.

5 comentários:

Ricardo Chácara disse...

Ei, curiosidade mesmo....Qual a diferença entre matéria e nota?? numero de linhas escritas? Profundidade do tema? Esclareça ai por favor. Valeu

Rubão disse...

A princípio, sim, Cardo. Nota é uma pequena notícia ou comentário. Matéria tem o caráter de reportagem, um texto jornalístico tentando expor, contextualizar e explicar os fatos, incluindo entrevistas, etc.

No caso, fica claro a linha política/partidária da Folha. Quanto menos informação a respeito de um episódio que, teoricamente, prejudique o PSDB e, por conseguinte, respingue na candidatura do Serra, melhor. O raciocínio contrário vale para PT/Lula/Dilma. Se possível, o ideal é repercutir a informação, como o fazem a respeito das matérias da revista Carta Capital sobre o Aécio pretender deixar o partido (informação de caráter enfraquecedor contra o PSDB e a campanha Serra) ou a Verônica Serra ter tido acesso ao sigilo bancário de milhões, num contrato suspeito com o BC durante o governo Efe Agá.

Isso não é jornalismo. Jornalismo é não ter amigos. É doa a quem doer. O jornal, ou meio de comunicação, declarar seu voto ou inclinação política é uma grande demonstração de espírito democrático, porque coloca publicamente à prova sua credibilidade. Dá ao leitor a chance de pensar criticamente sobre a informação que absorve, filtrando as notícias porque está ciente de que aquele determinado jornal é pró ou contra determinadas figuras ou princípios.

Não é este o caso da Folha, que se declara apartidária, por mais que as manchetes e editoriais escancarem o óbvio.

E o que vimos, no episódio em questão? Eu tenho uma tese.

Jornalista, fazendo seu trabalho, cumprindo seu papel. Deu a notícia completa, embora tendenciosa na manchete e pegando leve no conteúdo, já que se tratava de envolvidos do PSDB, inclusive com o flagrante de não escrever a suspeitíssima curiosidade: o sobrenome do governador do MS e do desembargador que diz não haver nada de errado é o mesmo. Nenhuma nota adicional explicativa a respeito.

Muito bem. Ainda assim, vai a matéria publicada online. Por que cargas d´água então ela some de uma hora para outra e vira apenas uma nota com rala informação?

Pra mim, algum editor chegou por trás do cara, deu uma batidinha no ombro do "colega" e falou: - Isso aí, não. Tira, corta, suprime.

Ora, mas se pipocam "escândalos" de gente do PT por todos os lados, se até o passado do pai da Dilma foram fuçar, se até - numa das maiores barrigas da história jornalística - disseram que "falha da Dilma na tarifa social da energia elétrica deu prejuízo de 1 bi" quando o negócio todo foi resultado da gestão FH, se levantam dúvidas sobre a lisura da atuação de Dilma no RS quando ela ainda estava no PDT, por que então não dar também destaque à notícia de suposta corrupção de políticos do PSDB no Mato Grosso do Sul?

Pô, não dá pra ser leviano para os dois lados, não?

Não. Folha. Não dá pra mais ler.

Rubão disse...

Errata: ..." se possível, o ideal é NÃO repercutir a informação que lhes interessa, como o fazem..."

Leo disse...

E o pior é que agora tá na boca do Serra um discursinho sem vergonha de defesa de quem? Do PIG. Putz. O descaro é grande. Depois dessa atuação vergonhosa desse "jornalismo", e com a justa reclamação por parte dos prejudicados, vem o vampiro dizer que a imprensa enfrenta chantagem, bradando o velho lenga lenga da (falsa) liberdade de imprensa. Há.

Rubão disse...

Leo, se tudo correr bem dia 4, o Serra ainda vai ser imolado pelo próprio PIG que hoje defende. Triste fim para triste figura.

Aliás, depois de ver hoje a entrevista ao Bom Dia Brasil, sei não...

Fiquei com a impressão de que a patota da Globo meio que já tá dando tudo como perdido e deram um temperinho na carne. O churrasco vai ser depois.