terça-feira, 30 de setembro de 2008

Dever de casa

Considere ralar no trampo o dia inteiro e, ao chegar em casa, em vez de namorar, ver um filme, ler um livro, fazer alguma atividade física ou simplesmente se deixar à toa para sossegar mente e corpo, você submete o Teófilo Otoni à cadeira do computador e engendra planejamentos, busca dados, cruza informações, constrói extensos raciocínios para questões desapaixonadamente enfadonhas?

A inequívoca realidade de nunca ter sido professor me confere plena autoridade para a seguinte sentença: como é chato o dever do Dever de Casa!

É compreensível que ele integre o processo de aprendizagem, que o professor não disponha de um lote de horas-aula suficientemente razoável ou razoavelmente suficiente, e que determinadas tarefas e trabalhos exijam profundidade, reflexão, pesquisa e solitude.

Mas, pombas! Se tal é verdade, o é sobretudo para crianças e adolescentes de todas as idades; que não trabalham e que vivem para o estudo. Já mulas manhosas e de ferradura lisa, como eu, a carroça canta diferente.

Dever de casa, bah. Quero meu direito de rua.

(Esclarecimento: pra mim, a quem Trabalha & Estuda cabe a obrigação de se sair bem. A quem só estuda ou vagabundeia, a obrigação é cabal, ainda maior).

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Espetáculo


Brumadinho, Centro de Arte Contemporânea.

De tudo que vi em Inhotim, o que mais me impressionou foi o que ouvi.

Pedestres, circundamos uma trinca de fuscas de cores primárias e entremeadas, perfilados como a aguardar um tiro de largada que jamais acontecerá; antropólogos, retratramos uma cultura de populares de fibra de vidro que emergia das paredes externas numa súbita tridimensionalidade; exploradores, transpusemos a grande porta giratória para então penetrar nos mistérios de um amplo salão branco, onde quarenta caixas acústicas vigiavam o centro de um círculo imaginário.

A princípio, não sabíamos o que esperar - pelo menos, eu não sabia. Lícito imaginar: abajures e bidês amalgamados no teto como cascatas luminosas de uma delirante metáfora visual; um piano de cordas sitiado pelas próprias teclas de marfim e ébano, num intricado motim de dominós; a figura absorta de um símio debruçado entre galhos de uma árvore, mastigando fêmures humanos ao invés de frutos. Não sei; tão embotados estamos pelo capricho de esquadrinhar e decodificar o mundo pelos olhos que jamais pensei que o sentido avocado primeiro seria a audição.

É preciso contar que a obra se chama Forty Part Motet; sua autora, a canadense Janett Cardiff; e a peça musical que velejava por quatro dezenas de canais de áudio, Spem in alium numquam habui.

Me fiz andarilho por entre as caixas de som. Cada uma delas, uma voz; cada uma delas, uma personalidade. Em algumas, o surpreendente silêncio; e, mesmo ali, encontrava-se voz; o silêncio não era ausência, o silêncio era alma. Como em cortejo, percorri a circunferência no sentido horário e, ainda antes de deslindar o arco de um diâmetro, senti a vergonha de estar chorando.

Quanto aos demais visitantes, ignoro; desejei não encontrar qualquer outro olhar. A doutora, que caminhava à frente, virou-se de repente. Sorriu; e então aparou gotas traidoras com dedos gentis. Devagar retraí o rosto pelo carinho que julguei demasiado suportar: meu constrangimento crescia.

Qual o quê, deixei as caixas de som e meu amor para trás rumo ao ponto onde convergia toda a densidade musical, o núcleo onde se consumava a totalidade dos cantos. Ali, onde o espírito bailava entre a leveza mais pura e a gravidade assustadora, experimentei a imperiosa necessidade de me abdicar da visão; a visão me cegava. Cerrei a luz e me deixei levar.

Quarenta vozes me preencheram, como se meu corpo fosse casca vazia; quarenta vozes procuraram meus ossos como se meu corpo fosse uma alameda de buganvílias em ânsia; quarenta vozes inundaram meu corpo, como se fosse uma frágil jarra de barro.

Entrei cambaleante num estado de êxtase de tristeza e beleza reunidas, inseparáveis como estrelas de um terrível sistema binário. Era forasteiro em um reino onde apenas o pranto fala. Lá, onde só as lágrimas escrevem, todas as palavras são mudas.

Subverti o tempo. Naquele instante, sem o saber, soube que a Spem in alium atribuíram uma irrupção de "transcendência" e "humildade"; que a sinfonia fora composta como presente de aniversário para a Rainha Elizabeth I; que a gravação era do coro da Catedral de Salisbury.

Nada disso importava. Compreendi que o sublime não comporta descrições.

Este relato falível e impreciso não pode ser tomado à guisa de recomendação ou advertência, visto que cada homem descobre, no interior de sua vastidão, onde gritam as próprias carnes. Mas, meu amigo fosse, e acaso perguntasse sobre Inhotim, caberia dizer sem medo: - Vá. Pode ir de olhos fechados.

E de ouvidos abertos.

Newman



Com Paul Newman, morre um pouco a elegância da ironia e do humor cínico; de um jeito de resolver as coisas mais pelo vigor do cérebro do que pela força dos bíceps; do anti-herói sedutor e arguto que o tempo e a idade se encarregam de, quase imperceptivelmente, romantizar; enfim, vai evanescendo ainda mais o halo de um tipo de carisma em obsolescência na Hollywood de cruises, aflecks e willies.

Pra mim, fica a cena congelada de um dos meus filmes prediletos. Pause pra Newman. E play pra gente.

Vamo nessa, moçada, que a vida lá fora tá assim de boliviano.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Cafezinho de jacu


Lembra daquele filme recente do Jack Nicholson e Morgan Freeman - acho que se chama isso - Bucket List? Fraquinho, né? Ok.
Doentes terminais, os coroas desenganados resolvem seguir uma listinha de coisas a fazer antes de bater o cartão de saída. Salvo engano, a piada final era sobre um café supremo, havido como o melhor e mais caro do planeta: Kopi Luwak, produzido a partir de grãos selecionados das fezes de uma espécie de gambá asiático - o tal Luwak (Paradoxurus hermaphroditus).

Não, faça você o trocadilho.

Mas eis que o brasileiro é um povo engenhosíssimo. Na ausência do bichinho em nosso florão da América, os bravos cafeicultores tupiniquins resolveram catar o café, assim processado, do glorioso jacu: aí está o nacionalíssmo Jacu Bird Coffe, oito contos a xicrinha em SP.

Ô povo iluminado. Diante dessa maravilhosa capacidade inventiva de adaptar e se adaptar a tudo, e com a perspectiva de uma fauna gigante pela própria natureza, as possibilidades são infindas. Como duvidar?

Entrementes, esse é um mundo complexo, cada vez mais. "Hmmmm. Mas esse café tá uma merda!" nunca mais terá o mesmo significado de antes.


Para saber mais: aqui. Aqui tamém.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Programas

Em cartaz, neste fim de semana:

Sexta: saidinha básica para matar a sede de vadiagem. Touché!

Sabadinho com frio de serra em Casa Branca com a Doutora. Ueeba!

Domingo, ressaca cultural no Inhotim. Enfim!

Apelidos

Curioso. Por circunstâncias diversas, faz cerca de um mês que não saio com os compadres para a cervejinha de mei de semana - a famigerada Terça Brokeback, assim denominada pela esposa de um deles. E não estou sentindo tanta falta assim.

Pode ser por um monte de cousas. Cerveja zero álcool, muito trabalho, idade (?), entre outras. Sinto estar mais sossegado, embora continue achando moleza ficar acordado noite adentro. Ainda assim, não deixo de tomar uma geladinha em ambiente doméstico, sempre que posso. O hábito faz o bêbado.

Ultimamente, não tenho chegado baqueado no trabalho nem na pós-graduação. Outro dia alguns colegas disseram que me ouviram soltar um arroto no meio da aula. Calúnia. Emito grunhidos estranhos, mas nada que implique algo a sair pela porta da frente ou despejado pela porta dos fundos. Quem trabalha comigo sabe. Na ocasião, eu não soltei nem ouvi nada sendo solto, mas fiquei com a alcunha de Garoto Arroto assim mesmo.

Apelido por apelido, prefiro boêmio. Embora meu copo tenha andado meio vazio para justificar o apodo.

Procura-se sócio

- Investidor para abertura de uma cadeia de loja de placebos. O produto seria o mesmo, em cápsulas ou oral - apenas em embalagens com design específico para cada segmento e subsegmentos: dores, beleza e estética e unha encravada.

- Boutique para virgens. Desde que virou moda os teens ostentarem a castidade como forma de distinção social, pode ser bom negócio. Pra não perder tempo, podemos começar a criar agora mesmo as linhas Primavera Pudor e Pureza Verão. Notei a tendência de mercado ao ler "Ídolos pop levantam a bandeira da virgindade e fãs adotam 'anel da pureza' ", lembrando que o Kaká casou virgem e uma atriz aí que fez pornô e continua cabaça. O único problema é que iremos perder os clientes à medida que o tempo corre. É aquela história: ficam os dedos, vão-se os anéis.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

O inferno são os outros

Outro trecho discutido no cursinho de Mr. Charles Watson. Que me lembrou uma vez de ter pensado que nada, nada que eu faça nessa vida, tem sentido se não for o outro.

Paul Valéry: No cerne do pensamento de um estudioso ou de um artista _ mesmo aquele mais absorto em sua busca, que parece totalmente encerrado em sua própria esfera, deparado com aquilo que existe de mais íntimo e mais impessoal _ está presente uma estranha intuição com relação às reações externas a serem provocadas pelo trabalho em curso: é difícil para um homem estar só.

O efeito desta presença pode sempre ser percebido, sem medo de erro, mas ele pode estar subtilmente atrelado a outros fatores do trabalho, às vezes tão bem disfarçados, que se torna impossível isolá-lo.

Contudo, sabemos que o verdadeiro significado de uma determinada escolha ou de um determinado esforço, por parte do criador, muitas vezes está fora do trabalho em si, e é o resultado de uma preocupação mais ou menos consciente com relação ao efeito a ser produzido e suas conseqüências para seu produtor. Assim, enquanto voltada para o trabalho, a mente vai e volta constantemente do Self ao Outro; o que ela produz de mais íntimo é modificado por uma estranha conscientização do julgamento dos outros. Portanto, em nossas reflexões sobre um trabalho, podemos assumir uma ou outra destas duas atitudes mutuamente exclusivas. Se temos a intenção de prosseguir dentro de toda a austeridade que o assunto nos impõe, devemos estabelecer uma cuidadosa distinção entre investigar a criação de um trabalho e estudar a produção de seu valor, isto é, os efeitos que tal trabalho poderá produzir aqui e acolá, em tal e tal cabeça, neste ou naquele tempo. Para demonstrar este ponto, é suficiente reparar que aquilo que podemos realmente conhecer, ou pensamos saber, em qualquer domínio, não é senão aquilo que podemos observar ou fazer, nós mesmos, e que é possível juntar em uma mesma condição, e na mesma atenção, a observação da mente que produz um determinado valor no trabalho. Nenhum olho é capaz de observar estas duas funções imediatamente; produtor e consumidor são dois sistemas essencialmente separados. O trabalho para um é o destino, para o outro a origem do desenvolvimento, o que, dependendo da interpretação, pode causar estranheza.

Devemos então concluir que qualquer julgamento que envolva uma relação de três termos, entre produtor, trabalho e consumidor––e julgamentos deste tipo não são raros em criticismo–– é um julgamento ilusório, que não pode fazer qualquer sentido e que é imediatamente destruído pela menor reflexão. Só podemos considerar a relação de um trabalho com seu produtor, ou então, uma vez pronto, a sua relação com aquele a quem ele afeta. A ação do primeiro e a reação do segundo não podem jamais se encontrar. A idéia que um tem do trabalho é incompatível com a do outro.

Daí surgirem freqüentemente surpresas, algumas das quais são vantajosas. Existem erros que são criativos. Existem muitos efeitos –– e dentre eles os mais poderosos –– que requerem a ausência de qualquer correspondência direta entre as duas atividades em questão. Um determinado trabalho, por exemplo, é o fruto de uma longa luta; ele carrega consigo um grande número de tentativas, repetições, rejeições e opções. Ele exigiu meses ou até anos de reflexão, e pode mesmo pressupor a experiência e as realizações de toda uma vida. Entretanto, o efeito deste trabalho pode levar não mais do que alguns minutos para se fazer ver. Um olhar de relance poderá ser suficiente para se apreciar um monumento considerável, para se sentir seu impacto. Em duas horas, todos os cálculos do trágico poeta, todo o tempo gasto em ordenar os efeitos de sua peça, formatando cada linha, uma por uma; ou então, todas as combinações harmônicas e orquestrais criadas pelo compositor; ou todas meditações de um filósofo, os longos anos que dedicou a moderar, controlar, refrear seu pensamento, até que pudesse perceber e aceitar sua ordem definitiva, todos estes atos de fé, todos estes atos de opção, todas estas transações mentais finalmente atingem o estagio de trabalho concluído, to golpear, maravilhar, deslumbrar ou desconcertar a mente do Outro, que, de repente, torna-se sujeito ao arrebatamento desta enorme carga de trabalho intelectual. Tudo isto cria um ato desproporcional."

Fome de arte

Um dos trechos discutidos no cursinho com Mr. Charles Watson. De autoria de Henry Miller.

"Uma grande obra de arte, se alcança algum resultado, serve para nos relembrar ou, digamos, nos pôr a sonhar com tudo o que é fluido e intangível. Ou seja, o Universo. Ela não pode ser compreendida; pode apenas ser aceita ou recusada. Se é aceita, nos revitalizamos; se é recusada, somos diminuídos. O que quer que pretenda ser, ela não é: é sempre algo a mais, e sobre ela nunca se dará a última palavra. Ela é tudo o que colocamos nela devido à fome daquilo que negamos a cada dia de nossas vidas. Se aceitássemos a nós mesmos tão completamente, a obra de arte, ou melhor, todo o mundo da arte morreria de subnutrição."

H M

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sonho

Hoje, sonhei que fui com meus dois chefes visitar um cliente. E fui pelado, peladão. Acho que eu não estava nem aí. Meus chefes engoliram em seco, calaram-se, fingindo normalidade. O cliente também.
Quando voltamos pra agência (eu ainda pelado) e comuniquei o ocorrido aos colegas, falei: acho que os chefes não vão deixar barato. Aí um deles ouviu e disse: - Não vamos mesmo. Abriu a carta de demissão, assinou ali mesmo na frente de todos. Assustadíssimo, porém orgulhosíssimo, assinei também. Sem emitir um pio.

domingo, 21 de setembro de 2008

Never explain, never apologize

Os leitores e leitoras do blog - posso contar esse exclusivíssimo número de privilegiados nos dedos das mãos - que procurem coisa melhor pra ler (moleza, moleza) por estes dias. Enredado nos trabalhos da pós-graduação e da agência, as já exíguas células cinzentas não conseguem mais produzir um único pensamento coerente com tempo disponível; sem tempo, então, o cenário é trágico, uma aridez mental de três desertos.

Pensem por mim.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Já bui baiz rezisdende a gribes e viroses. Esdi anu tá divízil.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Eu sabia

Foi só meus amigos botarem o pé nos Estados Unidos. Embarcaram segunda-feira passada para um passeio em Orlando. Desde então, as catástrofes se precipitam. O Banco Lehman Brothers faliu, a seguradora AIG patina, bolsas em queda na América, Europa e Ásia. O espectro da crise financeira assombra os mercados de todo o mundo.

Falo nada.

Ecológicas

De rabo de olho, vi uma questão da prova que a gataça ia aplicar. Algo como distinguir entre biocenose, taxocenose e guilda.

Na pressa, ela não quis ou não pôde me dizer exatamente o que significavam.

Nunca estudei biologia, fiz curso técnico e praticamente não tive a matéria. Considero as aulas de ciências no ginásio e o primeiro ano de biologia no CEFET falíveis e insuficientes. Fraquíssimos, primários, diria.

No cursinho pré-vestibular, havia Biologia I, II e III. Com todo o resto das disciplinas para estudar, e aterrorizado diante de todo o bioconteúdo(ali, nem sendo dado, e sim revisto, de forma sintética e esquemática, embora para mim fosse a primeira vez), comecei a entrar em colapso. E, com quatro ou cinco meses de cursinho, parei de assistir às aulas de biologia. A I, a II e a III também. Seja o que Deus quiser, pensei, e de alguma maneira ele quis que eu fosse aprovado nos quatro vestibulares que fiz, sabe-se Ele como.

Voltando à questão. Segundo as buscas internéticas, a biocenose (ou comunidade biótica) de um ecossistema é constituída pelo conjunto de populações interdependentes que vivem no mesmo local, num determinado período de tempo, que se relacionam entre si e que dependem dos mesmos factores físico-químicos do meio.

Taxocenose - embora o prefixo indique o significado, esse deu mais trabalhinho. Taxocenose, dizia, refere-se à caracterização de comunidade. Aparentemente e salvo enganos, é um grupo de espécies com identidade taxionômica (reino, filo, classe...) que não possui similaridade em suas distribuições geográficas ou papéis ecológicos. Tal caracterização varia segundo os objetivos pretendidos e pode obedecer a critérios taxionômicos, funcionais e morfofisionômicos.

Já Guildas podem ser definidas como “um grupo de espécies que explora a mesma classe de recursos ambientais de modo similar e que mostra padrões semelhantes de exploração de recursos” (Root, 1967), ou, em outras palavras, são grupos de organismos que têm maneiras semelhantes para sobreviver. Uma guilda pressupõe identidade taxionômica de seus componentes.

Nada como uma parceira biológica que colabora para a erradicação da ignorância alheia e eleva seu conhecimento a patamares insuspeitados.

Certo, Meguilda?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Jornada

Passei o dia esponjando informação.

Um safári virtual, com incursões de sorrate entre as savanas da blogosfera.

Foi a trabalho.

Todavia, fácil-fácil seria a passeio.

O que me leva a pensar: Não seremos todos, atualmente, infocoletores seriais?

Hmmm, talvez não.

Minha memória, por exemplo, não é zôo. Há pouco espaço aqui para acomodar mais do que uma dúzia de espécies (das pequenas, que se comportem em gaiolas).

Por isso, se ora capturo, solto logo em seguida. Sou, no máximo, um voyeur deitado nessa rede.

De binóculo na mão.

Já para os infohunters, imagino, tudo são presas.

Enfim. Para sua informação, a jornada prossegue amanhã.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Elementar, meu caro

Curso O Processo Criativo, com o escocês Charles Watson.

Foi rapidinho mas foi gostoso.

Muito interessante, este Mr. Watson. Figurinha.

Não estou mais criativo, mas tenho agora novas perspectivas para pesquisa sobre figurões das artes e ciências.

Pra aumentar o metro quadrado de superficialidade da minha cultura. Afinal, é patente que a maioria dos publicitários só sabe falar cerca de quinze segundos sobre qualquer assunto.

Este que vos fala não é diferente. Deu pra você ler este texto em 15 s ou meu tempo acab----

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Fórmulas

Frustração profissional + bolso vazio = ranger de dentes.
Frustração profissional x burrice contaminante = desânimo.
Caraminguás minguantes / débitos crescentes = desespero.
Frustração profissional + (apatia x mediocridade) = desamparo.
Burrice contaminante + dia-a-dia = tédio.

Não importa quantas variáveis tenha o sistema. O pior é saber onde está o verdadeiro busílis da questão. E deixar, ir deixando, a equação sem acerto. Sem resposta.

Ah, tivesse uma função condizente com meus desejos, que delineasse uma curva que fosse "a" guinada na minha vida.

Abdicaria dessas parábolas tolas.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

E a bobagem internética de hoje vai para...

Create your own manga avatar!



Aqui, você versão mangá.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cidades ilustres

Transitando aí entre as estantes das livrarias ou pelas esquinas do ciberespaço, já topou com a coleção Cidades Ilustradas, da Ed. Casa XXI? A proposta é convidar um artista, desenhista ou ilustrador para apresentar uma perspectiva pessoal sobre cidades brasileiras, intercalando a arte com algum tipo de narrativa.



Se presta, não sei; mas certas representações ficaram belíssimas, cada qual em seu estilo. As edições de Salvador e de Porto Alegre me impressionaram mais; Belém, menos, e Belo Horizonte ficou demasiadamente bonitinha, corretinha, caretinha - sei lá, carecia mais paixão. Será a que a cidade e a população são em parte responsáveis por esse efeito no artista?



Talvez sim. Há quem pense diferente, por certo. Porém, BH e todos os seus significados e pertences simbólicos estão mais para uma pintura apaixonante que você expõe na parede do seu hall ou para aquele quadro do qual você meio que se envergonha e deposita num canto empoeirado de garagem? Uma cidade surreal? Impressionante ou impressionista? Pós-contemporânea ou mixórdia?

Seja o que for, me aguarde no centro da alameda principal da Praça da Liberdade. Dê dez passos para trás e monte seu cavalete. Quando eu contar até três, saque seus pincéis.


PS. As edições se encontram disponíveis para download no site da editora. Penso em dar essa dica à amável sogrinha, que recentemente passou alegre semana em companhia dos irmãos soteropolitanos.

ESCUTATÓRIA

Rubem Alves


Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil. Parafraseio Alberto Caiero: "Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma".

Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos... Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos. Contou-me de sua experiência com os índios. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.

Aí, de repente, alguém se pronuncia. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro expôs seus pensamentos que ele julgava essenciais. São estranhos.

É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades: Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria dizer quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado". Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou". Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião. Não basta o silêncio de fora. É preciso o silêncio de dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio de dentro, começa-se a ouvir mensagens que não se ouvia antes.

Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. A comunhão acontece quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Flores


“Num grão de areia ver um mundo/ Na flor silvestre a celeste amplidão/ Segura o infinito em sua mão/ E a eternidade num segundo.”
William Blake

"What if you slept?And what if, in you sleep, you dreamed?And what if, in your dream, you went to Heavenand there plucked a rare and beautiful flower?And what if, when you awoke, you had the flower in your hand?Ah, what then?"
Coleridge

"Bem no fundo do sonho estão os sonhos.
A cada Noite quero perder-me nas águas obscuras
Que lavam o dia, mas sob essas puras
Águas que nos concedem o penúltimo
Nada Pulsa na hora cinza o obsceno portento.
Pode ser um espelho com meu rosto distinto,
Pode ser a crescente prisão de um labirinto
Ou um jardim. O pesadelo sempre atento.
Seu horror não é deste mundo. Causa inominada
Alcança-me desde ontem de mito e de neblina;
A imagem detestada perdura na retina
A infama a vigília como a sombra infamada.
Por que brota de mim, quando o corpo repousa
E a alma fica só, esta insensata rosa?"
Borges

Férias

Ando desejoso. Aliás, quem não as deseja?

Só talvez o digníssimo Rodrigão, que vive os meses de férias e tira alguns dias de trabalho por ano. Imagino que, em certas ocasiões, ainda que raras, deva sentir a nostalgia de estar no escritório, desempenhando diligentemente suas funções, superando seus objetivos e metas no Paciência ou Tetris e conquistando cada vez mais a admiração dos colegas.

Trabalha, Rubens. Se preguiça desse dinheiro, poderias ficar milionário. Tens estoques e estoques do produto.

Quem precisa de redator, afinal? É fato, todos sabem escrever. E a tecnologia está aí para substituir o homem. Que dirá o homo scriptum, ora.

Por exemplo. Creio que seria tranqüilamente compreensível me permitir uma folguinha e deixar esse programa gerador de textos em meu lugar. Certo, ele é bem específico - tão-somente para os filmes da Sessão da Tarde -, mas, nessa era tecnotudo, o que não pode ser adaptado, aperfeiçoado, 2.0? As possibilidades, amigo, são infindas. Ainda mais para essa atividadezinha chumbrega de araque que é a de pilhar letras (nenão, Braguinha?).

Mais uma dica da dona das miçangas.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Tá osso

Prazos, prazos, prazos. Compromissos simultâneos, jobs extras, decisões adiadas, leituras atrasadas, contas a pagar, milhões de informações e conteúdos pra processar na caixola.

Taí, cabra. Hora de mostrar do que é feito.

Rapadura ou geléia. De mocotó.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O processo criativo

A agência resolveu pagar este curso para dois empregados. Fui um dos sorteados, agora é ver como concilio isso com a pós. Algum gaiato logo entendeu o que acontecera - "Não foi marmelada: ganhou o curso quem realmente mais precisava".


Como a imagem tá pequenininha, segue a ementao para quem mais se interessar:
WORKSHOP O PROCESSO CRIATIVO
PROF. CHARLES WATSON


CONTEÚDO

Considerações Gerais
Definições da Criatividade na História
Relação de Criatividade com Limite

Processos Perceptuais
· Modelo do Universo Fisiologia da Percepção - Gregory Dawkins
· Classificação & Estereotipagem: Vendo o que espera ver ou ‘Quando só lhe resta um martelo, tudo parece com prego’
· Dificuldade em isolamento do problema
· Limitando a área do problema
· Olhar do outro o passo para traz o segundo olhar
· Saturação: 1 & 2
· Saturação 1 - Como problema
· Saturação 2 - Como solução - Tehching Hsieh, Jan Fabre, Opalka, Long, Sisyphus - o herói existencial
· Estímulos sensoriais alternativos
· Einstein e imagens musculares e visuais
· Nicolas Tesla & Visualização

Processos Emocionais
· Analogia evolutiva, o gene inútil - Csikszentmihaly Dawkins
· Motivação - Intrínseca extrínseca, a cenoura ou o chicote
· Motivação extrínseca
· Motivação intrínseca
· Flow (Fluxo) Autotelismo (Csikszentmihaly)


· A engenharia do erro
· Julgamento Avaliação prévia
· A importância de não ter nada a perder
· Ansiedade - dificuldade em gestação
· Convicção X Compulsão
· Persistência
· A habilidade em mudar de objetivo

Processos Culturais Ambientais
· Inteligência
· Tabu
· Humor - O encontro de duas matrizes mutuamente exclusivas
· Múltiplas inteligências (Howard Gardner)
· Inteligência linguística
· Inteligência musical
· Inteligência Lógica-matemática
· Inteligência espacial
· Inteligência corporal Cinestética
· Inteligências pessoais - Inteligência intrapessoal Inteligência interpessoal
· Meio propício
· Fantasia X Realidade
· Razão X Intuição Pólo subjetivo, Pólo objetivo
· Tradição X Mudança

Transfiguração do Lugar Comum
1. Michel Groissman
2. Lia Rodrigues
3. Sam Taylor Wood
4. Oldenburg
5. Man Ray
6. Arthur Danto
7. Castanêda

Paixões

Recebi, da doutora, Romeu e Julieta.

 

Há um par de luas, ela se indignou ao saber que eu nunca havia lido por inteiro nem uma única peça do bardo.

 

E então, hoje, a me esperar em uma livraria da UFMG para almoçarmos - comida, não livros - me presenteou com a famosa lovistori de Verona.

 

Menos pela indignação com minha lacuna cultural do que pelo seu carinho que transborda, seu  bem-querer diário e contagiante, desconfio.

 

Mal perde por esperar, a doutora. Meus lábios peregrinos hão de profanar cada polegada sacra daquele corpo.

 

Pensando o quê? Sou displicente, pero concupiscente.

 

Ignorante, pero cumpridor.

 

 

* * *

 

Almoçamos, depois, num self-service na praça de serviços. Imagine, porém, como me lembrei há pouco, a metáfora já um tanto quanto gasta de se alimentar de livros.

 

- O que você vai comer hoje?

- Uma saladinha de Borges e a peixada à Saramago. 

- De entrada, nada?

- Um Verissimo, talvez. Para degustação. 

- Leve, né? Eu tô com fome. Feijoada à João do Rio e, quem sabe, alguma massa italiana.

- Calvino?

- Pode ser. Algo de sobremesa?

- Acho que vou de Proust.

- Proust! Não é muito pesado?

- Só algumas madeleines.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Nada com nada

Desloquei-me - hm, que jeito veado de começar um texto. Pois bem. Desloquei-me de casa até a Pampulha para uma reunião agendada com o cliente às 9h30. Chefe mandou, redator diligente obedece. Mas o cliente viajou para Uberlândia sem avisar. Lindo.

Se bem que até não me importei tanto. Então, desloquei-me novamente para uma padaria no Ouro Preto para dar ao fígado outra coisa para mastigar além das moléculas de álcool da noite anterior.

Contei moedinhas e a mistura fina que saiu foi:
- Mei copo de café
- Uma empadinha regada a molho de pimenta
- Um suflair

Aliás, eu, que não sou de comprar doces, mas considerei conveniente comer um pela ocasião, me senti tungado. Suflair é aerado mesmo - comi mais vento do que chocolate. Deveria ter comprado chokito.

Mais um serviço de desinteresse público Boêmios no Divã. Não seja abstêmio. Boêmio vota em boêmio. Educação, saúde e segurança.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Adjetivos

"(...) quando, pelas circunstâncias, você se encontrar forçado a elogiar e qualificar alguém que não merece - pelo contrário, a pessoa mereceria mesmo é ser achincalhada, porém sua educação ou as formalidades lhe impedem de declarar o que realmente pensa - há, de fato, certos adjetivos e frases singulares que o salvarão nessas emergências.

Expressões que praticamente dizem nada, mas dão a impressão de reportar algo de bom.

"Você é especial", "Nunca encontrei ninguém igual a você", "Você é diferente de todas as outras que conheci".

Se você não tem nada de bom a dizer sobre o sujeito, diga-lhe "Você é uma pessoa autêntica" ou "Você é um cara distinto". Provavelmente, ela terá um átimo de dúvida e hesitação, mas logo em seguida revelará na face o agradecimento por sua consideração."


Como sobreviver em um mundo idiota até a última iota, de Walter C. K. Thompson, pag. 46, cap. 6