sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Então fica assim

Vocês aí trabalhando.

Tomando esse solão.

Eu vou ali pescar um marlin.

E voltar da praia negão.

(Aluguei por temporada, glup!; espero não ter levado golpe)

* * *

Registro seinfeldiano de última hora: já pensou você que coisa é a sunga? Talvez seja a única peça de vestuário que você, homem que tem bilau, tenha secretamente um pequena hesitação (receio? asco? repulsa?) em experimentar, porque provavelmente aquela peça na gôndola que você escolheu deve ter freqüentado há pouco o saco de outro sujeito. Já imaginou? Você pegauma sunga, leva-a ao provador e, na hora de vestir, descobre agarrado lá um pentelho alheio que a vendedora não viu ou ficou com nojo de tirar. Bom, quem nasce em Teófilo Otoni certamente passa por cima dessas frescuras todas, e não só entende plausivelmente a reticência como a encara com boa dose de indulgência. Afinal - ora, bolas! -, nós, amigos, a gente não ficaria usando a cueca uns dos outros numa boa. Ficaria?

Deve ser por isso, entre outros motivos, que tantos preferem a segurança desajeitada de uma bermuda aos possíveis constrangimentos da sunga.

Seja como for, eu já comprei uma pra chamar de minha.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Morte súbita

Me contam que um parceiro da agência - diretor de uma produtora de vídeo - faleceu nesta manhã.

Era um cara jovem, legal, bacana - bom de mexer. Já havíamos trabalhado juntos no ano passado. Hoje, ele tinha reunião aqui com o chefe, para a conclusão de um outro projeto que está em andamento.

Disseram que estava numa estradinha que conheço bem, a de Casa Branca, vilarejo bem aprazível a 25 Km de BH.

A estradinha requer cuidados; tem trechos sinuosos, à beira de desfiladeiros. Mas, até agora, estamos sem detalhes do que aconteceu; se foi abalroado, se saiu da estrada, etc.

A mulher, que estava com ele, quebrou uma perna, mas sobreviveu.

Que pena. Que triste.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Rapazes, aderi

Eu fazia uma gracinha e nada. Falava uma bobagenzinha, nada.

Eis aí um doutor que parecia completamente desprovido de senso de humor.

Pior é que eu insistia. Perguntado se fazia uso constante de algum remédio, retruquei: "- Vale cerveja?". Nem um sorriso, nem um esgar. Nada.

Quando me vi na posição fatal, de ladinho, enquanto ele me explicava como seriam os procedimentos - um exame constituído de três fases: inspeção visual, análise digital em profundidade e retosigmoscopia -, eu tentei uma última e desesperada cartada, talvez pra quebrar o gelo daquele momento assim tão íntimo de nós dois:

- O instante é solene demais ou cabe uma piada? Sabe o que meu pai me disse quando fez o exame pela primeira vez? Que havia perdido a virgindade de cu.

Ajeitando as luvas nos dedos, o homem continuava impassível.

- Aí eu disse pra ele que vinha aqui hoje e perguntei se ainda havia vaga para entrar pro clube.

Ele se permitiu mexer a boca, mas de um jeito estranho, nada que lembrasse um sorriso. Então falou:

- Vamos começar.

Posso afirmar a vocês que passei - me orgulho em dizer, por que não, com louvor - pela inspeção visual e pelo toque. Mas a tal retosigmoscopia... caramba. Parece que o sujeito enfiou uma lanterna no meu toba - uma daquelas lanternas metálicas de camelô, era só o que eu pensava na hora, compriiiiiida toda vida. E mexia de lá pra cá, de cá pra lá, pra cima e pra baixo. E, nesse mexe-mexe, vergonhoso confessar mas é verdade, soltei um ou dois gases.

Muito bem. Acabado "o procedimento', o doutor contou que eu tinha hemorróidas internas muito pequenininhas, que minha próstata estava ótima, que estava tudo bem e que nem iria me prescrever nada. Disse que eu podia já me assentar, se quisesse. Foi o que fiz. Então, dirigiu-se a mim, todo satisfeito e, pela primeira vez, sorrindo:

- Excelente! E aí? Está tudo bem? Está sentindo alguma coisa? Alguma coisa nova? Alguma sensação diferente?

O diabo que esse homem não tinha senso de humor.

* * *

Enfim. Era este o depoimento que eu queria dar, fica aí minha contribuição e solidariedade para os anais da proctologia.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Reticência

Um potencial comprador quer adquirir a honorável Mansão do Nova Granada. O negócio parece razoável e o sujeito, determinado...

Titubeio.

Voltar para casa de mamãe? Nóóóó...

Entrar para o movimento dos sem-casa.

Casar e entrar pro movimento dos dentro-de-casa.

* * *
Lição de Anatomia do Dr. Queiroz.

Voltando do hospital, descobri que o osso do braço que saiu do lugar se chama Ulna.

Ulna. Pense nisso por um segundo. Repita comigo, mental e lentamente:

Uuuuulna.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Gratidão


Hoje cedo Meg se levantou e eu aproveitei para fazer o mesmo assim que ela saiu. Fui ao banheiro e voltei para cama. Peguei um exemplar daquela coletânea da Disney lançada pela Abril, com as histórias do Carl Barks, o Homem dos Patos.

A segunda historinha que li me fez engasgar de tanto rir.

Pena, que a gente não começasse cada dia assim, às gargalhadas, antes das 7 da manhã.

Pensando nas histórias do homem, seu humor, seu sarcasmo, a humanidade e toda a sua carga de sentimentos que confere aos patos - amor, ódio, ciúme, cobiça, vaidade, medo - e, me valendo de sua biografia, não vejo como é possível não admirá-lo.

Barks foi possivelmente minha primeira leitura, aos cinco. Embora não soubesse seu nome, suas histórias eram reconhecíveis pelo traço e enredo - havia um abismo de qualidade entre elas e as historinhas de outros autores. Via de regra, as aventuras de Barks abriam e/ou fechavam as edições de Disney Especial - uma revista grossa, coletânea em torno de uma idéia qualquer, como "Os piratas", "Os vizinhos", "Os inventores".

O homem era genial, e quem critica seus quadrinhos com aquele papo de "propaganda do império capitalista" para meninos não sabe do que está falando ou nunca leu uma historinha de Natal de Barks, qualquer que seja.

Além de conter parábolas morais, as histórias de Barks despertaram em seus leitores mirins o espírito de aventura, o apetite por História, a curiosidade científica - sempre ambientando suas narrativas em lugares distantes, envolvendo mitos, misturando arqueologia, etc. Me lembro, por exemplo, que aos seis, sete eu já tinha conhecimento, ainda que rudimentar, sobre Jasão e os Argonautas, Circe, Medéia, Minotauro, Aladim, Incas, Fliegende Hollander, a Pedra Filosofal, a Fonte da Juventude, Cortez, as Minas do Rei Salomão, a Rainha de Sabá, Odin, Thor, Valhalla e Valquírias, Machu Picchu, Índia, Indonésia, Nepal, Caribe, Klondike, Yukon, Alaska, África, Vênus, Júpiter, Saturno, Plutão... por aí vai.

Nós, crianças, devemos muito ao velho Carl.




quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Películas Políticas

Só pra registrar.

Com tantos filmes sobre: períodos de ditadura, comunismo, terrorismo, revolução e regimes militares - principalmente estes da nova safra do cinema alemão, quase todos muito bons - arriscaria dizer que isto poderia ser o sinal de um gênero em formação.

Qualquer dia algum maluco dono de locadora inova e tasca lá na prateleira "Político", provavelmente espremido entre os de "Guerra" e "Western".

Sei lá, mas quando Gunga Din ou As Pontes do Rio Kway foram exibidos, as pessoas como eu e você nem deveriam categorizá-los assim, tipo, é um filme de "Guerra", como se fala " é um romance", "é policial" ou "terror" . Provavelmente deveria ser visto apenas como mais um drama, só que bélico. Até porque o videocassete doméstico e o aluguel de filmes ainda levaria anos para ser inventado, para exigir tentativas mais claras de organização e classificação. Aliás, se o vídeocassete é o pai das locadoras, o drama é mãe de todos os gêneros.

Voltando aos alemões e seus canhões. Sem querer fazer esforço, vou me lembrar aqui de Edukators, Adeus Lenin, A vida dos Outros, A Onda, (O Falsário também é germânico?), o Grupo Baader Meinhof, etc, etc. Tudo recente. E, entre as produções americanas mais notórias e fresquinhas, aquela que oscarizou a Kate Winslet no ano passado (vá você ao Google, preguiçoso é você, eu sou é desmemoriado).

E pra encerrar essa falta do que fazer mas não do que falar, uma palavrinha do Ambrose Bierce:

Revolução, s.f. Em política, uma mudança abrupta na forma de desgoverno.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Para Meg

Quer se casar comigo?

Não comerei da alface a verde pétala

Mentira.

Pra esvaziar as lateralidades abdominais recém-adquiridas (e também, por que não, dar uma força pra Doutora), embarquei com ela numa dieta de tiro curto.

Proteína à la vontê. De carboidrato e frutas, nada. Vegetais, pode-se, praticamente sem restrições. Legumes, poucos. Doces, nem pensar.

Nessa situação, eu teria que avacalhar um poeminha do Vinicius que gosto muito:


Comerei, sim, da alface a verde pétala
E da cenoura evitarei as hóstias desbotadas
Provarei as pastagens que servem às manadas
E a quem maior aprouver fazer dieta.

Cajus hei de só olhar, mangas-espadas
Talvez calóricas demais para o cronista.
Pães e massas idem, estão fora da lista
Resignarei-me ao cromo das saladas.

Ora, não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; mas aquiesci
à tal dieta: me passem um bife ou dois

E um ovo, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei feliz, do coração
De ter vivido sem emagrecer em vão.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Dor de cotovelo

Natal e reveillon foram muito bons.

Só lastimo, no entanto, que sogra e sogro tenham passado dos limites.

Um perigo, essa terrível tentativa de desvirtuar, desnortear a retidão de um homem tão austero, tão moderado, tão regrado - um asceta, praticamente - nas insinuantes veredas do bem-bom, das cervejas e queijos e acepipes e pratos deliciosos todos os dias, todas as noites.

A crueldade chegava ao requinte de, após um almoço de enrubescer Babetes, com miliduas opções de carnes e quetais, e depois de frutas de várias espécies e sobremesas de diversos tipos e sabores, me perguntarem com espantosa tranquilidade:

- Aceita um pão com manteiga? E um ovinho frito?

Isso não se faz. Minha pança está deste tamanho.

* * *

A verdade mesmo é que se você estiver mal intencionado, tudo o que precisa fazer é contar a verdade.

Ninguém acredita.

No dia 26, ganhei de Natal uma luxação no cotovelo. A lesão se deu quando brincava com as meninas, Doc e o cunhado de disputar corrida num gramado da UFV. Descalço, escorreguei e meu cotovelo foi de encontro a uma árvore. Fui de maca pro hospital, onde reduziram. Doeu, porém não mais do que o orgulho ferido.

Pois aí é que está. Aqui no trabalho, relato o caso tal como aconteceu e ninguém, do boy aos chefes, me dá crédito, apenas olhares de escárnio e desdém: "Bebeste quantas?", "Tava jogando bola bêbado", "Machucou o cutuvelo foi na virada, né Rubão?".

Triste, triste.