quarta-feira, 18 de março de 2009

À torpeza

Se alguém afirmasse que na elipse entre o relativo e o absoluto reside o lar da moral, eu diria simplesmente: não sei.

O desafio que se apresenta a cada qual, na jornada do fim inevitável, é a forma do itinerário; certas vezes, estrada retilínea; outras, trilha sinuosa daquilo que convencionam chamar sabedoria - essa espécie de mapa do tesouro para se viver, caramba, bem e dignamente, ao longo do passeio.

Ainda que aceitemos que todo homem seja livre e senhor de suas escolhas nas encruzilhadas entre o que se entende como "certo" e o que se entende como "errado", não procede a suspeita de que somos cativos de nossa própria natureza, essa bússola interna cujas orientações ora obedecemos, ora transgredimos?

O que me pergunto é como saber o melhor caminho a tomar quando o jardim se bifurca.

Pois, se usassem de perfídias e mesquinharias com você ou alguém de suas mais caras relações - sua mãe, seu irmão, seu filho, seu amigo -, o que você faria? Mexer com quem você ama é mexer com você? Quando a retaliação se traveste de justiça?

À procura de direção, cabe farejar gente que deixou rastro no pensamento. Sagan, num ensaio a respeito de códigos morais, As regras do jogo, resumiu filosofias distintas numa tábula de cinco regras, em critério de valor segundo suas denominações.

Regra de Ferro: Faz aos outros o que quiseres, antes que te façam o mesmo.

Regra de Bronze: Faz aos outros o que te fazem.

Regra de Prata: Não faças aos outros o que não desejas que te façam.

Regra de Ouro: Faz aos outros o que desejas que te façam.

Razoável com algumas, crítico a todas, o cientista não se fiou por nenhuma. Preferia aquela a que chamou de "Tit-for-Tat".

Coopere com os outros primeiro; depois, faz aos outros o que te fazem.

Fico querendo concordar. Falemos com a franqueza que antecede o tiro da primeira pedra: a Regra de Ouro, sagrada em nossa educação ocidental cristã, por inúmeras e complexas razões, é quase uma utopia em seus esquadros. Difícil física, espiritual e cotidianamente de se sujeitar. A realidade é mais complexa do que a sua beleza pode permitir. E porque a "Tit-for-Tat" perfaz a interseção entre a predisposição da boa vontade com a prática do perdão, sem, contudo, as ciladas da ingenuidade.

Me pergunto: até que ponto vale ser tolerante com quem não quer o meu bem?

Mas, ai; tudo às vezes é tão simples. E, também, tão complicado.

Reza a esperança de que o envenenador que falha fortalece a vítima contra o fel. E, se a leviandade ocorre sem maiores conseqüencias, ele acaba fazendo mais mal é a si mesmo.

Ainda assim, no fundo, o que dá raiva é a impunidade. Sair ileso.

Vamos em frente. Como o poeta, o que eu quero mesmo é seguir com o coração passarinho.

5 comentários:

MegMarques disse...

Se não houve consequências, o melhor é dar de ombros e levar a nossa vidinha adiante. Bobagem se desgastar com tão pouco.

mil beijos

Anônimo disse...

Caraca, bicho. Vai na tua toada que acertas.

K disse...

Engolir sapos, brejos inteiros é comigo mesmo.
Gostaria de verdade de fazer como diz a Meg,dar de ombros e não deixar que me incomode.
Mas estou aí com um problema de vesícula, que de acordo com a Nalu, é consequencia de pensamento obsessivo.Os sapos que engulo coacham o dia inteiro e a noite, não me deixam dormir.

Ms. T. Rios disse...

A regra de prata já tá de bom tamanho, não ? Eu nunca gostei de dourado, mesmo...

;o)

Rubão disse...

Amore, talvez cê tenha razão. Mas, pensando em ervas daninhas, me lembrei daquele verdureiro de Amelie Poullain.

Leo, acho que é por aí. Como diria o Arnaldo,a regra é clara.

K, desejo que você consiga mudar de dieta o mais rápido possível.

Cyn, dourado também não me cai bem.

Todos, valeu o recado!