terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Bar do Rubão

Ontem, saí de casa às oito e cinco. Não queria me atrasar. Primeiro, fui ao posto de gasolina. Depois, passei na casa de mãe para pegar a sacola de remédios de pai. Foi rapidinho. Não queria me atrasar, a terça-feira seria dia cheio e, embora a esta hora o trânsito pudesse estar mais tranqüilo na Cristiano Machado, levaria uns 40 minutos para chegar a Lagoa Santa.

No caminho, olhei de soslaio para a sacola de remédios e pensei nela com alguma tristeza. Senti que talvez nunca a tenha dado a atenção devida, ou reparado naquele punhado de comprimidos como fato que merecesse pelo menos um mínimo de reflexão. Eram muitas caixas de comprimidos. Caro barbaridade. E, sei lá, é um remédio pra deixar o sangue ralinho, outro pra colesterol alto, outro pra não sei o quê... me imaginei dependente da ingestão diária de tantas pílulas. Como seria meu humor? Ficaria deprimido? Cardiopatas de colesterol alto são casos comuns na família.

Pai tem passado os dias-feiras em Lagoa Santa para acompanhar a reforma da sua velha nova grande casa. Alugado por dez anos, acho, o imóvel fora devolvido em péssimo estado. Considerável parte se deteriorara: jardins abandonados, portas e maçanetas quebradas, pontos de luz, móveis e paredes negligenciadas; edificações posteriores equivocadas ou de mau gosto; um descuido em cada detalhe.

Então, bem, pai estava juntando seus caraminguás com a esposa para reconduzir aquela residência aos seus dias de glória. E é uma bela casa: gramado frontal, árvores frutíferas aqui e ali; campinho, piscina, casinha de bonecas e plantas em um terreno quase perdulário em seu espaço. Aproveitando o ensejo, ele ia mudar certas coisas e acrescentar peculiaridades ao seu gosto: a construção de aposentos do lado de fora da casa principal; a derrubada da casa do caseiro, agora garagem; a adição de um closet e uma horta, e o deslocamento da área da churrasqueira, que não podia mais ser chamada tão-somente de área da churrasqueira. "Espaço Country Gourmet" é sacanagem; creio que nem pai nem eu apreciamos esses frescurismos, a não ser com intuito de molecagem, mas a expressão teria lá sua utilidade como efeito de descrição do espaço.

Esse espaço, praticamente um anexo à cozinha da casa principal, já estava em obra adiantada. Tinha bancos e mesa de madeira, dessas compridas, de roça; a churrasqueira de tijolinho aparente, já instalada, com chaminé e tudo atravessando as telhas; no canto oposto, na parede do banheirinho, uma pia de tigela de cerâmica (que antes servia a um vaso de planta, mas agora estava envernizada e com buraquinho pro ralo) sobre um aparador com pernas de madeira e tampo de mármore - tudo invenções e adaptações de pai, sua inquietude e suas caixas de ferramentas; um charmoso fogão a lenha de madeira e pedra-sabão, modelo semi-pronto que veio do Serro, tipo exportação. Tudo isso vi ontem à noite. Aí, na bancada contígua à churrasqueira e à frente do fogão, havia um barrilete de madeira sobre cavaletes - isso tem um outro nome, sempre esqueço - em cuja fronte se lia a inscrição em vermelho, tipo manuscrito: "Bar do Rubão".

Era significativo. No meio daquela confusão de materiais de construção, sacos de cimento, tijolos, pedreiros, ajudantes, uma peça que, cronicamente, estava fora de seu lugar.

Compreendi que era uma pequena, grande porém, homenagem.

O bicho ainda disse que seria ótimo se conseguisse no mercado paralelo uma daquelas caras bicas de tirar chope para instalar ali - seja funcionando perfeitamente, seja como ornamento.

Apesar de honradíssimo, profundamente agradecido e algo embaraçado, julgo que seria temerário confiar a um boêmio de escol a direção de qualquer boteco, e, desta forma, penso no bem comum ao declinar de possíveis convites para quaisquer formas de comando ou gerência do Bar do Rubão.

Mas, senhores - a questão é que em breve teremos um charmoso barzinho, em Lagoa Santa, com ingresso para poucos, seletos e exclusivíssimos convidados. Vamos tratar de merecê-lo - a começar por mim.

5 comentários:

Anônimo disse...

Uêba!

MegMarques disse...

Oba! Bar do Rubão, crédito a perder de vista, sem hora pra fechar e com pouso ao lado, sem nenhuma preocupação com bafômetros... Já virei freguesa!

Anônimo disse...

Bela homenagem. E apropriada. Ao boêmio, o bar.

Anônimo disse...

Que bacana, Rubão! Tô doida pra ver!

Anônimo disse...

Cês são todos convidados; faremos uma carteirinha de sócio!
A.None Moh