segunda-feira, 28 de abril de 2008

Programas culturais

Todo mundo gosta de fazer um agradinho ao outro. Não fujo à regra, embora certos programas fujam ao meu curtíssimo rosário pessoal de predileções sem restrições - como butecos, por exemplo.

Já fui sujeito mais resistente e bronco, e por isso devo desculpas póstumas àquelas que outrora tiveram de aturar minhas evasivas e escapadelas aos passeios que me deixariam culturalmente menos despreparado. Mas hoje estou mudado, sou um homem melhor e até encaro na boa um museu - exatamente o programa do próximo fim de semana. Agora, me sinto mais à vontade nesses ambientes do que antes. O passeio é valorizado, imagino; chego a fantasiar que ganho pontos, meu cartaz sobe.

Mas, ai de mim. Sou uma anta plástica, um gnu para a pintura, um mandril para as artes presentes, passadas e futuras. Avizinha-se a ida a qualquer museu e já começam meu drama e minhas trapaças. Tudo, tudo para impressionar. Ou não causar má impressão.

A via sacra se inicia na investigação prévia no site do museu para descobrir o que está sendo exposto. Continua a peregrinação nos sites de busca à cata de informações sobre os autores, o acervo, as fases de cada artista, o que cada obra significa, etc., etc.

É preciso treinar em casa, frente ao espelho, a cara de inteligente e a pose de “sabido, porém discreto”, além das interjeições, para não ficarem inverossímeis: “Hmmm” , “Hmmmmmmmmmmm” e “Hm”, esta a cerrar os olhos e inclinar a cabeça um pouco para a direita para mostrar que você não é homem só de certezas, também é capaz de dúvidas; “ah” e “Ooh”, discretos e murmurados, afinal, qualquer admiração dos finos deve ser contida e comportada; e, provavelmente, “Bluowrllooorp”, o ronco do estômago vazio que você terá de abafar, pois está faminto após horas de hmms e oohs.

Mas grunhidos de admiração calculada não serão suficientes, certamente. Desde já, estou decorando expressões para, em caso de argüição, emitir uma opinião crítica e consistente sem envergonhar a ninguém. Imagina: perguntam a você o que achou da pintura à sua frente e o máximo que você consegue é torcer o beiço fazendo bico e dizer - “Bacana”? Não dá. Para comentar obras de arte, eis adjetivos, substantivos e verbos preciosíssimos:

- “interroga",
- "problematiza"
- "reverencia"
- "inverte"
- "transgressivo"
- “dialoga”
- "virtualiza"
- "interstício"
- "tessitura"
- "lúdico"
- "potencializa"
- “seminal”

Poisé, o que a gente não faz pra não fazer feio. Sou tosco mas não me acovardo, vou atrás do meu verniz de cultura.

Pelo menos cubro a superfície.

11 comentários:

Anônimo disse...

Kakakaka. Ora, esqueceste as táticas faficheiras?

Aleta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rubão disse...

Hahaha! Aleta, desconfio que nem todos que aqui vêm concordariam com você...
Mas, cá no divã, esse é o espírito: não defendo o direito de te expressares, mas discordo até a morte do que dizes!

Anônimo disse...

Bem, independente de verdades (sempre relativas), posso apenas informar que, para o MEU gosto, 90% do moderno e 98% do comtemporâneo são umas merdas de fazer gosto, rs... Não sei quem é o Muxibox mas vou com ele na linha de pensamento (sem a mesma raiva, claro, rs).
Mas, sobre os comentários, a dica é falar sempre uma bobagem do gênero: "interessante, notadamente o artista conseguiu seu intuito, passar sua personalidade à obra e isso é o mais importante: sua obra ganha vida".
Serve de Tunga a Eliseu Visconti, rs
Grande abraço
Bruno, o Perpetuo

Douglas Amorim disse...

Rubão, nessa você se superou. Agora, fala sério: Rubão, Bruno Perpétuo e Léozinho são um time de comentaristas de futebol, não, de obras de arte..kkkkkkk

Aleta disse...

Bruno, Muxibox é Aleta! Depois entra lá no meu blog tb!

Rubão disse...

Leo, faz tempo que deixamos a Fafich.

Bruno, dica valiosíssima. Outra interessante adição para o arsenal.

Doug, de fato, futebol é mais para o meu nível.

A todos, valeu a visita!

MegMarques disse...

HUAHUAHAUHAUAHUAHAUAHUAHUA
Adorei o post!!!!
Mas ò, se ir a museus e galerias te causa tanta angústia, a gente faz assim: eu entro, visito a exposição e vc me espera lá fora, no buteco mais próximo.

E eu AMO arte contemporânea!

Rubão disse...

Doc, como falei, angústia nenhuma. Pelo contrário, ainda mais em sua companhia. Bj,
r

Anônimo disse...

Hehehe... Muxibox? Aleta, com um nome desses imaginei um motoqueiro gordo que perdeu as pernas em um acidente nos anos 80 e agora, já velho, descobriu uma maneira de se relacionar pela internet, rs. Vou passar a dar umas olhadelas lá também.
Meg, você também ama o Rubão... tá explicado, UHAuhuhHhUhAh
Beijos a todos,
Bruno, o Perpetuo

MegMarques disse...

hahahahaha, Bruno seu besta, o Rubão é uma obra-prima, visse?

beijos procê!