terça-feira, 1 de abril de 2008

Fronteiras

Hmmm... creio que deve ser dífícil discernir o limite entre o que é aceitável e o que é brega quando se está apaixonado.

Gosto de pensar que tem um monte de gente que sabe do que estou falando.


* * *

Falando nisso, lembro de uma bobeira. Meus amigos - todos casados - e eu falávamos, ao fim do meu último namoro, à guisa de gozação, que havia duas cidades imaginárias: Solteirópolis e Maridolândia.

Solteirópolis estava ficando cada vez mais vazia (pelo menos do ponto de vista de nosso círculo de conhecidos), abandonada, destituída de gente. Por sua vez, Maridolândia era aquela população: lotadaça, todo dia gente chegando, vizinho novo todo dia, trânsito infernal, tudo que é lugar abarrotado, cheio de menino, etc.

Apesar do contingente, Maridolândia era um centro urbano com bastante segurança pública, pacato, tranqüilo em geral. Um ou outro caso que merecesse registro das autoridades. Vez ou outra chegava notícia de que algum marido passara a noite em Solteirópolis, embora logo identificado em flagrante pela Rádio-patrulha, detido e deportado. No mais era isso ou pequenos incidentes, nada que ultrapasse o trivial.

Solteirópolis, por outro lado, era uma terra sem lei. Quase não havia vida diurna. De dia, a cidade era fantasma. À noite, a gataria parda escorria pelos becos. Mulheres, homens, gente de todas as preferências sexuais saíam para uma noite onde não existiam regras. Tudo era riso, tudo era festa. Não havia apartamentos de quatro quartos em Solteirópolis - só os mais abastados se permitiam esse luxo. Lofts, quitinetes e dois quartos compunham o grosso das habitações. Comida pra um, lavanderia, apart-hotel: tudo era single. De vez em quando chegavam a Maridolândia notícias das festas de Solteirópolis. Mulheres lindíssimas, múltiplos apolos, raves com anões besuntados em óleos do oriente, encontros plurissexuais que duravam três noites seguidas em tributo a Baco, etc.

Não que Maridolândia não tivesse suas diversões e seus prazeres. Tinha. Mas, digamos, as tertúlias da cidade vizinha evocavam nos maridolenses todo um suspirar de tempos passados. Aqui, de minha parte, não cabe julgamento de valor: nem de quem opta por residir numa cidade ou outra, nem de quem tem curiosidade de experimentar ou saudade de voltar para onde já viveu.

O caso é que eu estava ali, ó, já morando, nos finais de semana, nas periferias de Maridolândia. Doido pra me mudar pro Centro e ficar vizinho dos meus amigos. Embora todos eles me prevenissem para não tomar atitudes precipitadas: "Rapaz, olha lá o que você está fazendo. Você está querendo deixar Solteirópolis!".

No fim, isso acabou não ocorrendo. Deixei foi os subúrbios de Maridolândia e voltei para meu cafofo mofado em Solteirópolis.

Durou pouco, mas isso já é outra história.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ahahahahahah! Boa!

MegMarques disse...

E agora, onde exatamente você está morando?

MegMarques disse...

Brega X Aceitável
O amor é brega, não tem muita escapatória. Há o menos brega que se torna aceitável quando apaixonado e o muito brega que é imperdoável em qualquer circunstância.
Onde fica o limite entre um e outro é uma questão de bom gosto, bom senso e grau de paixonite.
Eu ando muito breguinha nos últimos tempos, estou gostando até de algumas músicas do roberto carlos sussurradas ao pé do ouvido...

Rubão disse...

Meg, no momento estou alugando um chalé em uma pequena vila entre as duas cidades. Lugarzinho acolhedor em meio a uma charneca, embora um pouco isolado. O cafofo em Soleirópolis permanece fechado, e não está de todo descartada a idéia de dar uma olhadinha nos classificados de Maridolândia.

Quanto à breguice, ouvir Roberto... acho até que não tem nada de mais. Pior é aquela gentinha que troca os braços, fazendo um x, na hora de brindar. Nessas horas, as rugas esticadas de Glória Kalil devem até estremecer de terror.

MegMarques disse...

HUAHUAHUAHUAHUAHUA
BESTA!!!!!