terça-feira, 30 de agosto de 2011

Atração do abismo

Ai de mim. Na ronda habitual pela internet, caí na besteira de xeretar os comentários dos leitores blog do Augusto Nunes, da Veja. Como nhaca pouca é bobagem, fui inexplicavelmente atraído pelo horror e ignorância, e acabei xeretando as últimas no classemédiasofre. Pronto, consegui começar o dia deprimido.

É a treva. É a treva.

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Aliás, na diagramação do sítio de Veja, você acessa e vai descendo a barra de rolagem até encontrar a trinca, a seção a que secretamente me habituei a chamar de Cérbero: Reinaldo Azevedo, Lauro Jardim e Augusto Nunes.

As três cabeças que guardam os portões do inferno.

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Às vezes, dá na gente uma compulsão de escrever outras vidas, outras personagens, imaginar enredos e histórias. E quando me pego, distraído, caminhando e falando sozinho, vejo que é verdade o que dizem os profissionais, que você faz caras e bocas teclando na frente do computador, chora e sorri, e a faxineira olha pra você e pensa que você não bate bem - no que ela não deve estar de todo sem razão.

O que eu quero dizer é que dá pra entender a compulsão. Se você vai escrever sobre uma figura, um arquétipo, uma personagem, e deseja que ele seja minimamente crível, você tem mesmo que, ainda que momentaneamente, tornar-se essa personagem. Como um ator (tenho vergonha de estar aqui repisando o óbvio, acredito que todo mundo saiba disso).

Essa conversa fiada vem a propósito do post estar hoje, digamos, algo sinistro. Porque, por exemplo, quando me vem na ideia qualquer história policial, tenho que entender as motivações de todos os envolvidos na história. O detetive, a vítima, os figurantes e, evidentemente, o algoz.
Mas, vira e mexe, me incomoda me colocar no lugar de um assassino. Porque, para fazê-lo real, eu realmente teria que entendê-lo e, de um ponto de vista estritamente mental, racionalmente justificá-lo e justificar seus atos.

Vendo assim de fora, imagino que pensem que isto tudo deve parecer besteira. Mas não é, e evito racionalizar, evito pensar em todo um arcabouço moral diferente do meu, evito a tentativa de reconstruir um sistema de pensamento que esteja além das noções de certo e errado que estou habituado a considerar como modelo ético.

Pessoalmente - vou dar um chute - acho que este deve ser um dos grandes eixos da obra filosófica de Nietzsche, que era um provocador. Ir além dos preceitos. Über tudo.

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Frisando: pra escrever sobre uma personagem que considero asquerosa, eu teria que me imaginar pensando como uma personagem asquerosa. Por exemplo, pegando o que está recente e mais à mão, eu teria que desprezar nordestino e preto. Ter ojeriza de pobre. Considerar essa gente sub-raça. Para escrever com autenticidade, minha imaginação teria que abraçar toda uma série de valores que não gosto nem de cogitar. Teria que deixar aflorar em mim tudo o que considero ter de ruim. Teria que (paradoxalmente) nunca me colocar no lugar do outro. Teria que me deixar de importar. E me arrumar todas as autoindulgências necessárias e possíveis.

No final, tudo não deixa de ser um pouco frustrante. Porque as grandes histórias dependem de grandes vilões.O problema é que acho desconfortável, na falta de termo exato, reconstruir a mente do vilão. Tipo: é melhor não mexer com esta merda.

Portanto, é razoável supor que jamais escreverei uma boa história, nem que tente? Sim.

Assim, talvez o mundo perca um escritor medíocre - e um psicopata em potencial -, mas, por outro lado, ganhe um esforçado homem comum.

3 comentários:

Noh Gomes disse...

Gosto dos esforçados homens comuns, me incomoda pensar como outras pessoas, tipo vilão, mas se fosse preciso também não o faria, tenho custado a separar o que me faz pequena do que quero evoluir.
Escrever tem disso, comecei a reparar o quanto me custa falar ou escrever sobre certas coisas, ou ações e atitudes, me colocar no lugar do outrem para ser e parecer mais claro tem me custado dias de não postagem, não sei o que é isso, muito menos se signifca algo, mas espero para ver.

P.s: tenho andado menos pela TREVA da internet rsrs,senão meu estomago não aguenta ate as 12:00 horas.

Beijo
Noh

Leo disse...

Mas não será por falta de pesquisa, pois uma simples conferida no cérbero(gostei, hehe) te credencia a escrever sobre toda a sorte de cretinos. Complementa com o site do Tea Party e pronto, tens seu vilão. Se quiser um vilão cartunesco, de filme B, com motivações religiosas, você usa as olheiras do Padim, nosso vampiro mor. Já praquele assassino insuspeito, com rosto de menino criado por vó, alvo de bulling, vai de Reinaldo Azevedo, um Kevin Spacey mais neurótico. E se o caso for de um cretino violento e cínico, o Jabor taí com sua cabeleira se desgrenhando entre um golpe e outro de navalha. Ele gritaria algo como: sou a vingança, sou o pós assassino, não sou ninguém, babaca! E o sangue jorraria.

Rubão disse...

Cês já foram ao classemediasofre? Não recomendo a ninguém, mas... serve como termômetro, digamos.