Bah, bastante tenho obrado com os pecados capitais, entre os quais a preguiça se faz imperatriz, e os demais, serviçais. Culpa não há nem haveria, visto que nestas veias vãs corre sangue da Bahia - corre, não; vaga, eu diria; correr, ora essa, mui trabalho daria! Na luxúria, ergue-se meu obelisco; na gula, enquanto devoro nem pisco; e no mármore dos arabescos que ornam este castelo da soberba, observa: mil espelhos refletem o palácio vizinho ainda mais belo, soprando aqui também a ira pelo mal de Otelo.
Basta, pois, dos capitais! Proponho novos pecados, tão dantescos quanto de apreço nos círculos infernais; a saber, lá ululam criaturas sequiosas de nossas almas imortais; os pecados podem ser outros (intolerância, covardia, indiferença, negligência), podem até ser triviais (burrice, mau-humor e impaciência), mas, sem exceção, todos hão de nos atirar às sulfurosas profundezas abissais!
8 comentários:
Uia, passei pertinho de pecar agora, sentindo inveja desse belo poema pecaminoso... mas ele ficou tão bom que a inveja murchou, coitadinha, e aí tomou vergonha e virou só admiração mesmo. Parabéns, ficou duca.
;o)
Puxa, Cynthia, obrigado, mas não é pra tanto. Eu é que fico invej... er, admirando seus escritos e os do seu Gatim.
r
Gênio!
Amore, gênio pra mim é aquela autora portuguesa do finalzinho do século XX que, relembrando um humorista brasileiro, escreveu coisas assim:
"Eu, Tu; tu e eu
Européia, Tupiniquim
Eufórica, Tugido
Euglena, Tulipa
Eureca, Turrão
Tumulto, Eupática
Tubarão, Eusseláquio
Turbidez, Eutrófica
Tufão, Eufemismo"
E que, em suas fases mais tristes, nos atinge em seu lamento pungente:
"De que barro impuro vim
que ao inferno do forno
não me torno porcelana?
Que miserável matéria me compõe
que a dor da lapidação
não me faz brilhar?
Que ostra incompetente sou
que ao incômodo da areia
não vomito logo uma pérola?"
Você deveria lê-la mais vezes, ela é sensacional.
Veja isto:
http://www.youtube.com/watch?v=yIutgtzwhAc&eurl
HAHAHAHAHAHAHHAHAHHAHAH!!!! Excelente! Nossa casa será assim!!!
Parabéns. Gostoso como sempre, brilhante como nunca.
Eu também a-d-o-r-o essa poeta portuguesa Rubão.Não me canso de lê-la.
Foram feitos um para o outro certamente.
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