Não sou lá de confiar em críticas, sou Pé Atrás de carteirinha. Todo caso...
O Pixar Animation Studios é hoje o estúdio de Hollywood mais apaixonado pelo que faz. Fato.
Desde Walt Disney não havia no ocidente produtores tão empenhados em levar o mundo da animação a um novo patamar de qualidade técnica e narrativa. Aliás, muito mais narrativa que técnica. Diferente da maioria dos projetos de computação gráfica que se vê por aí, o meio aqui é mero veículo para a mensagem. Pense: Quando você se lembra de Toy Story pensa primeiro em Woody e Buzz Lightyear ou em como o visual era bem feito? E quando você lembra de Ratatouille? E de Incríveis? Monstros S.A? Procurando Nemo? Na Pixar a computação gráfica vem em segundo plano. O que ela cria são mesmo personagens e momentos eternos. "Personagens com apelo às crianças, mas que têm problemas adultos", como escreveu David A. Price no livro The Pixar Touch.
E Wall-E, o nono longa-metragem da irretocável carreira da empresa, é cheio desses personagens - e desses momentos.
Começa memorável já na primeira cena, uma tocante panorâmica pelo planeta Terra completamente tomado por torres de lixo. Lá embaixo, rastros na poeira, sem qualquer trilha sonora, um robozinho segue sua programação: Limpar a bagunça dos humanos. Surge então, sem qualquer alarde, o título do filme.
A cena é tão impactante que chega a dar arrepios... Cortesia tanto do diretor e co-roteirista Andrew Stanton (Vida de Inseto, Procurando Nemo) quando do consultor visual Roger Deakins. Sim, a Pixar contratou o diretor de fotografia de O Assassinato de Jesse James e Onde os Fracos Não Têm Vez, entre dezenas de outros projetos, profissional indicado a sete prêmios Oscar, para dar realismo ao movimento das câmeras virtuais e não-virtuais (já que pela primeira vez um filme da Pixar tem elementos reais, que não estragarei aqui).
Quanto ao robozinho, (...) Wall-E é muito mais que mera homenagem a um gênero. O pequeno autômato apaixonado é Charles Chaplin - no espaço! A paixão cega pela robô Eve, a solidão, o interesse na humanidade, o jeito atrapalhado, os olhos tristes e ao mesmo tempo engraçados, os problemas com as autoridades e até mesmo a mudez (toda a "voz" do robô é composta por pequenos sons criados por Ben Burtt - o lendário designer de sons da série Star Wars) reforçam essa idéia de que esse mega-blockbuster tecnológico é, em essência, uma comédia romântica do cinema mudo.
Não pense, porém, que trata-se de algo "velho". A Pixar não esqueceu a ação e a coreografia digital de seus pixels é das mais empolgantes. O balé espacial de Wall-E e Eve é pra entrar para a história das animações ao lado do spaghetti com almôndegas de A Dama e o Vagabundo. E se o final soa um tanto óbvio e previsível, já estamos suficientemente cativados por esse personagem e seu universo pra chegar à feliz conclusão de que às vezes o óbvio bem realizado é exatamente o que queremos. E se isso não bastar, logo depois há aquela belíssima seqüência de créditos finais, verdadeira aula de história da arte, começando nas pinturas rupestres e seguindo até os gráficos digitais no estilo Atari. Gênios.
Os criadores encontram espaço ainda para encaixar questões ambientais e humanitárias sem soarem panfletários - e ainda assim obtendo algo tão impactante quando os documentários-denúncia que nos assustam nas telonas e na TV. Mas diferente desses filmes, Wall-E é otimista. Afinal, há algo de reconfortante em saber que o robozinho é definido pelas sutilezas materiais descartadas de uma raça incapaz de entender seu lugar ou viver em conjunto. Ao nos colecionar, Wall-E extrai o melhor de nós.
Parece que a Pixar tem mesmo fé na humanidade. E não é que também tenho mais fé no mundo sabendo que temos a Pixar?
From Omelete
2 comentários:
Pô, Rubão,
quando em vez eu leio certas críticas/sinopses de filmes em cartaz.
Essa sua resenha de hoje 'stá fantástica.
Manda pro EM, cara! Quem sabe surge um convite para unir o útil ao agradável?
A.None Moh
Ih, mancada! Acabei de ver, no final, que você reproduziu 'from Omelete".
Scuza,
A.None Moh
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