Do bom e genial Carl.
"Somos falíveis. Não podemos esperar impingir nossos desejos ao universo. Assim outro aspecto chave da ciência é a experimentação. Cientistas não confiam no que é intuitivamente óbvio, porque o intuitivamente óbvio não o leva a lugar algum. Que a Terra era plana já foi óbvio uma vez. Digo, realmente óbvio; óbvio! Saia para um campo plano e dê uma olhada: é redondo ou plano? Não me dê atenção; vá e prove a você mesmo. Que corpos mais pesados caem com mais velocidade do que corpos mais leves já foi óbvio uma vez. Que sanguessugas curam doenças uma vez já foi óbvio. Que algumas pessoas são escravas por natureza e direito divino já foi óbvio uma vez. Que a Terra está no centro do universo já foi óbvio uma vez. Você está cético? Vá lá fora, dê uma olhada: as estrelas nascem no leste, põem-se no oeste; aqui estamos nós, estacionários (você sente a Terra girando?); vemos as estrelas movendo-se por nossa volta. Nós somos o centro; elas andam à nossa volta.
A verdade pode ser intrincada. Pode dar algum trabalho para agarrá-la. Ela pode ser contra-intuitiva. Ela pode contradizer preconceitos profundamente arraigados. Ela pode não ser consonante com aquilo que desesperadamente queremos que seja verdade. Mas nossas preferências não determinam o que é verdade. Temos um método, e esse método nos ajuda a alcançar não a verdade absoluta, apenas abordagens assintóticas da verdade - nunca lá, apenas mais e mais perto, sempre achando novos e vastos oceanos de possibilidades não descobertas. Experimentos projetados inteligentemente são a chave.
Na década de 1920, houve um jantar em que o físico Robert. W. Wood foi requisitado para responder a um brinde. Era um tempo em que as pessoas se levantavam, faziam um brinde, e então selecionavam alguém para responder ao brinde. Ninguém sabia a que brinde pediriam que respondesse, portanto era um desafio para os perspicazes. Nesse caso o brinde era: "À física e à metafísica." Por metafísica queria-se dizer algo como filosofia - verdades às quais podia-se chegar apenas pensando sobre elas. Wood levou um segundo, deu uma olhadela sobre ele, e respondeu nesse teor: O físico tem uma idéia, ele disse. Quanto mais ele pensa sobre ela, mais sentido ela faz para ele. Ele busca a literatura científica, e quanto mais lê, mais promissora a idéia parece. Assim preparado, ele planeja um experimento para testar a idéia. O experimento é apurado. Muitas possibilidades são eliminadas ou levadas em conta; a precisão das medições são refinadas. Ao final de todo esse trabalho, o experimento é completado e... a idéia mostra-se inútil. O físico então descarta a idéia, limpa a mente (como eu dizia a um momento atrás) da confusão do equívoco, e muda para outra coisa.
A diferença entre física e metafísica, Wood concluiu, é que a metafísica não tem laboratório."
Excerto da Skeptical Enquirer, Volume 19, Edição 1, Janeiro-Fevereiro 1995. © 1994 Carl Sagan.
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