quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Pisão no pé

Como sujeito que vive cotidiana e profissionalmente a comunicação, reconheço: a campanha do Coiso na TV melhorou do primeiro para o segundo turno. Digo, em termos de propaganda. Eles estão explorando os medos, as meias-verdades e demais assuntos, preconceituosos ou não, com muito mais astúcia e simpatia. Serão os marqueteiros do Aécio?

Já a campanha da Dilma parece patinar, perdida, sem rumo definido. Pelas declarações que li, quem está no comando acha que vai ganhar jogando limpo, somente “debatendo projetos de governo”.

Não sei, não. Em vez de discutir a relação – quer dizer, discutir proposta – deveriam revisitar o pensamento dos grandes nomes da retórica. Gregos, romanos, filósofos italianos, os alemães, sei lá.

Porque isso não é aquela conversa de casal que discute visando ao bem comum, cada qual com boas intenções para resolver suas diferenças.

Aqui, a história é ganhar a discussão – mesmo.

Numa eleição, o negócio não é o candidato ter a autoconsciência tranqüila de possuir as melhores idéias para os interesses da coletividade. Não é se manter, tal qual estóico, como uma estátua impávida enquanto lhe jogam tomates na cara e milhares de cupins devoram seu palanque.

Numa eleição, amigo, o negócio é jogar para a platéia.

Isso não é desonestidade. É malandragem. Pergunte a Jota Cristo.

Quando um alto membro dos fariseus – ou do Sinédrio, ou alguém do grupo religioso que tinha poder em Jerusalém com a conivência dos romanos ou um integrante qualquer do PSDB-DEM da época, não sei - o interpelou publicamente a tomar partido, se os judeus deveriam ou não pagar o tributo a Roma, o bicho não foi malandro? Se dissesse não, poderia ser preso, acusado de atentar contra o Império. Se dissesse sim, mostrava tibieza decepcionando a massa esperançosa que o seguia e o considerava o Messias que haveria de libertar o povo oprimido.

E o que Jota Cristo respondeu? Escapou da cilada perguntando às cobras farisaicas: - Quem está cunhado na face desta moeda? O Filho do Homem sabia, o Sinédrio também sabia. Mas o tal dignatário respondeu mesmo assim: - Ora, tu sabes que é César! Então foi a vez do Nazareno perguntar pra turba: - Quem está na face desta moeda? Todos gritaram: - César!

A resposta de JC foi o que você, leitor, também já está careca de saber: - A César o que é de César. A Deus o que é de Deus, a mim o que é meu.

* * *

Malandragem, como habilidade retórica, não é jogar sujo. É colocar o adversário em xeque, fazendo o jogo sujo se voltar contra o quem o empreendeu.

Como em Menina de Ouro, do Eastwood, o adversário joga sujo: dá cotovelada, acerta abaixo da cintura, bate depois de soar o gongo. E nada das infrações serem punidas. Não digo aqui uma defesa do vale-tudo, absolutamente, mas é ingenuidade achar que vai dar pra ganhar só lutando “o bom combate”. Você viu o filme.

Dilma: quando houver clinch e o juiz não estiver olhando, pisa no pé dele.

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