terça-feira, 2 de novembro de 2010

Vitória

Tive o privilégio de conversar com um debatedor de - chamemos assim - "direita" realmente formidável. Lúcido, persuasivo, quase implacável, com uma memória assombrosa e argumentos poderosos.

Foi por pouco tempo, e deu vontade de conversar mais, sobretudo porque, embora eu não tenha partido para a conversa com o intuito de convencê-lo da minhas - chamemos assim - posições de esquerda, saí com a impressão de que nossa prosa não logrou ser reduzida às idéias essenciais, como eu queria: tirar da carne dos nossos discursos antagônicos tudo o que fosse superficial e acessório para chegar lá no osso.

Mas ele tem (não que precise ou se importe) todo o meu respeito.

Serra, não.

O discurso e as atitudes políticas do Serra e de seus correligionários antes, durante e até depois da campanha, como se viu no seu pronunciamento pós-eleição, são passíveis de várias, várias críticas - do ponto de vista da honestidade, responsabilidade e da ética.

O que se entende grosseiramente por "a direita" sempre vai existir. É histórico, é da humanidade. O que as forças aliadas a Serra representaram não eram um contraponto crítico, mas sim a dissimulação, a desinformação, a apropriação indébita da religião, o multipreconceito contra pobres e nordestinos, o cinismo e a ultra-hipocrisia.

E sabe com o que isso se parece? Me desculpem a sinceridade, serradores (como diz a Bibi): não é possível manter um diálogo com algo que a cada dia parecia mais e mais um arremedo tupiniquim da Klu Klux Kan.

Até pra começo de conversa, precisamos de uma direita com idéias.

* * *

Valeu a vitória.

Contra a Veja, a Folha, a Época, o Estadão, o Jornal Nacional, o Globo, a Globo, contra a imprensa internacional neoliberal (Financial Times, Newsweek, etc), contra a "bolsa-esmola", contra o preconceito de classe, contra setores religiosos conservadores, contra o Papa, contra tudo.

Agora, Dilma: abre seu olho. Porque o olho do PIG já está aberto. E o nosso, aliado porém crítico, também.

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