quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Per inciso

A propósito, antes não dei mas agora darei meu pitaco, que, como se sabe, esperam os leitores deste blog e a imprensa mundial.

No recente torneio mundial, realizado na Itália, Bernardinho - sem dúvida o mais competente treinador de esporte coletivo da contemporaneidade - cravou uma tremenda bola fora.

Essa mentalidade que hoje permeia nossos esportistas, muitos comentaristas, o colega de trabalho, o amigo de copo e, preocupantemente, nossa juventude, filhos e quetais, é somente um sintoma de, digamos, um tempo triste. Mas que se deve enfrentar, visto que o que entendemos como esportividade - esportividade mesmo - não pode e não deve diagnosticada levianamente como vitória a qualquer preço.

Essa doença - ganhar a qualquer custo - esvazia dos triunfos o que têm de mais precioso: o valor de seu mérito indiscutível.

No paroxismo: é melhor perder a Copa com Zico e Cerezo em 1982, por exemplo, do que ganhar o ouro em 1988 como Ben Johnson.

Por Nelson e seus Bigodes Buliçosos! Que importa se ganhar uma partida implica pegar um adversário teoricamente mais forte? Ou que comprometa fisicamente tua equipe, no caso de ser bem-sucedida naquela etapa, para os confrontos finais da competição? Ou, ainda, que as regras da competição tenham sido elaboradas no voleio de dados viciados?

Bobagem! A vitória, se sobreviesse ao final contra tudo e contra todos, imporia à tal equipe o risco de se eternizar em uma página de glórias imortais.

Como disse Mestre Tusta outro dia: a ética tem de estar acima da razão.

A quase contrição e o declarado constrangimento que o treinador da seleção masculina de vôlei e alguns dos seus comandados demonstraram por conta desta questionável conquista já é um sinal de que, lá no fundo, sabem que erraram e traíram suas convicções. E, por isso mesmo, mostram que são gente boa.

Não é uma nódoa na carreira de Bernardinho e seus bluecaps que vai conspurcar a carreira incomparável de vencedores. Mas será o detalhe: aquela manchinha de vinho que aparece na lapela da fotografia oficial do álbum de recordações da História. Vinho italiano, per inciso.


5 comentários:

MegMarques disse...

Muito bom, amore mío!

Bruno Perpetuo disse...

Olá Rubão, sabe velho, eu penso (ou pensava) exatamente isso até pouco tempo atrás. Mas houve um fato que alterou(?) minha percepção sobre o caso. Disse um sociólogo (que não lembrarei fonte agora) que a ética só pode ser julgada dentro de cada realidade que se insere. A ética do trabalho, a ética social, a ética esportiva e por aí vai. Ou seja, segundo ele, dentro da ética da competição, a vitória é a única variável passível de desdobramentos analíticos, e a mesma só é quebrada quando vai de contra as regras dessa competição, ou quando são utilizados artifícios extra-campo, ou quando colocam em risco (físicos) seus adversários além do padrão esperado em cada modalidade. Assim sendo, acho hoje(?), que talvez a ética não foi a vítima primordial nesse ocorrido.
Afinal, ali pode ser tudo, é negócio, é competição, é jogo... menos esporte.
No fim, a atitude foi questionável. O público, vítima. E o bom senso nas justificativas e respostas, esquecido.
Acho que acho isso, rs... ou não! Mas, de qualquer forma, o texto é um alento de um mundo que eu também gostaria que assim fosse.
Abs

Rubão disse...

Bruno, acho que vale teu contraponto. Até porque ele nos remeteria a perguntas outras, mais amplas e viscerais, de natureza filosófica.

Aparentemente, tudo é discutível. Ou, caetanamente, não?

Pelo sim, pelo não, se fosse alguma coisa boa não tinha nego por aí se questionando e se sentindo mal.

Lá fora, o papo é um. Por dentro, sozinho, o papo é outro. A gente sempre sabe.

Rubão disse...

Grazie, Amore. Mas, como diz o Toni Ramos na novela, não tem per que.

Bruno Perpetuo disse...

É... Bom não foi MEEEEEEEEEEESMO, rs
Abs