sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pra mim faz sentido

Fechando a série do post anterior com o Nassif: a choradeira homogênea por causa da baixa dos juros.


O Banco Central e a confraria dos "juristas"

Antecipo a Coluna Econômica de domingo porque julgo que as informações aqui contidas são relevante. O que me chamou a atenção foi o Chrlez Nisz que pelo Facebook me alertou para uma "denúncia" de um blogueiro estreitamente ligado a um dos líderes dessa confraria:

"Se eu fosse da área de economia ou do tal “jornalismo investigativo”, já estaria tentando saber, a esta altura, quem, no mercado, ganhou com a redução dos juros. Convenham: dado o andar da carruagem, era preciso ser porra-louca ou vidente para apostar numa queda de meio ponto na taxa. Como porra-louca de mercado já virou mendigo, e como videntes não existem, seria interessante saber como foi que alguns poucos, pouquíssimos, ganharam com a aposta. “Ah, mercado é assim mesmo, é risco!” Uma ova! Nem os poucos economistas que defendiam a redução acreditavam que ela fosse acontecer. O padrão dos últimos anos é corresponder às expectativas. Sim, há boatos de vazamentos. Eu acho que é meter a enxada nesse terreno para ver pular as minhocas. Dito isso, sigamos".

Esse trecho ajudou a matar a charada, com uma única diferença: o exercício do "insider information" não estava com quem ganhou (como a mão que dirigiu o tiro do blogueiro pretendeu insinuar), mas em quem perdeu. Pela significativa razão que, desta vez, pela primeira vez em muitos anos não houve vazamento da decisão do Copom.

Acompanhe o artigo:

A decisão do Banco Central de reduzir a taxa Selic em meio ponto desmascarou pela primeira vez um dos mais deletérios e antigos personagens da vida econômica brasileira: a confraria dos "juristas", um grupo que inclui de algumas consultorias econômicas, alguns economistas ligados a bancos, aliados a alguns comentaristas econômicos formadores de opinião na velha mídia, que nos últimos anos conseguiu se apropriar completamente da política monetária do BC.

Não se trata do mercado como um todo, mas de um grupo que jogou com informações privilegiadas, ganhando em cima dos demais segmentos do mercado.

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Vamos por partes.

O mercado futuro de qualquer ativo embute uma aposta e dois apostadores. Digamos que o preço futuro esteja em 100. O apostador que acha que o preço vai para 105 "compra" o contrato a 100; o que acha que o preço vai cair, "vende" o contrato a 100. Se o preço for a 105, o que "comprou" a 100 ganha a diferença de 5; o que vendeu a 100, perde a diferença. Portanto, há sempre um lado que ganha e outro que perde.

O ponto central desse jogo, a ser garantido pelas autoridades reguladoras (BC), é a isonomia das informações. Ou seja, todos os agentes têm que ter acesso às mesmas informações. A desobediência a essa regra caracteriza o "insider information", a informação privilegiada, tipificada como crime financeiro, obrigando à interferência do Ministério Público e da Polícia Federal.

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Nos últimos dias houve uma grita infernal da confraria dos juristas, sustentando que o BC tinha perdido a credibilidade, que não conseguiria mais articular as expectativas do mercado.

Como assim? Antes da reunião do Copom houve queda nas taxas futuras de juros, significando que o mercado, por maioria, havia assimilado os sinais do BC e apostado na queda de juros. Quem não apostou foi um segmento específico que poderia ter ganhado milhões caso o BC tivesse mantido a taxa Selic. E ganhado milhões em cima dos que achavam que a taxa ia cair.

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Por que essa minoria barulhenta achava que os juros permaneceriam imóveis, se a maioria do mercado, analisando os sinais do BC, apostava na queda? Porque essa minoria julgava ter informações que a maioria do mercado não tinha. Na verdade, sempre trabalhou com informações privilegiadas do BC.

No período de Henrique Meirelles, denunciei algumas vezes reuniões de diretores do BC com economistas de mercado. Não eram reuniões abertas a todo o mercado. Participavam dela o mesmo conjunto de economistas que têm mais vocalização na velha mídia, as fontes preferenciais, justamente aqueles que estão berrando contra a decisão do BC.

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Com a decisão do Copom desta segunda-feira, desnudou-se o jogo. Há o mercado em si e, nele, a confraria dos "juristas". E os ganhos desse pessoal se dava em cima dos demais agentes do mercado, baseados em informações privilegiadas que recebiam do BC.

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Portanto, a partir de agora não se fale mais do "mercado" genericamente, nem de "porta-vozes". Todo esse coro de lamentações ouvido nos últimos dias ajuda a mapear os elos dessa confraria de "juristas".

Seria bom que autoridades em geral começassem a olhar com mais presteza esse jogo.

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