Para distrair-nos, pai cantava uma musiquinha de brincar com faca pererecando nos intervalos dos dedos da mão. Uma canção aprendida não sei onde e de termos exóticos de significado desconhecido.
Googlei e descobri um registro - Pintalainha:
Pintalainha de canavitinha
Pintou na barra de 25
Mingorra, mingorra de cantiforra
Tira esta mão que já está forra
Mas não era assim que a gente cantava. Numa corruptela generosa, se não engana a lembrança, o nome era Canivetim da Pintainha:
Canivetim da Pintainha
Pintou na barra de 25
Migorra, migorra do catiforra
Veio o Rei Mané João
Deu-lhe quatro bofetão
Recolhe este dedão
Que é do cocho do mamão.
Enfim. Isso era pra distrair menino. As outras canções, pra embalar no sono, tinham mais, digamos, o meu perfil.
Su-su,
Neném do baú:
Cara de rato
Fucim de tatu
E, algumas delas tão sui generis e estranháveis quanto estas anteriores, em roteiros que envolvem ameaças de morte, assassinatos, canibalismo e outras delicadezas - tudo para ninar o peste que não dorme e nem deixa dormir:
Tutu Marambá
Não venhas mais cá
Que o pai do menino
Te manda matar.
Outra clássica, "Dorme Neném", com a já requintada advertência de abandono infantil:
Dorme, neném
Que a Cuca vem pegar
Papai foi pra roça
Mamãe foi trabalhar
E a antropofágica, que chamo de "Tangolarilango":
Ô Jesuina!
Ô Dolmanata!
Tangolarilango Larizê!
No fim do mundo
Onde tu for,
Eu vou te comer.
E hoje, tirando uma certa rabugice crônica, eu sou completamente normal.
5 comentários:
hahahahaha, quem diria, com tantas ameaças de infanticídio, que as pessoas conseguem crescer e se tornam adultos normais!
Quem, adulto normal?
Dra.,
as ameaças não se dirigiam aos infantes e sim aos fantasmas qe atormentavam o sono do Rubão e irmãs. Até hoje embalo o sono de bebês que porventura me venham ao colo.
Rubão: é de tradição; aprendi com meu pai e transfiro para você usar com seu(s) herdeiro(s)! Não importa o significado, a sonoridade (ou a chatice das repetições incontáveis que eu usava) é que fazia você, por enfado, preferir Morfeu.
A.None Moh
Eu sei, A None Moh. Registrei a curiosidade: cantos infantis, quanto mais tenebrosos, mais interessantes.
Abraço,
r
Que bacana! Agora vou aprender a cantar direito! Eu falava alguns versos de um jeito diferente.
Abraços!
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