À exceção talvez do ponto de vista da segregação racial histórica nos Estados Unidos, ainda é muito cedo para saber o que a vitória de Obama nas urnas pode significar para o resto do mundo. Que, ontem, prendia a respiração enquanto milhares de americanos permaneciam até 4 horas em filas para confirmar o voto, num ânimo democrático como nunca se viu na história daquele país.
Mas, talvez, a presidência dos EUA ocupada por um negro seja mais do que uma efeméride racial. O difícil é definir qual a mensagem. Eu ia dizer que Obama era um exemplo de até onde a educação pode levar uma pessoa humilde, mas me lembrei do Lula. Seja como for, por mais distorções que o libelo preferido dos americanos - “terra da democracia e das oportunidades” - possua, nada contraria os fatos. Alçaram pela primeira vez à Casa Branca um “afro-descendente”, filho de imigrante queniano e muçulmano, e que ainda por cima se chama Hussein Obama! Depois vá dizer que os americanos não são empreendedores.
Quem sabe o melhor exemplo da eleição de Obama seja o que uma atitude prática - pode ser a sua, pode ser a minha - é capaz de fazer e o seu poder de transformar uma realidade, mesmo que vá contra as leis vigentes e que seja virtualmente impossível de se ver aonde aquilo vai dar ou estar aqui presente como testemunha. Desde Rosa Parks, aquela que se recusou a ceder o lugar para uma branca no ônibus no Alabama, na década de 50 - o que desencadeou uma série de reações de movimentos pelos direitos civis, projetou líderes como Martin Luther King, garantiu aos negros a ampliação de seus direitos constitucionais - e que essa resistência tenha talvez em um Obama seu produto mais bem acabado.
Segregação à parte, a responsabilidade do presidente eleito dos EUA é gigante porque, como sabemos, a decepção é diretamente proporcional à esperança. A ascensão de Barack - “O abençoado”, em árabe - ao trono do Império Romano contemporâneo deveria preocupar todo o resto do planeta mais pela capacidade dele de fazer um bom governo e de uma política externa e ambiental decentes do que pelo tom de sua pele. No fim, o juízo que importa não é a cor de cada caráter?
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