terça-feira, 6 de maio de 2008

Velejo

Juju Motoca, a mais velha das minhas irmãs e seu noivo já acertaram a data: 10 de julho de 2009. É o que conta Mãe, ao telefone, entre outras providências e urgências que tais. Digo pouco, ou digo nada, concordo com tudo e a ligação se desfaz.

Paro um pouquinho e fico pensando no que é o casamento, no que significa. Outro dia li a jornalista Leila Ferreira contando que ela é melhor ex-esposa do que esposa, que continua vendo o ex, e a relação deles foge aos rótulos tradicionais (embora tenha sentido no texto uma insegurançazinha dela). A bem-sucedida publicitária Cristiana Guerra também havia optado por uma relação semelhante, casas separadas, agendas distintas, quando o companheiro ainda era vivo e o filho não tinha nascido. Leila, que eu saiba, não tem filhos.

Há mais exemplos por aí, certamente.

Será tendência ou modismo? O formato de casamento, em sua métrica tradicional, está sob risco de ruptura? São estes sinais de uma fórmula gasta, incapaz de solucionar a complexa equação que é viver a dois? E, indo além, será que o molde que conhecemos foi solução algum dia? Se cada caso é um caso, em que termos se pode classificar seu êxito: quantitativos - por tempo de duração - ou qualitativos - infinito enquanto duro?

Não conseguiria julgar um e outro modelo como melhor ou pior, por mais sinais de força, resistência, obsolescência ou contemporaneidade que manifestem.

Posso me equivocar, mas desconfio de que a existência de pequenos no relacionamento exerce um fator considerável na decisão do casal de viver embaixo do mesmo teto. A presença de um homem e uma mulher (ou quem quer que faça esse papel hoje em dia) me sugere, por mais utopia ou lugar-comum que pareça, que ajuda a criar um certo clima de equilíbrio dentro de casa. Claro que os perigos que rondam a convivência são enormes: desgaste, intolerância, rotina. Mas os ganhos também não são menores: os pequenos grandes momentos de vida que se compartilha, o um por todos e todos por um e, claro, segurança.

Por contingências que pouco me dizem respeito e às quais nem querendo teria controle, tive Pai deixando minha casa quando tinha dez anos de idade. Pô, fez uma falta que nem dá pra imaginar. Mas, Mãe sempre segurou a barra com uma valentia danada, e, ainda assim, a despeito de tudo que vivi, não é essa vicissitude que há de me resgatar definitivamente do mar de dúvidas sobre casamento, união, o fado de se ser sozinho junto ou separado e a felicidade de se ter alguém para esquentar os pés debaixo do cobertor ou passar a pasta na escova de dentes.

Velejemos, então, já que nesse ínterim não se avista terra firme. Vamos seguir a jornada sobrevoando as ondas porque falta de certeza também nunca foi motivo pra ninguém ficar parado. Mesmo que percorramos mares nunca dante navegados.

Vai, Ju, velejar com coragem, que meu amor fraterno seguirá você além da linha entre o céu e o mar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Mãe, só há uma.
Pais, vários há.
Inclusive aqueles que, numa separação, disfarçam as lágrimas e, em vez de brigar pela guarda de filhos ainda menores, RENUNCIAM à sua companhia, faltam-lhes com sua presença (que sabem importante) porque supõem, talvez erroneamente, que eles, filhos, em sua aparente fragilidade, sejam a mão forte em que sua Mãe se agarre para evitar o naufrágio psicológico.
A.None Moh

Rubão disse...

Esquenta não, A. None Moh. Grande abraço,
r

Anônimo disse...

Rubens,

Estou lendo seu texto "Velejo" e me emocionei.
Orgulho-me de você e agradeço a Deus pelo filhão que me deu.
Somos uma família abençoada.

Te amo de montão.

Bjão

Sua mãe

Rubão disse...

Uai, mãe! Estreando nos comentários, que honra! Seja bem-vinda! Te amo tamém!

Bjão,
r

Rubão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.