Não sei vocês,
people - mas frio me dá vontade de comer manteiga.
Talvez algum resquício das eras australopitecas; um imperativo orgânico de auto-preservação; um gatilho biocelular primitivo que deflagra a compulsão de consumir e estocar o máximo de gordura enquanto soprar esse ventinho gelado aqui na Raja Gabaglia.
Não sei. Só sei que, num entardecer invernal, nada como um pãozinho com manteiga e um cafezinho, hein? Hein?
Outra manhã, fui passar a faca num tablete congelado e a lasca que recolhi mais se assemelhou a uma fatia de requeijão, rotunda que estava.
Ok, eu sei; olha o coração, olha as artérias. Ô, peraí! Gente, é inverno. Uma porção a mais de manteguinha pra mó de forrar a torrada não mata - a não ser esse desejo vindo das entranhas.
E o requinte supremo de molhar o pão (ou biscoito) lambido de manteiga na xícara de café, e levá-lo ainda quente à boca, pingando ouro derretido?
Ora, ora - não, não, não - não profanem dizendo que é porcaria! O desalmado que nos censura por má educação parece ser aquele tipo de pessoa que nunca, nem secretamente, teve o gozo, o prazer, a deliciosa indulgência de buscar o doce de leite no pote com a mesma colher, mais de uma vez e uma vez mais.
Queridos, abracemo-nos à áurea consistência amarela. Que venham as tempestivas borrascas, que venham as temíveis temperaturas, que venham os ventos ferozes: - Temos manteiga!
Pois como bem ensina O Último Tango em Paris: amanteigado, todo prazer será legítimo.