quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Subscrevo

Do João Ubaldo:

"A essa altura, eu escrevo porque não tenho outro jeito. Eu me convenci de que escrever é a única coisa que sei fazer e de que tenho alguma coisa para dizer. Numa entrevista à Libération, depois de ter pensado muito, cheguei à conclusão de que escrevo porque quero; porque, no fundo, o meu escrever é reduzível a isto; não a um ato voluntarista, mas a um ato de decisão, um aspecto do livre-arbítrio. Você tem aquela vocação, você tem de deliberar uma hora na vida o que é que você vai fazer. Existe um velho verso em português (que não é assim mas a expressão ficou): ‘Não se pode passar pela vida em brancas nuvens’, sem ter feito nada. Então, eu escrevo por isso, para não passar pela vida em brancas nuvens".


Do Millôr:

“Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava. Pergunta feita a todos os escritores, desde o princípio dos tempos, antes mesmo da invenção da escrita: Por que você escreve? E eu respondo.

Imitando o dito popular dipsomaníaco: “Bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comia” atribuído a todo mundo porque não é de ninguém (provavelmente foi dito pelo primeiro bêbado), eu esclareço: “Escrevo porque escrevo, se me pagassem eu só falava”. Nunca procurei, pleiteei, um emprego na vida. Quando vi me pagavam pelo que eu batia à maquina (é, já havia a máquina datilográfica, sucessora gloriosa da caneta-tinteiro, substituta da caneta, do tinteiro e do mata-borrão!!! Por pouco não peguei a pena de ganso) e muito até. Dava pra pagar a pensão, pelos versinhos gloriosos das GAROTAS do Alceu, quem quiser saber o que é, ou era, isso, que pesquise. Ia escrevendo, e o que saia, vendia. Ás vezes já maluco, psicodélico, contestatório, surrealista. Tudo, naturalmente, sem saber.”



4 comentários:

Anônimo disse...

Eu invejo (no bom sentido da palavra, como diria o Kafunga) um João Ubaldo, um Millôr Fernandes. E outros tantos. De onde tirar tanta criação e transpor tudo isso para a folha virgem do papel? Será que decorre do 'ócio criativo' de que fala o Domenico di Masi? Já imaginou, encostar-se no tronco de uma árvore, à beira de um lago e deixar os pensamentos fluirem, leves e soltos e irresponsáveis, um lápis tamborilando o joelho e, vez ou outra, fazendo anotações num papel pardo da padaria onde compraste o pão da manhã?
Depois, um dia, alguém se interessasse por aqueles rabiscos e os julgasse publicáveis? E você, de repente, fosse citado na coluna de um crítico literário? Hein? Hein? O parâmetro, nesses casos, vem das tiragens das editoras e do número de livros vendidos.
Neste mundo da informática, você sabe se está "vendendo" é pelo número de acessos no seu blog ou site, não é? A.None Moh

Rubão disse...

Hmm. Sim, de fato. Mas acho que você abordou assuntos diferentes num só comentário.

Esses caras, de cujos talentos comungamos boa inveja, tavam falando sobre a o por quê escrevem.

Voltando ao meu mundinho, suspeito que talvez não tenha ficado claro que não tenho nenhuma ilusão literária ou de popularidade internética.

Escrevo, de um jeito ou de outro, porque preciso.

Anônimo disse...

E o fazes bem.
A.None Moh

Ana S. disse...

Eu gosto muito da justificativa do Caio Fernando Abreu:
"Continuo a pensar que quando tudo parece sem saída, sempre se pode cantar.
Por essa razão escrevo."
Não é lindo? Está no início do "Pequenas Epifanias". Aliás, lá também está uma crônica chamada "Existe sempre alguma coisa ausente" que todos que já foram ou vão algum dia à Paris deveriam ler.