quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O mundo sem livros

Visto que minha esposa e eu temos o hábito da leitura, espero que o relato não soe pedante - afinal, À exceção de alguns arroubos que considero normais dentro do padrão de qualquer ser humano, acredito que nenhum de nós é de se deixar seduzir por este tipo de afetação ou vaidade.

Outro dia, pesquisando na web fotos de ambientes internos, projetos de decoração de arquitetos, Meg observou como era comum a ausência de livros. Mesmo quando os clientes eram, digamos, advogados - nos quais caberia a inferência de que era uma profissão que decerto exigiria uma pequenina biblioteca particular. Qual o quê. Gente com grana, bem de vida (suponhamos que o sejam, pois podem bancar um projeto de decoradora com mobiliário fino e materiais de primeira) com suas salas, salas de estar, corredores, escritórios (rome-ófices), quartos íntimos... sem um par de livros. Ou então tudo escondido dentro de armários e prateleiras.

Pode ser nada demais. Mas também pode ser o indicativo de uma tese de sociologia de botequim, acerca da decadência do livro, sobretudo no espaço/tempo do homem contemporâneo e principalmente quando confrontado com outras formas de entretenimento cultural e midiático.

Sem entrar no mérito da qualidade dos livros que recebem destaque nas prateleiras das páginas na internet ou de qualquer livraria de xópein que você entrar, o fato é que, pra mim, os livros são metonímia para algo muito mais importante. São veículo para o conhecimento e a reflexão. São necessários. São imprescindíveis. E não desligam com a falta de energia elétrica. Qualquer eventualidade, é só ter fósforos e velas à mão.

Aí é que está. Os livros estão sumindo dos ambientes domésticos e públicos - a polícia de NY não recolheu tudo o que os ocupantes tinham disponibilizado gratuitamente em Wall Street? Meu medo é esse. Quando os livros desaparecem, o que resta, mesmo à luz do meio-dia, é sempre a escuridão.

DESRESPEITO À MEMÓRIA> Em NY, as forças policiais não homenagearam
Savonarola e Hitler com uma fogueira pública.

3 comentários:

MegMarques disse...

Já pensou no dia futuro em que os contos de Borges não farão o menor sentido?

As pessoas lerão com estranheza a descrição de bibliotecas infinitas, fantásticas e paradisíacas.

Vão achar que entrar numa biblioteca é assim como acessar um kindle de super memória.

Rubão disse...

É talvez paradoxal. Porque talvez haja cada vez menos bibliotecas. Por desprezo do poder público vigente ou desinteresse da coletividade, o fenômeno que vem acontecendo na Inglaterra talvez possa ser generalizado para outros países. Por outro lado, não creio que os livros estejam em extinção - senão dos lares e ambientes privados.

K disse...

Uma vez li que uma casa sem livros pode até nao ser uma casa desagradavel , mas o dono dela certamente o sera.