domingo, 30 de outubro de 2011

Não tem bonzinho



Estranho mundo, esse.

Não acredito que nenhuma nação tem prerrogativa de interferir em outra, no que tange a questões internas. Prerrogativa moral.

Há,mesmo, controvérsias históricas, por exemplo, da intervenção americana na segunda guerra. Tanto do ponto de vista ideolólogico quanto econômico. Existem dúvidas se Roosevelt realmente sabia ou não da iminência do ataque de Pearl Harbor. E se a intervenção americana na Europa não seria, no fim, um grande negócio.

Eu tenho medo. Serei malicioso: não creio em boas intenções de ninguém, invadindo país nenhum. Não duvido que seja possível tanto quanto acredito que seja muito raro. É preciso um tipo de comoção especial e total.

Subsidiar a ideia de uma policia planetária me parece ou um perigo ou uma utopia conveniente (a quem, caberia perguntar) - ou ambas as coisas juntas.

Logo, logo, alguém, algum grupo se advoga detentor do poder de ditar o que é melhor para o mundo. Segundo, perdão pela falta de versatilidade vernacular, seus próprios ditames.

Democracia e liberdade são as ideias mais estupradoras do século 20 e deste que vivemos.



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Brillat-Savarin


Dedilhei ontem as primeiras páginas de A Fisiologia do Gosto, do Jean Anthelme Brillat Savarin, tida como o Gênesis da gastronomia na literatura ocidental. Pertencente a uma família de advogados e juízes, o Brila era bem de vida, e sobreviveu às reviravoltas da Revolução Francesa com astúcia e tirocínio.

Mas não era isso o que eu queria dizer.

Encontrei um prefácio à altura dos de Borges. De outra ordem, de outro estilo, mas similares em sedução, elegância e encantamento. Prosa de se ler sorrindo.

Esses franceses, cheios de mesuras...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Novas cruzadas

Se a gente dá de ombros hoje para a curra da Líbia pelos EUA e países europeus - com seus governos hipócritas - e para a divulgação mórbida das imagens do Kadafi pela grande mídia ocidental - que valores estamos transmitindo para as novas gerações? - amanhã a OTAN tá descendo seus helicópteros em algum ponto da selva amazônica em nome da liberdade, democracia e autonomia das nações indígenas.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tomografia pormenorizada da atualidade

Ocupado com o trabalho, reproduzo mais uma, do Paulo Henrique Amorim.

PiG não é PiG porque denuncie a corrupção.
Por que o PiG é PiG

    Publicado em 25/10/2011
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O sistema político brasileiro por definição é corrupto.

Não mais que o americano, o italiano, o russo ou o mexicano, por exemplo.

Mas, corrupto é.

Nos acima citados sistemas, a Caixa Dois, a sobra de campanha e a sujeição aos interesses dos financiadores são goiabada com queijo.

Uma das formas centrais do sistema político corrupto – como nos acima mencionados – é o acesso à televisão.

Tempo de tevê vale ouro – e voto.

E a manipulação do acesso à tevê é uma das causas do descrédito dos partidos e dos homens públicos nessas grandes democracias.

O noticiário político só faz equiparar a atividade público a reality show de ex-prostitutas.

Outra causa é a notória impunidade.

O sistema judicial torna-se cúmplice e parte de um sistema que se nutre de corrupção.

O financiamento público e uma Ley de Medios podem atenuar a penetração da corrupção no sistema político.

No Brasil, à parte a geneneralizada impunidade – que se acentuará com o fechamento do Conselho Nacional de Justiça pelo Supremo -, há um fenômeno que não se repete em nenhuma das citadas democracias.

É a concentração do PiG (*).

Três famílias – Marinho, Frias e Mesquita (by proxy) – , dominam a tevê, o rádio, o jornal, as revistas, as agências de notícias e portais na internet.

(A família Civita, expulsa da Argentina, no Brasil explora outro ramo de negócio, que não o jornalismo.)

Três famílias – duas em São Paulo e outra no Rio, a Globo, que, porém, trabalha para o IBOPE de São Paulo – dominam o conteúdo da informação e a agenda de debates de um país de 200 milhões de almas, com uma maravilhosa e suprimida diversidade cultural.

O papel central do PiG é derrubar os Governos trabalhistas, onde, apesar de todo o bom-pracismo dos governantes, os negócios empresariais do PiG enfrentam mais obstáculos.

Quando os Neolibelês (**) estiveram no Governo, o PiG sentava-se à mesa do banquete.

O PiG não é golpista porque denuncie a corrupção.

O PiG é golpista porque SÓ denuncia a corrupção dos trabalhistas.

Para o PiG, a massa cheirosa não rouba.

Nem roubou.

O PiG tem parte, tem lado, obedece a uma linha política, como o Ministro Gilmar Dantas (***): está sempre do lado de lá.

As denúncias de corrupção são apenas uma das faces do golpismo.

Outra é a fixação da agenda.

O PiG e o Congresso acabam por discutir só o que o PiG quiser.

O PiG determina a hierarquia: a ponte de 3,5 km sobre o rio Negro não tem menor importância.

Só teria se ficasse comprovado o esmagamento de um bagre na hora de fincar uma estaca.

Aí, sim, seria um Deus nos acuda.

Vamos sublimar, amigo navegante, a criminosa discriminação que o PiG pratica contra os atos dos governos trabalhistas.

Vamos por à parte o excepcional Governo do Nunca Dantes, aprovado por 80% da população.

Ou do Governo de sua sucessora, que segue a mesma trilha.

Vamos à Argentina.

Agora, com a acachapante vitória da Cristina, só agora se sabe que o maior eleitor foi a bonança econômica.

A Argentina bomba !

E aqui se tinha a impressão de que a Argentina era uma pocilga encravada na caverna do Ali Babá.

As atividades do PiG são, pela ordem, deturpar, omitir, mentir.

As denúncias de corrupção do PiG são bem-vidas, porém.

E devem servir de elemento para coibir o malfeito.

O problema é que no PiG se esvaecem como nuvens as denúncias de corrupção do outro lado: as ambulâncias superfaturadas; o Ricardo Sergio, o Preciado, o Paulo Preto, o Daniel Dantas, o Robanel dos Tunganos; a concorrência do metrô de São Paulo; o mensalão de Minas; a empresa de arapongagem do Cerra paga pelo contribuinte paulista; os anões do Orçamento da Assembléia tucana de Sao Paulo.

Tudo isso se lava com água e sabão vai embora pelo ralo.

E a corrupção da empresa privada ?

Os subornadores, os financiadores dos políticos ?

Quem compra os políticos ?

A Madre Superiora ?

Quem ganha todas as concorrências e não perde uma na Justiça ?

Quem são e o que fazem os que a Evita Peron chamava de “oligarcas de mierda ?”

Por que no Brasil não tem empresário ladrão ?

Nem rico na cadeia ?

É por isso que o PiG é golpista.

Porque é cúmplice, beneficiário e arauto dessa máfia do poder, como diz o Mino.

As denúncias de corrupção são a face branda quase pueril do PiG.

Vamos pegar o PiG pelo gancho: vamos fazer uma Ley de Medios.


Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

(***) Clique aqui para ver como um eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para vercomo outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele.

Discernimento: tome uma dose a cada oito horas

A era da selvageria

O vale-tudo da informação chegou a um ponto sem retorno.

Historicamente, as jovens gerações de jornalistas entram com todo gás, querendo fazer carreira e, para tanto, seguindo os critérios de avaliação das direções. Se os critérios são tortos, forma-se uma geração torta. Foi assim com o rescaldo da campanha do impeachment, que consagrou os profissionais que mais atentaram contra os princípios jornalísticos, os que mais inventaram notícias, que se apossaram de matérias de terceiros.

O momento atual é o mais escabroso da moderna história da imprensa brasileira.

Na transição de gerações, existem os jornalistas experientes, servindo de referência e de moderação para os mais apressados. Cabe a essas figuras referenciais ensinar os limites entre jornalismo e ficção, o respeito aos fatos e as técnicas que permitam tornar as matérias atraentes sem apelar para a ficção ou para os ataques difamadores. Principalmente, cabe a eles mostrar os valores universais da civilização, o respeito ao direito sagrado da reputação, o pressuposto de que as acusações precisam vir acompanhadas de provas ou indícios relevantes, o direito de se ouvir, sem viés, a defesa do acusado, o uso restrito do jornalismo declaratório.

A questão é que esse meio campo está com lacunas.

O episódio Orlando Dias mostrou jornalistas consagrados, que deveriam fazer o contraponto, ajudando a criar o clima de expectativa em cima das capas de Veja. São jornalistas que estão fartos de saber que a revista não segue princípios jornalísticos, que mente, difama, blefa, que promete provas que nunca aparecem. Mas não se pejaram de aproveitar o embalo para atacar adversários históricos.

Outros jornalistas, com história e credibilidade, preferiram recolher-se ao seu próprio trabalho, pela notória impossibilidade de remar contra uma tendência irreversível de consolidação do jornalismo de esgoto.

Fazem bem em se poupar e não tentar remediar o irremediável.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Recado

Há algo de estranho na exposição explícita das imagens horrendas do Kadafi nos portais eletrônicos de comunicação. Ou estou sendo apenas anacrônico, iludido por acreditar que, em cenas chocantes e de forte impacto, as mídias ainda guardariam certo recato? Embora hoje pareça que não haja mais ninguém que mande tirar as crianças da sala a despeito de qualquer tema ou conteúdo, o vídeo do ex-ditador sendo disputado por como um osso por cães famintos num frenesi de crueldade iminente, o rosto ensanguentado do general, a reação de líderes e jornalistas políticos entre vibrações de contentamento e ódio contidos, somados ao olhar vazio do cadáver a mirar a câmera... tudo lembra um recado.

E aí só resta saber quem são os verdadeiros emissores e quem são de fato os destinatários. Porque a mensagem é fácil.

Uma análise precisa aqui.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Biba, o gato

Estava no computador ontem à noite. Meninas na cama, Meg no banho. E eu, olho no ecrã, com uma mão no teclado, outra no Nelson. Eis que, de repente, sinto nos dedos uma consistência de pelos diferente. Era Biba, que havia se enroscado entre o labrador e minha mão para receber um chamego?!?

Ora, ora, quem diria.

Surpreso com a inesperada demonstração de docilidade – sobretudo comigo! – busquei seus olhos de gato. Se houvesse ali uma geringonça que traduzisse o pensamento animal para a linguagem humana, estou certo de que Biba estava me dizendo isto:

“Olhe, não torne as coisas mais difíceis pra você do que já é pra mim, ter que tolerar sua presença em minha casa. Tire já esse ar de palerma da cara porque não estou lhe pedindo carinho. Por acaso, estou passando neste trecho da sala e sua mão pendente da cadeira está no meio do meu caminho. Se eu vou e volto e ela continua por aqui, isso é um problema seu, não meu. Tenho meu orgulho de gato, minha independência. Você põe comida pra mim porque quer, posso muito bem me virar sozinho. Se eu quiser, é claro. Não pense que preciso de você. E não se faça de besta: se disser à Meg qualquer uma dessas suas besteiras e invencionices a meu respeito, te enfio as unhas.”

Lógico que fiquei calado. Mas conto aqui porque penso que no blog eu ainda estou seguro.

Nelso, Nelso. Abre o olho com esse gato.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

You may say I´m a dreamer


Filipinas, Taiwan, Tóquio, Melbourne...


Sonho

Sonhei que estava dentro de uma igreja. Em vez de velas acesas, os fiéis seguravam tulipas de chope . A cada etapa da missa, bebericavam. Na hora da comunhão, se ajoelhavam para receber uma batata Ruffles consagrada e voltavam, contritos, a seus lugares. E o padre levantava ao alto o cálice contendo cerveja de trigo.

Sério.





domingo, 16 de outubro de 2011

Até tu (ecos do post anterior)

Até a Vênus platinada reconhece o que se publica em Boêmios no Divã!

Pronto. Se passou na Globo, virou verdade. Quer dizer, no caso é Globonews.

Será que vai pro Fantástico?

Um negro no palheiro


Só porque não passa no Jornal Nacional não quer dizer que não seja verdade.

Maaas... desconfio que tem gente achando que tô exagerando. Vamos lá.

Segundo o The Guardian, há relatos de protestos não apenas em Wall Street e Londres, mas em 80 países. Ó o pau quebrando em Madrid:

Que horror! O quer quer essa gente? Faltou ingresso pros jogos do Galo?

Leia aqui, no El Pais. O mesmo tipo de manifestação se registra em Roma, Berlim, Zurique, Bruxelas, Jerusalém, Tóquio...

...e até nas capitais brasileiras, com os maciços movimentos populares "contra a corrupção" que a mídia brasileira não deixa de cobrir com afinco cívico. Como na passeata da Av. Paulista, onde um participante conseguiu enfim encontrar ao menos um negro.

Bom. Um negro é melhor que nada, não é mesmo?


sábado, 15 de outubro de 2011

Meu muro caiu

Condenado por maus construtores, ele teve sua pena executada na última tempestade de terça-feira. Não foi do cadafalso; foi na área do condomínio que chamamos de "a do gás". Agora, tememos pelas chuvas que podem provocar uma avalanche de microproporções no nosso quintal.

Claro que é uma reforma de responsabilidade do condomínio. Por isso mesmo, enquanto a gente se organiza para reconstruir o muro, prevejo gastos e desgastes por aí.

Já um movimento de outra natureza ocupa as ruas da capital da Bélgica, na Ágora Internacional de Bruxelas, a receber indignados de várias nacionalidades que chegam de uma longa marcha, vindo de distintos pontos da Europa. São protestantes contra o poder financeiro, político, militar e midiático. Eis o que dizem a respeito:

"...A sede da revolta europeia contra o sistema financeiro, as oligarquias que conservam o poder em caixas fortes, a impunidade, a democracia sequestrada por um punhado de privilegiados e os grandes grupos de comunicação que pintam a realidade segundo a multinacional a qual pertencem está em Bruxelas. "

A medida que passaram os dias convergiram para Bruxelas indignados da Grã-Bretanha, Grécia, Alemanha, Itália, Irlanda, Noruega, Dinamarca, Suécia, Holanda e Portugal. Os caminhantes chegaram a Bruxelas com um tesouro nas mãos: O Livro dos Povos. Na marcha em direção a Bélgica, os indignados realizaram nas localidades visitadas assembleias populares nas quais recolheram as queixas, ideias e reflexões dos habitantes.

“ninguém ficará surpreso com a universalidade dos problemas recolhidos no Livro dos Povos. Desemprego, corrupção, desperdício do dinheiro público, aumento dos impostos, diminuição dos investimentos em saúde e educação, problemas ambientais. Esses são os problemas do Universo”.

“não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros”.

“nossos sonhos não cabem em vossas urnas”.

Wall Street, Bruxelas, Europa. Eu tinha pensado nos anos 60, mas e se a internet permitir o início de uma reviravolta como o foi com a prensa de Gutemberg?

Enfim, não é só no meu quintal: parece que há outros muros caindo por aí.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Vivemos os novos anos 60?

Primavera árabe. Convulsões na Europa. O fogo pouco a pouco se espalhando, ocupando as ruas das grandes cidades do país mais poderoso no mundo.

Será que o mundo vive algo parecido com o final dos anos sessenta?

Será que daqui a 30 anos vão lhe perguntar onde você esteve naquela louca década de 10?

Hoje e sempre, o povaréu de todas as nações não quer muito mais do que viver apenas em condições suportáveis.

Mas quem mandou demolirem sistematicamente o welfare state?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Registros

Ontem chego em casa tarde, vindo da boemia, e encontro um presentinho da Meg à minha espera. Uma linda camiseta.

É ou não é a melhor esposa do mundo?

* * *

Chego em casa tarde, vindo da boemia, e não resisto. Abro a porta só pra dar um alô pro Nelson, que fica numa felicidade e gratidão incríveis só por me ver.

É ou não é o melhor cachorro do mundo?

A propósito, achei essa frase tão amorosa, tão bonita:

A SOMA DE TODOS OS MEDOS
O mendigo velho e seu velho cão compartilham tudo. Sobretudo o medo que o outro morra primeiro.


Autor:
, livro Estórias mínimas

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sonhando reforma

Dizem que uma repórter perguntou a Salvador Dali se ele tinha alguma opinião sobre a arquitetura, em geral. No que ele teria respondido:

- Querida, Dali tem opinião sobre tudo!

Apesar de não ter o ego de um mestre catalão, não deixo de dar meus pitacos ali e acolá. Mas lá em casa, amigo... Lá em casa é um desafio arquitetônico que sufoca minhas opiniudices.

É uma residência tão angulosa - tão carente de ângulos retos, que deixariam um amante da ordem e da simetria nauseado, um Hercule Poirot com mal de mer. Ao mesmo tempo, é também plena de alternativas construtivas.

Nosso apê precisa de reformas e reformas. Mas no que tange ao projeto de uma áreazinha gourmet lá fora, de eu mesmo rascunhar um caminho, traçar uma ideia geral... compadre, jogo a toalha. Logo eu, tido como sabichudo.

Preciso de alguém com amplos conhecimentos. Preciso de alguém que me dê norte, que me diga o que fazer - Meguinha, você não conta - até pra concordar, discordar, refletir. E botar o plano em prática.

Preciso de um arquiteto. Bom e barato. Que parcele o pagamento em churrascos nos fins de semana e engradados a perder de vista.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

os politicamente incorretos

Dona Cynara Menezes, de Carta Capital, pegou na veia.

A descrição do atual fenômeno que encanta gerações - essa simpatia em que se transformou o tal politicamente incorreto - é um retrato falado de muita gente boa e admirável do meu diminuto círculo de convivências.

"No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião."

Ela descreve três tipos. Primeiro, o que ela chama de "o pensador", depois "o comediante", pra chegar no que ela chama de "cidadão imbecil politicamente incorreto":

"Não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.

No fim, acho incrível como o politicamente incorreto, que provavelmente surgiu como uma reação ao neolibelês, à linguagem recheada de eufemismos que dominou o mercado e contaminou a sociedade há 30 anos, agora é apropriado pela mesma turma, usado como discurso ou estilo para expressar conservadorismos, preconceitos e outras grosserias.

Piada de mau gosto.

domingo, 2 de outubro de 2011

Grande depô

Nunca fui santa, no volante. Minha família sabe.

Mas isso não me impede de fazer um juízo crítico a respeito de filhinhos de papai armados com supercarros.

Eu tenho preconceito contra essa cambada, não. Tenho pós-conceito.

Vou de carona no excelente depoimento de Flávio Gomes.