quarta-feira, 23 de março de 2011

Ensejo



Azado me pareceu aproveitar um comentário da querida sogrinha para alinhavar aqui uma de minhas mais recentes obsessões: a imprensa nativa.

O que me deixa razoavelmente confortável para emitir juízo a este respeito não é o fato de ser jornalista, ainda que não exerça a profissão. O que me deixa confortável é a prerrogativa de ser um cidadão comum, condição pela qual, aliás, é muito perigoso ser não-praticante.

Há coisa de um ou dois posts, comentou minha querida sogrinha que estranhara a ausência, nas diversas mídias, de uma reprovação formal quanto à invasão da Líbia pelos americanos e sátrapas amestrados. Aparentemente, ninguém nas mídias que a sogrinha visitou havia se dado ao trabalho. Ninguém, imagino, em nossos jornais, portais, revistas, havia ofertado aos leitores uma reflexão a la "rei está nu" ou questionado a licitude do ataque a um país, seja governado por ditadura ou não, soberano. Pois, no fundo, até os dromedários sabem do que essa luta pela democracia na Líbia se trata: oil.

Desde meados do ano passado - desde que pude enxergar como diversos órgãos da imprensa tradicional atropelam a ética jornalística e se comportam como um partido político, apesar de frisarem justamente o contrário, afirmando que são isentos, imparciais e apartidários -, a questão que me coloco é: se os caras deturpam ou distorcem sutilmente uma informação qualquer (ao mesmo tempo que se cobrem do manto da objetividade), como é que eu posso confiar no que estou lendo?

Quem me garante que a lista dos livros mais vendidos é aquela mesma? Quem me assegura que o cronista não está levando algum ao defender a convocação de um jogador de determinado time? Quem há de me provar que a crítica elogiosa a um blockbuster idiota com aliens azuis não é exatamente honesta e descompromissada? Se se publica uma ficha falsa da Dilma; se dão 8 minutos de telejornal (eternidade numa TV) sobre uma bolinha de papel que por pouco, segundo notáveis especialistas, não causou um traumatismo craniano; ou se somente esta semana uma revista traz à tona entrevista feita em setembro passado com um governador cassado e preso que fez graves acusações a políticos que, à época, estavam em plena campanha eleitoral - essas mídias então concedem a mim, cidadão comum, o total direito à suspeição.

Como poderei acreditar em qualquer coisa que esse pessoal fala?
Como eu, leitor, separarei o joio do trigo, a informação da desinformação, o que provavelmente deve ser fato e o que não deve ser fato, ou talvez até seja, mas que vem embalado por um viés esquisito?

Minha resposta: é impossível, não dá mais para acreditar. Porque não dá para confiar em quem se diz isento e não é, em quem defende certos interesses camufladamente e publicamente diz defender princípios jornalísticos. Puro farisaísmo; pra essa turma, jornalismo é só um negócio como outro qualquer, de tráfico de influências e comércio de interesses. Dá impressão de que poderiam estar em qualquer ramo, no ramo de mercearias, talvez; desde que mercearias tivessem o poder de moldar o que as pessoas pensam, conversam, acreditam. O caso é que, uma vez quebrada a confiança, acabou. A moeda do jornalista, do jornalismo, do jornal, sempre será a credibilidade. Por aí se mede o valor da sua reputação.


Acrescente-se a esta salada o resultado de pesquisa recém-divulgada: executivos brasileiros leem mais blogs do que jornais e revistas online, segundo a 4ª pesquisa CDN de credibilidade da mídia (2010-2011). Mais de 90% dos executivos costumam acessar blogs contra 53% que afirmam ler jornais e revistas na internet.

Embora a revolução da web tenha dado às pessoas a possibilidade de ser uma empresa de comunicação de si mesmas, e, descontando o fato de que qualquer idiota hoje tem um blog (taí Boêmios no divã que não me deixa mentir), acredito que os blogueiros transmitem atualmente muito mais credibilidade do que as mídias tradicionais. Porque estas fingem ser o que efetivamente não são; os blogueiros, por outro lado, não perdem tempo defendendo isenção, imparcialidade, objetividade ou quaisquer outros desses mitos que empurram goela abaixo do povão. Ninguém é isento, objetividade inexiste. Não dá pra ter 100% de certeza e no fim todo mundo defende algum tipo de interesse, mas, com certos blogs, pelo menos a gente fica sabendo que a informação ali tem um viés. Tem um determinado enfoque. E é bom que seja assim. A leitura de certos blogs se torna um ótimo contraponto às notícias que você leria, por exemplo, em O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de São Paulo, Veja (argh!), ou veria no JN, Globonews, ou ouviria na CBN. Porque aí você tem pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto: blogs X mídia tradicional.Na comparação das informações, na justaposição e ênfase de cada notícia, você tem a chance de exercitar seu juízo crítico e, dialeticamente, tentar retirar deste embate aquilo que sua intuição julga ser provavelmente factual e verdadeiro.

Controlar a informação que você recebe é estratégico. Se sua formação cultural são seus tijolos, a informação é a argamassa que consolida sua opinião.

Então, querida sogrinha, todo esse rodeio é para apresentar a alternativa para quando a senhora não encontrar nas mídias tradicionais a indignação que o bom senso dos cidadãos comuns de todo o mundo deveria exigir, seja sobre que assunto for.

Seguem links dos blogs que ando lendo para acessar informações, artigos, opiniões e análises que, decerto, a senhora jamais encontrará nos editoriais solenes do Estadão ou no perfil de cocheiro de Drácula do William Wack.

Seu criado,

rubão

2 comentários:

Anônimo disse...

Mandei este post para os meus amigos inteligentes e coloquei os sites nos meus favoritos. Obrigada. Um abraço da Sogra

Rubão disse...

Obrigado digo eu, sogrinha; tu que me honras com tua leitura.