Em determinados formatos jornalísticos, é de praxe acrescentar ao texto uma espécie de aposto, entre colchetes, para contextualizar o leitor acerca do assunto ou pessoa de que se fala.
Muito comum em entrevistas. Sujeito diz algo como "...não víamos iniciativa parecida desde o Barão de Coubertin [idealizador dos Jogos Olímpicos da era moderna]" ou "... foi aí que eu e o Braga[Rubem Braga, escritor, cronista e jornalista brasileiro] decidimos passar o fim de semana em Petrópolis".
Mas, na matéria em questão, a determinada altura do comentário do procurador-geral da UFMG, estranhei o parêntese: "Ir ao STF não é uma afronta às autoridades do tribunal...Uma relação de respeito recíproco não é o mesmo que uma relação de subserviência (submissão)".
Obviamente, o jornalista julgou que o leitor desconhece o significado de "subserviência". E a palavra foi dita pelo entrevistado; estava entre aspas, não se tratava do texto redigido para a reportagem.
A intervenção era de fato necessária? É preciso explicação neste caso? O leitor, os leitores do jornal, desconhecemos o que significa ser subserviente? Mesmo na remotíssima hipótese de que a resposta seja afirmativa, de que a grande massa ignara absolutamente nunca ouviu, e, se ouviu, não compreendeu o que é subserviência, não incorre o jornalista num arriscado juízo de valor, de menosprezo?
Na edificação que é todo texto, desde que este não o conduza pelos corredores do pernosticismo e do rococó, qualquer encontro com uma palavra nova deve ser salutar, de bom grado, de bom tom. Deve-se perder a vergonha com a deslumbrante, fascinante Palavra Nova. Diante dela, cabe, por que não, tirar o chapéu e exclamar, educadamente: - "Prazer, madame. Encantado. Qual a vossa graça? Porventura, de onde vieste?"
A busca pelo conhecimento deve sobrepujar a timidez e a preguiça mental, e, em muitos casos, dar a coisa toda mastigadinha ao leitor é abdicar da oportunidade de ele se exercitar - nem que seja esticar as pernas para buscar o dicionário.
Como círculos concêntricos em um lago, os pequenos parênteses deste evento remetem a episódios da mesma natureza, só que ainda mais amplos, em outras escalas sociais. Isso, na minha opinião, mesmo em se tratando dessa areia movediça chamada indústria de massa, é nivelar por baixo. Tudo: os critérios da criação publicitária, as composições da atual MPB, as produções cinematográficas, a competência exigida por profissionais de quaisquer áreas, as relações interpessoais.
É ser subserviente ao estado de obtusidade e aviltamento geral.
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