quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O nome da Pulga

Ninguém perguntou, mas, na minha imodesta opinião, a partir do exato instante em que o centrocampista Agamenon, do Guarani de Divinópolis, anunciar ao mundo sua aposentadoria dos campos, nossa admiração estará enfim livre e pronta para testemunhar o maior craque de bola dos próximos cinco, dez anos - Lionel Messi.

Enquanto La Pulga mantiver as pernas ágeis e a velocidade, acho que não tem pra ninguém: o moleque está sobrando. E, com o tempo, como em qualquer outra profissão - do sapateiro à vendedora da Avon - o virtuose apura, depura, encanta quanto mais decanta: o que há de essencial, de denso, de profundo, vai se desvencilhando do supérfluo.

Cumpre registrar que, para mim, esse demônio se conjurou pela primeira vez  num mundialito sub-alguma coisa (sub-17, creio) promovido pela FIFA em 2005, na Alemanha, quando ele,  praticamente sozinho, derrotou a Seleção Brasileira, por 2 x 1. Vi na TV o menino fazer o diabo e, depois de descobrir sua identidade e ouvir o seu nome, tive um desses assombros malignos e fatais. 

Como se sabe, nos círculos esotéricos e nos inextricáveis labirintos da magia, nome é muito importante; nome é poder, dizem; é preciso sabê-lo ao integral e corretamente, seus significados mil e suas transliterações cabalísticas e suas pronúncias tais e quetais, para invocar das profundezas as forças certas, para descerrar o véu entre as dimensões herméticas sem se machucar. O conhecimento inequívoco de obscuras nomenclaturas, das sagradas às mais profanas, conserva os dentes e a alma.

Ora, que de magia entendo eu? Nada. Mas Messi - Messi parece um desses nomes mágicos, predestinados, irresistíveis - como Rossi, Pelé, Platini e Zinedine Zidane, no futebol; Napoleão Bonaparte, Matarazzo, Merlin ou Carlos Drummond de Andrade, noutros gramados. Outro me ocorre: Chico Buarque. Alguém se chama ou se chamaria Francisco Buarque de Hollanda, assim, impunemente?

Bem. De volta a Messi e seus caprichos. O menino é um espanto. Por onde passa, é aplaudido pela própria torcida e pela torcida adversária. Não treme diante das chuteiras perdigueiras que o caçam como a uma lebre. Em seus arranques vertiginosos, a bola lhe é inviolável. Na cara do gol, tem uma frieza assassina. Quando Messi brilha, todos os outros parecem figurantes irreais e indistintos. E de repente se descobre que o público na arquibancada parece ter saído de casa não apenas para seu time de coração, mas para o espetáculo de um homem só. Um menino, ainda. O povo ri com seus dribles ariscos, o povo prende a respiração em suas arrancadas delirantes. 

Talvez me apedrejem aqui por dizer tudo isso, mas Messi me lembra Chaplin, lembra Garrincha e lembra até aquilo que todos sentimos quando em 2002 vimos o Denílson perserguido por uma horda de turcos sedentos de sangue, lembram?

Lionel Messi. Ainda vamos ouvir muito este nome. Cultuado como um semideus no céu do Olimpo alviceleste, amaldiçoado como um coisa-ruim nos brasis do nosso Hades.

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