quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A nota


Chamai-me menestrel
Mas de uma nota só
Que preenche meu peito
Bem mais que um Dó

É linda, musical
Essa nota que canto
Nessa melodia sem Ré
Nesse amor sem pranto

Essa nota desafia
Qualquer afinação
Pra viola, é um aperto
Pra Mi, que (des)concerto!

Vou cantar bem baixinho
E assim a levarei
Pra ninar em nosso ninho
Bem Fá, far away

Faz Sol naquela charneca
O tempo todo é uma beleza
Embora chova todo dia
Toda noite floram estrelas

Lá a gente pode se amar
Em paz, com amor
Com ardor, uma vez
E muitas outras mais

Não adianta mentir pra Si mesmo
Sou, sim, letrista de rima pobre
Mui honesto, embora ermo
Disso tiro meu pouco cobre;

Mas rico fico, cheio da nota
Quando ela me possui e me esgota;
Dá vontade de urrar numa trombeta
A cifra valorosa, insinuante, lisboeta

E se me toca essa nota
E me faz bulir em fervura
É porque ninguém a encontrará
Em nenhum'outra partitura!

Pois vem no tom desse coração que flui
Ora manso; ora fera;
Na correnteza das minhas veias
No compasso de minhas artérias;

Vem como ondas vêm do mar
Vem como sussurros de sereia
E me escraviza, tal como o luar
Põe cativa a maré cheia

Paixão que não é de agora
Mas que já nasceu imorredoura
A identidade desta nota? Ora,
atende por teu nome, ó Doutora!

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