terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Mordaça

Faz calor essa noite. As ruas estão surdas e pesadas, uma massa de silêncio negro e quente recobre a copa das árvores e até os paralelepípedos estão quietos.

É sempre lamento o que fica não dito. Aquilo que você sabe que deveria ter dito a alguém e perdeu o momento. Uma coisa de carinho, um colo de consolo, uma isca pra sorrisos, um clamor de perdão. E o momento se esvai e evanesce junto às palavras necessárias - o verbo em seu tempo mais que perfeito.

É ainda mais triste quando você tem ciência do momento único em suas mãos, e o coração feito palavras derretendo em sua boca, e, por motivo "de força maior" (aposto, não o seria em lugares sábios e ancestrais, como a escuridão tropical de Madagascar, os cumes encanecidos do Himalaia e até nas ruelas indiscretas de Istambul!) - a gente se cala. E só o que eu queria, poderia, deveria fazer, era gritar, rir e chorar. Abrir o peito e falar tudo, tudo. Ali, na cara, com a cara mais feliz de sem-vergonha.

Faz calor essa noite. Mais aqui dentro do que lá fora.

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