terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Altíssima voltagem no cérebro


Certas obras nos salvam ou nos perdem. Talvez ambas as coisas, e talvez por isso não há livro recente que eu que recomende com mais força e entusiasmo do que A doutrina do Choque - A ascensão do capitalismo de desastre, da jornalista canadense Naomi Klein.

Num minucioso trabalho de reportagem, o livro se ergue em torno de uma ideia simples: a de que o choque - seja físico, psicológico e sensorial, como instrumento de repressão e tortura; seja econômico, com o fervor religioso neoliberal e sua santíssima trindade: privatização/desregulamentação financeira/corte de gastos sociais - o choque, dizia eu, seria o padrão recorrente que caracterizou e caracteriza os genocídios econômicos e o sufocamento da democracia, em períodos distintos, de várias nações do globo, a partir da década de 70.


Naomi Klein

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A leitura de A Doutrina não mudou minha visão de mundo. Ampliou-a.

A partir do conjunto de dados que fui recebendo, velhas suspeitas foram confirmadas, novos "insuspeitos" foram surgindo. O que parecia desconexo e despropositado na História ganhou contornos de lógica, começou a fazer sentido - inclusive e sobretudo no contexto do Brasil! E as teorias revelaram-se, na verdade, práticas de conspiração - registradas, referendadas e documentadas, graças ao faro de sabujo de dona Klein e sua equipe.

Em suma: essencial, indispensável, imprescindível. Para quem quer entender o mundo hoje, ontem e amanhã. Por falar nisso, aliás, lanço a você um desafio.

* * *

O mais inesperado de A Doutrina do Choque, por incrível que pareça, é que ele pode fazer com que a gente lucre um dinheirinho extra. Funciona, é batata!

Simples: aposte com os colegas que você tem misteriosos poderes mediúnicos e fature uma grana à custa desses incautos e incrédulos. Leia ou veja qualquer notícia na web, nos jornais ou nos telejornais. A partir de A Doutrina do Choque, nada terá muita surpresa para você, porque você já sabe de cor e salteado a lógica da super elite que comanda as corporações, bancos e governos em todo o mundo. Por exemplo, dependendo do país, creio que você tem cerca de 90 a 95% de chances de acertar quais serão as medidas de qualquer pacote ou reforma econômica antes mesmo do ministro da fazenda anunciá-los oficialmente em uma coletiva! Como disse, batata! E vale para a maioria dos países!

* * *

Taí. Talvez esta seja sua maior qualidade: o livro que o capacita para uma nova leitura do passado vai fazer com que você seja capaz de predizer o futuro. E, quem sabe, com um pouco de sorte, tornar nosso presente menos intranscendente.

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A Doutrina do Choque, hoje em promoção no Submarino, pela metade do preço: clique aqui.

PS: tô levando jabá, não.

2 comentários:

Bruno Perpetuo disse...

Olá Rubão, muito tempo não passo aqui. Feliz Ano Novo procê, pra Meg e pras meninas. Tudo bão? Cara, permita-me apenas uma pequena atitude "do contra" quanto este esse post. Toda a teoria apresentada no livro (não o li, vi seus estudos e suas bibliografias de pesquisa e sei do que trata) está correta, mas ultrapassada e lembro que convivi com toda essa discussão desde que me lembro por gente (pai sociólogo e mãe historiadora). Há menos de 30 anos começou uma mudança drástica no perfil desse dominador, tanto que até "as informações top secret sobre a verdade" (rs) chegaram à "cultura pop de qualidade questionável", de maneira avassaladora, como se fosse alguma novidade (vide "A onda", ou Matrix, ou outros, por exemplo).
A dominação hoje em dia não tem nada a ver com amarras de pensamento, muito antes o contrário. Não existem mais países dominantes, ideologias dominantes, necessidade da fome, submissões, etc, a riqueza não é mais vinculada ao vil metal. A guerra e a divisão social não são mais bem quistas (como eram pelos antigos dominantes), afinal, tudo isso (crenças, ideologias, hiato social, guerra, particularidades culturais, etc) acaba com a premissa do que é relevante hoje: o consumo. Se vc tem amarras (sejam elas quais forem: de direita ou de esquerda, revolucionárias ou reacionárias, pudores ou recalques, filosóficas ou religiosas), vc não serve para o novo sistema do poder baseado no consumo.
Hoje em dia, é absolutamente indiferente quais suas linhas de raciocínio, desde que vc não seja pragmático, vc pode ser qualquer coisa, afinal é muito mais fácil vender uma viagem a Bali a um hedonista ateu, que a um fundamentalista islâmico; é muito mais simples vender um I-pod nano a um hype que a um comunista dialético, é muito mais simples vender bebida a um "ocuppyer" que a uma virgem recalcada.
O problema não está mais na bandeira que vc ostenta, desde que vc continue na engrenagem do sistema. Se vc continuar produzindo e comprando, vc tem direito a falar e viver como quiser.
Ou percebemos isso rápido, ou estaremos ainda com gritos de ordem atrasados em pleno século XXI, afinal, o povo não é bobo, abaixo a rede Globo não incomoda mais ninguém se vc continuar comprando o pacote da TV a Cabo; a cada grito de "o Papa é pedófilo" ou "todo talibã é oprime a mulher" os diretores das multi-nacionais têm um orgasmo múltiplos e pensam, "Beleza, mais 2 bilhões de consumidores".
Vou te mandar uma nova premissa de escolhas políticas que está mudando baseada na preparação desse novo sistema. Não nos iludamos, fazemos nossas escolhas apenas baseadas no "Efeito Decoy", assim todos voltamos para casa com o sentimento do dever cumprido, rs.
Bem, muito longo... depois nos falamos.
Grande abraço procê e muitas saudades dessas conversas, tenho alguns caras para te apresentar por aqui, rs

Rubão disse...

Fala, Bruno! Tô contigo e não abro. Mas acho que o estímulo ao consumo é outra faceta dessa lógica. O espírito da coisa. Não está dissociado das motivações daqueles que estão por trás dos fabricantes da Guerra S/A.

Dona Naomi tem lá sua tese. Ok. Pra mim, nem esse é o ponto. O negócio, pra mim, é o cidadão comum se munir
de informação o quanto puder, seja de onde vier - sempre atento, com espirito critico, desconfiometro ligado, sempre mineiro.

No mais, feliz 2012 pra ti, ruiva e o pequeno geniozinho. Volte sempre.

Abs,

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