segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mãos à obra

Eu sei que deveria estar feliz, que agora é só alegria, problemas do tipo escolha do piso ou "prefiro azul-colorê a marrom-fugido" e me preocupar somente com nossa capacidade orçamentária, mas...

Eu sei que não deveria ficar tenso, mas fico. Chaves na mão, começa a fase de orçar a quebradeira e a arrumação do novo apê e, enquanto não resolver em definitivo o que vamos fazer, não souber tudo quanto custa, até o último prego, e receber a obra pronta/acabada e ver que ficou ao menos a contento, só então estarei plenamente relaxado.

Teoricamente, a reforma é pequena e simples. Esse é o problema. Minha paranóia sabe que é aí, ó, que mora o perigo. Material de construção inflacionado, atrasos no cronograma, etc, etc. Quem já mexeu com construção sabe.

Bem, alea jacta est; agora é só rezar pra não ser um assalto. E que mãos à obra não signifique, necessariamente, mãos ao alto.

Martelo e bigorna

Sou redator, mas escrevo errado toda hora. Não entendo, não gosto da gramática da língua. A gramática é um arquipélago de regras cercado de exceções por todos de todos os lados. Pra quem não tem memória de elefante, é exasperante.

Como dizia, escrevo de forma errada. Por pressa, negligência, ou, nenhum problema em admitir, por desconhecimento mesmo.

De maneira que procedo com parcimônia em apontar o deslize alheio, naqueles raros picos de certeza que a vastidão da minha ignorância não alcança. Por outro lado, sempre gosto que me corrijam - acredito que me prestam um favor, até uma caridade muito bem-vinda. A escrita, seja lá de quê, é o martelo e a bigorna da minha profissão.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Disrít-mico

Quando você chega tarde do bar e encontra a mulher dormindo, e espirra e ronca a noite inteira impedindo a pobre coitada de dormir o merecido sono dos justos, qual é a única coisa que resta dizer?

Isto:


Depois de tanta cerveja, eu quero ser exorcizado pela água benta dos seus olhos infindos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

The box is on the table

Chaves do novo apê, só na segunda. Enquanto isso, eu e minha bagulhada fizemos da casa da Meg algo próximo de um galpão ou depósito industrial. Há caixas por todos os lados, há caixas em tudo o que eu vejo.

* * *

Sei que estou pagando para fazerem isso. Mas não consigo ver os caras da mudança subindo e descendo com as coisas, suando em bicas de um andar para o outro e ficar parado de braços cruzados. Tanto na saída do meu apê quanto na chegada do apê da Meg, entro na onda e ajudo a carregar o que consigo. Até pra terminar logo.

No entanto, há controvérsias. Meg observou que eu deveria parar de fazer papel de peão e assumir o lugar de coordenador. Hmm. Será uma vez mais a manifestação do meu indômito espírito de pobre?

Ou o esprit du corps.

* * *

Almoço do domingo. As três gripadas, abaladas, debilitadas. Fui para a cozinha preparar o almoço: sopa. Julguei apropriado fazer um caldo bem nutritivo com carne e alguns leguminhos. Sentamos à mesa para a refeição. Ali estávamos nós: espacialmente espremidos, fisicamente oprimidos, sitiados por móveis extras trazidos na mudança, rodeados por caixas de papelão empilhadas, o frio presente lá fora e o vento sacudindo na janela; e eu - observando uma mãe doente e suas meninas fragilizadas, tomando suas colheradas de sopa entre tosses e espirros - vendo aquele cenário, pensei:

- É uma página de Dostoievski!

Pena. Não queria que o primeiro dia fosse assim.

Putz

Tudo ao mesmo tempo agora. Que a semana termine melhor do que está começando.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Babytles

Mais do meu sobrinho. Já vi que a assessoria do tio será fundamental para encaminhar esse menino. Vejam um episódio que elucida.

Como quem me conhece sabe, sei tudo de moda. Modestamente, sou referência em estilo. Eis que os pais de João Pedro resolvem vesti-lo sem a minha anuência, sem que eu seja consultado. O resultado é isto:



"Tu tá de sacanagem comigo, né mãe?"

"O q-quê? Sério? Vou ter que usar isso a vida inteira?"

Tsc, tsc. Lamentável.

Mas, nada tema, JP! O Tio mora longe, mas está aqui para salvá-lo do perigo. Vejam agora a reação, a incrível mudança de estado de espírito com o bodyzinho que lhe enviei:


"Hehehehihihi! Agora, sim!"



"Ei, onde arrumo mais destas?"



"Valeu, ti´Rubens"

De nada, zé bonitão.

Meu personagem da semana

Houve uma câmera, na transmissão da Bandeirantes, que acompanhou, por trás, toda a trajetória da bola atirada pelo Paulo Henrique Ganso. Victor, excelente goleiro, tava nela. Foi nela! Mas a soma dos fatores precisão, velocidade e - por que não? - predestinação, fizeram com que a bola entrasse no único espaço e tempo possíveis. Ali, alizinho, entre a mão do goleiro e a esquina das traves.

Me lembrou alguns gols de Rivaldo e Bebeto, nos quais a bola só tinha um jeito, um caminho para entrar - e entrava.

Depois de ver o Grêmio melhor no primeiro tempo (aliás, como bateu, como distribuiu botinadas impunes o jogo todo, graças à indulgência do árbitro banana) e o time do Santos nervoso e perdido, especialmente o camisa 10, a Razão do Meu Viver constatou: - Ganso hoje está mal. Aquiesci:

- Verdade. Mas o negócio é ele. Se houver alguma coisa de boa pra tirar o Santos dessa enrascada, tem que sair dos pés dele.

Pensando bem, Meg já deve estar de saco cheio de tanto que falo do menino.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Embalando para viagem

É fazendo mudança que você se surpreendente com o tanto de tralha que acumula. No jargão da sustentabilidade: é preciso tomar medidas drásticas para controlar a geração de resíduos.

Oportunidade para treinar o desapego.

Há um não sei quê de tristeza no descarte daquele objeto que te serviu um dia e hoje não serve mais. Que testemunhou silenciosamente as alegrias e os dissabores dos seus anos, que cumpriu humilde e diligente a função para o qual foi criado e que, segundo constam os autos da casa, nunca lavrou queixa de nada.

Foi o copo gelado que aplacou a sede dos amigos nas tardes de tertúlia; foi a proteção divina que uma vez acorrentou-se ao seu pescoço e se deitou em seu peito; foi um reles benjamin, que lhe permitiu o lazer momentâneo quando a mente fatigada requeria descanso; foi uma vela acesa na madrugada; foi a panela que deu de comer nas horas em que a solidão o consumia ou uma companhia a abrandava; foi a fotografia antiga, antiga, de alguém que você decidiu compartilhar o resto dos seus dias e que hoje é apenas uma relíquia estrangeira perdida em sua memória.

Mas mudar é isso. Abandono e proscrição. Disposição e recomeço. Num sentido mais amplo, como dizem, mudança é a única coisa constante - certo?

Então vamos preencher, com aqueles objetos que ficaram, as inúmeras sacolas, caixas e embalagens rumo a uma nova aventura enquanto ainda é tempo.

Esse é o espírito. Quem muda, empacota. E não se empacota.


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Uma das facetas do meu trabalho é o branding. Pra quem não está familiarizado com o termo, é uma espécie de marketing de marcas e de tudo o que as envolve, desde a construção da sua imagem e reputação até a conquista da admiração dos clientes, com o objetivo de fidelizá-los. Bem amplo. Mas, grosso modo, é por aí.

E não é surpresa pra ninguém que gosto de futebol.

Por isso, gosto de apreciar um caso que junta essas duas coisas de forma exemplar.

Ó o Tostão explicando hoje em sua coluna porque que a gente torce pro Barça:

Pensem na história

Na comemoração do título espanhol, todos os jogadores do Barcelona vestiram uma camisa com os dizeres: “Não pensem em uma temporada, pensem na história”. Por isso, jogar bonito e com eficiência, formar em casa a maioria dos jogadores, não poluir a camisa do clube com comerciais, pagar para usar o nome do Unicef e por ser mais que um clube, torço pelo Barcelona.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Amigo ausente

Foi bom reencontrar o Bruno, na festa do Formigão.

Aquele clichê: tempão longe sem se ver, mas é como se a gente tivesse tomado uma cerveja na semana passada.

Minha admiração só cresce com os anos. Gostaria de ter lhe dito isto.

Publicitário, pai há pouco, Brunovsky taí correndo atrás. Além de chefe de criação reconhecido pelos clientes e mercado, ataca de marchand com ousadia e ainda tem muitos planos engatilhados. No que faz muito bem. A gente aqui sempre soube que o bicho ia se dar bem, graças ao grande talento, memória, diligência e à incrível habilidade para se relacionar.

Sua companheira, a Ruiva, é uma mulher admiravelmente inteligente. Parceirona à altura. E deu pra notar como seu Egídio, pai do Bruno, tem orgulho do filho. Só não sei se o expressa. Eles devem ter lá suas rusgas, ou dificuldade para externarem admirações mútuas. Coisas de família, sei comé.

Fiquei feliz por eles. E talvez um pouco sentido pela falta que o cabra faz. Já tive uma ou outra birra do Bruno quando na faculdade, mas hoje é fácil ver a bobeira que era, coisa de garoto.

Pena, a ausência do Brunovsky. Sua lucidez, humor e camaradagem deixam um vácuo em quem já teve a felicidade de sua companhia.

Pra frente, Brasil

Como se diz por aí:

Um Dunga. Cento e noventa milhões de Zangados.

Atualização: bem poderia ser a frase do ônibus da seleção brasileira.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Medo do medo

De todos os sentimentos primevos do homem, o medo é o que mais odeio.

Medo é ruim de qualquer jeito: ou ele te imobiliza ou te deixa idiota.

Numa, você fica paralisado e faz nada. Na outra, você se imbeciliza e só faz besteira.

Não posso ser pobre de espírito para permanecer imóvel. E, mais ainda, não posso me dar ao luxo de ser estúpido.

Até porque, entre uma e outra opção, a segunda dói demais.

Coragem, cara. Coragem engrena e põe a vida em marcha.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Suspeita

Depois da noite de ontem, suspeito que pai - minhas irmãs fanáticas, não - preferiria ter visto o jogão entre Grêmio e Santos do que ter passado raiva com o Cruzeiro.

É mole?


Enquanto minha mulher sonha com galãs de novela e rock stars, eu sonho com um bom pedreiro.

Vão entregar as chaves dia 30. Tenho que virar três agora para empacotar minhas cousas, mudar as trouxas e acertar na contratação de vários serviços pras obras começarem já na segunda, 31.

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Vejam:


Pena que não será transmitido. Faria sucesso no horário do Casseta e Planeta ou no Bola Murcha do Fantástico.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Brokeback tuesday



Piada interna da turma. Com saúde, nóis semo eles amanhã.

A notícia mesmo - "Dupla celebra 82 anos de bebedeira" - tá aqui.

Matrioska

Descasque Dunga e você encontrará um Parreira. Continue descascando e você encontrará o Zagallo. Descarne o Zagallo e você encontrará o vazio.

Diferente de 94, não há mais um Romário.

Fantasia de adulto

Meg e as meninas, Bibi principalmente, ficaram impressionadas com o filme Onde vivem os monstros, adaptação do livrinho Where the wild things are, de Maurice Sendak. Gostei, porque não segue aquela receitinha de bolo hollywood, de respostas fáceis com glacê no fim.

Choraram juntas. Já o monstrengo aqui segurou a onda legal. Talvez por ter mais familiaridade com o tema.

O que não me impediu de refletir: curioso constatar que minhas relação com as meninas é sensivelmente melhor quando desço o zíper da fantasia de adulto e deixo a criança sair (apesar do olhar assustado da Meg).

É assim quando a gente - eu e a duplinha - dialoga fácil e se entende, nos termos delas, com minhas ações e reações sem constrangimento ou preocupação com censores, dando breve vazão aos instintos primais e, ainda que às vezes brutais, infantis.

O adulto não existe. O dia a dia (agora sem crase) é que envelhece e embuça a natureza da gente.

terça-feira, 11 de maio de 2010

bola fora

Convocação da seleção ao vivo às 13h na Globo. Acaba, entra o Jornal Hoje.

Sandra Annenberg e Evaristo Costa são obrigados a comentar a lista de Dunga, o fato quente da hora, e segundo a segundo o desconforto deles fica visível: não entendem nada de futebol.

O link continua com a turma do esporte em outro estúdio (Júnior, Casagrande, Glenda Koslowsky e um outro apresentador), com intervenções ao vivo.

Então Evaristo dá a lista: "E os convocados na lateral são: Máiquel Bastos...".

Essa, eu vi. Depois fui-me.

Mas li no Kibeloco que Evaristo continuou. Foi perguntar uma coisa para o Casagrande e disse: "Ô Casanova, você acha que...".

Tadinhos. Só não deram mais bola fora que o Dunga.

Ganso fora do cardápio

Desde Romário, em 1993-4, não ficava tão aborrecido com a provável obtusidade do técnico na convocação de um jogador.

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Ganso, agora, nem se a bruxa ajudar.

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(Suspiro). Na copa, o catado do Dunga deve ser um time duro. Principalmente de assistir.

Tio coruja


segunda-feira, 10 de maio de 2010

Muriqui

As pessoas pensam que é fácil furar a bola assim, como ele faz. Que qualquer um é capaz chutar a bola para trás quando a intenção original seria embicá-la para a frente; ou mesmo vir como um louco na corrida e se sentar sobre a bola com oito metros de traves livres, debaixo do gol, e, para o espanto de uma multidão, errar.

Não, meus amigos. Muriqui tem um brilho inexcedível, único.

Tente em casa. Invariavelmente você será bem-sucedido, umas oito em cada dez tentativas. Errar de primeira, com tanta competência assim, só os predestinados. Só os ungidos. Só para quem nasceu com o talento.

Por exemplo, Keanu Reeves.

Pense em Keanu Reeves. Você acha que é fácil simular aquela absoluta inexpressividade, aquela total cara de nada? Só Keanu, ninguém mais. É o ator perfeito para os papéis de robô, alienígena e convalescentes em estado comatoso. O falso grande ator poderia até tentar emular o olhar banal, o vazio e a impassibilidade de Keanu. Seria em vão: o espectador detectaria um mínimo esgar de emoção numa quase-lágrima, uma parábola de boca furtiva, um tremor de mãos em um corpo transido. Em Keanu? Nunca.

O atacante do Galo é tal e qual, amigos. É gema do mesmo quilate. Em outros campos, verdade, mas ostenta o mesmo brilho promissor dos grandes.

Guardem estas palavras: ainda veremos Muriqui mais querido que Obina, mais folclórico que Dadá. Será o maior saltimbanco de chuteiras dessa pátria.

Na expec

O cara que vendeu o apartamento para o cara que vendeu o apartamento pra mim tem que se mudar logo para que o cara que vendeu o apartamento pra mim também se mude e assim eu disponibilize meu antigo apartamento para o cara que comprou o apartamento de mim.

É um encadeamento centopéico. Se um num andar, ninguém anda.

Alimento débeis esperanças de que esse nó se desate a ponto de começarmos e terminarmos uma reforminha e a mão-de-obra de praxe antes da abertura da copa. Imagine, as chances de peão cumprir prazo durante o torneio, levando a tv de 14" pra obra, acertando o encanamento por engano na hora do gol do Brasil, etc, etc.

Eu sei como a mente do peão funciona.

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Em geral, sinto falta de, nas peças de Shakespeare, na última fala da última cena, no derradeiro discurso final antes que caia o pano, aquela observação arguta, ferina ou portentosa, ou uma daquelas metáforas elegantes que ele me acostumou mal ao longo de todo o texto. Sabem, aquele "tchans"?

Prontofalei.com.br. Evém pedra.

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Confissões nada literárias de um rabugento:

Mark Twain: o primeiro Luis Fernando Verissimo da América.

Crimes da Rua Morgue e o Assassinato de Mary Rogers: Poe devia tá de sacanagem, debochando da narrativa policial. Mas já havia o gênero na época?

Cartas a um Jovem Pateta, de Rilke: tirando a primeira carta, o resto é punheta.

A Ilha do Tesouro: será que ainda faria sucesso entre adolescentes contemporâneos? Possível, mas difícil. Menos chances teria o Médico e o Monstro, uma chatice.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Link científico

Um cara que gosto de ler é o Reinaldão. O moleque sempre traz um texto bacana sobre ciências em geral, evolução, biologia, arqueologia, etc.

Aqui mesmo tem um artigo muito interessante, publicado em revista da UNESP, sobre a 6ª extinção em massa e em curso perpetrada por essa sua espécie.

Reinaldo já figurava entre os meus links, no desativado Visões da Vida. Tô sem saco pra atualizar a lista, então é só ir ali no Carbono 14.

Vale a pena. Esse nerd boa gente é cosa nostra.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Copa do Brasil - fim

Galo eliminado. Voltamos à normalidade. Mas nem tudo está perdido. Já temos uma Tríplice Coroa(s): Marques, Júnior e Ricardinho.

Agora é torcer pelo bom futebol Santos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Nosso Zidane

Ganso, Ganso. Joga demais, meu filho.