Lá pelas tantas, Magali faz um comentário equivocado sobre uma peça em exposição (que ela acreditava ser uma caixa para guardar uma guitarra gigante) quando a dentucinha a reprende, dizendo:
- Realiza, Magali. Isso aí é um sarcófago egípcio.
Faz tempo que não me cai nas mãos nada do Maurício de Sousa; portanto, é certo que estou desatualizado sobre o que as crianças leem e conversam. Mas não pude deixar de estranhar o anglicismo. Mesmo porque, nunca ouvi Bibi e Laurinha falando realizar nesta acepção de perceber do verbo to realize (tu rialaise).
A reação inicial minha foi torcer o nariz. Mas eu mesmo, ao longo da vida, devo ter incorporado sem maiores reflexões alguns neologismos estrangeiros - "eu sou boy", penalizar, customizado (argh), cedê/devedê -, todos do inglês. Se retrocedermos mais, por exemplo, ao século 18/19 pro 20, constataremos que essa dominação cultural já foi francesa (abajur, butique e cotonete) e, vai saber, dentro de alguns anos mesmo, não me surpreenderia se o português brasileiro assimilasse expressões de alfabetos alienígenas - refiro-me, é claro, ao mandarim.
Enfim. Seja qual for a época, se a gente realizar bem, tudo é sinal dos tempos.
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