(publicada ontem, no Lance!)
NÃO CHUTARÁS
Algo verdadeiramente incrível aconteceu anteontem no Camp Nou. Não, não foi o insano percentual de posse de bola do Barcelona contra o Arsenal. Os 68% são inatingíveis para qualquer outro clube, mas relativamente comuns para os catalães. No jogo de Londres, por exemplo, os visitantes ficaram com a bola durante 61% do tempo. Não custa frisar: isso aconteceu na casa do adversário. Nos 2 x 0 sobre o Rubin Kazan, na fase de grupos, na Espanha, a posse ficou em torno dos 74%.
Também não foi o baixíssimo número de faltas cometidas pelo time que monopoliza o futebol bonito-e-competitivo no mundo atual. Foram apenas 8, contra 19 do Arsenal. Oito faltas numa partida chega a ser ridículo (só Rodrigo Souto fez 5 no último jogo do São Paulo), mas pode deixar o torcedor mais atento meio preocupado com os altos níveis de violência do time. Na já citada vitória sobre o Rubin, o Barcelona cometeu 3 faltas. Isso mesmo, três.
O jogo da terça-feira gorda foi tão unidimensional que um amigo meu achou que sua televisão estava quebrada. Ele acabou de comprar uma LCD widescreen e, ainda inexperiente nas configurações da tela, não entendeu por que via só metade do gramado. O Barcelona encaixotou seu adversário entre a linha do meio-campo e a linha de fundo. O Arsenal ficou como um lutador de boxe no corner, cabeça entre as luvas, apanhando.
Tudo bem que tentar tomar a bola do Barcelona não é um sinal de inteligência. O Arsenal não foi o primeiro e não será o último time a se fechar e apostar na saída rápida, especialmente com o empate como aliado. Só que se você não freqüentar o campo de ataque, qual é o ponto de sair do vestiário? Mas isso também não é incrível. Na verdade, é usual.
Verdadeiramente incrível foi o que se viu pela primeira vez na Liga dos Campeões da Uefa. Pelo menos, desde que uma empresa inglesa chamada Opta passou a registrar as estatísticas de todos os jogos do torneio, em 2003. O Arsenal foi o único time a sair de campo sem dar um chute a gol. Um único chute. Veja, não estamos falando de chutes que acertem o alvo. Estamos falando de qualquer chute que possa ser qualificado, ainda que com boa vontade, como “na direção do gol”. Sabe aquela batida que espana e passa perto da bandeira de escanteio? Nem isso.
No segundo jogo das semifinais do ano passado, a Internazionale de Milão deu um chute ao gol do Barcelona. O Panathinaikos, na fase de grupos, também deu um. O Zaragoza, pela última rodada da Liga Espanhola, não viu a bola (ela ficou com o Barcelona por 80,39% do tempo), mas tentou três chutes. O Arsenal, nenhum.
Se lembrarmos que o gol inglês foi contra, podemos dizer que o Barcelona superou o Arsenal até nas conclusões ao próprio gol. Provavelmente nunca vimos algo assim.
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