O ano-novo veio – o mundo
de 2012 acabou e eu me atrasei. Que janeiro ainda dê tempo de falar da singular
situação que nós, human beings, abraçamos, sem talvez pensar ou perceber sem
dar a devida importância. Refiro-me, é claro, à nossa tábua de salvação, ao
socorro de todas as horas e à panacéia daquelas pequenas tragédias e comédias que
compartilhamos nesta ordinária vida: o Liga-Desliga.
Amigo, a questão é a
seguinte: Deu problema? Liga-Desliga.
Liga-Desliga serve pra
tudo. Programa deu pau. Internet caiu. Carro não pegou. Antena não funcionou.
Namorado brochou. O que você faz? Liga-Desliga.
A leitora perspicaz já percebe:
Liga-Desliga é contradição em termos. O inverso é que é a realidade: primeiro
você desliga alguma coisa e depois a religa. Misteriosamente, no entanto, a
linguagem não se compromete com a ordem dos fatos. Fala-se Liga-e-Desliga e
pronto. E todo mundo entende.
Quantas vezes essa
sabedoria ancestral não resolveu sua vida? Lembra? Não funcionou de primeira,
você tentou. Não funcionou de segunda, lá estava você, persistindo. Na décima
tentativa, eis Liga-Desliga salvando sua pele. Inexplicavelmente.
Porque Liga-Desliga não
funciona em bases racionais. Quem usou sabe. Sabe que não há sentido, não há
nenhuma base científica ou razão que garanta 100 % que um método repetido da
mesma forma e nas mesmas circunstâncias vá produzir resultado diferente. No
entanto, produz. É absurdo. É nonsense. Ei, olhaí você tirando e recolocando o
USB.
Digo mais: sem
Liga-Desliga, a humanidade não teria chegado onde chegou.
Pense bem. Liga-Desliga é
nossa resistência obstinada. A teimosia obtusa. A convicção obssessiva. O
respeito humano ao sagrado e ao mistério.
Em 2013, que Liga-Desliga opere
também em nossas vidas, nossas crenças antigas e valores há muito em suspeição.
Tudo que não funcione bem, que opere mal, que a gente não goste na gente,
resolva-se a partir do momento que você fizer em si mesmo o Liga-Desliga.
Porque Liga-Desliga é mais
que ritual. É a fé que nos salva.