segunda-feira, 23 de abril de 2012

A experiência


Desde que a atraente Buga preferiu esposar Ugh-Dois-Dentes a Kalu-Cabeça-de-Macaco, para desalento deste, numa tribo esquecida da nossa proto-civilização, sabe-se que nada é mais antigo e pessoal do que uma predileção estética. Bom ou mau, segundo os olhos de quem julga, gosto é e sempre foi gosto.

No belíssimo Museu d´Orsay, em Paris, já tínhamos visto o Louvre. Ou seja, obra de arte de tudo quanto há, de tudo quanto é lugar, época, etnia e estilo. Sem falar no palácio per se.

Mas o trem é que, na hora que vi as pinturas de Van Gogh, amigo - senti que estava diante de algo distinto. Pinceladas, cores. É bonito. Não sei explicar.

E sentir é o verbo. Senti que Van Gogh é diferente. Mas não consigo0 explicar nem entender por que é diferente. Não disponho de conhecimentos técnicos suficientes para convencer ninguém. E, no fim, sabemos, seria inútil. Pessoa pode olhar para obra-prima de Van Gogh, de imenso apuro estético, segundo os especialistas, e ficar indiferente, ao passo que - eu, hein - pode ter um transe apoplético diante de um sanitário de Duchamp. It´s really personal.

O fato é que, pra mim, depois do salão de Van Gogh, o resto do d´Orsay virou paisagem. Um luar de Paquetá, domo diria o Nelson.

Mas ainda havia muito mais para ver e sentir.

* * *
De um gênio para outro, aproveito o ensejo para lamentar - antes tarde do que mais tarde - publicamente a partida de nosso talvez maior intelectual brasileiro. Estávamos lá em Paris quando soubemos da morte do Millor Fernandes.

Gogh e Gogo: duas vidas que não foram em van.

4 comentários:

Bruno Perpetuo disse...

Fiquei sinceramente feliz de vc ter tido uma reação visceral com um gênio da pintura. Muita gente é deslumbrada (bom e mau sentido) por artes e eu convivo com algumas diariamente, rs... mas conhecendo você, a satisfação é enorme em ler este relato. Primeira dica: gênios de artes visuais vão te causar reações nas entranhas; segunda dica: se vc tiver mais de meia dúzia dessas reações durante uma vida, procure um médico, rs. Abs

Rubão disse...

Issé influência da Doutora. Bão tamém. Até porque cultura - visual, escrita, inútil - qualquer obra é matéria-prima. Digo, na publicidade - e na vida.

Ah propósito, tô a fim de criar (melhor ainda, ganhar) uma camiseta com os dizeres Deus me Louvre.

Quem se habilita?

Tina Lopes disse...

Eu tava no British Museum e um monte de crianças chegou e sentou na frente do MEU Van Gogh. Fiquei ali tentando manter o êxtase, disputando espaço com eles. Aí o professor perguntou (vinham todos de uma área de barroco) o que aquelas pinturas - a cadeira, a paisagem, os girassóis - tinham de diferente do que eles tinham visto até então. Um inglesinho levantou e respondeu: "não têm santo!". =)
... sober o D'Orsay, um dos meus lugares preferidos no mundo, passei quase uma hora em frente ao Almoço na Relva, também. Puro êxtase.

Rubão disse...

Sei comé, Tina. O correto seria essas obras estarem nas paredes lá de casa.