sexta-feira, 30 de abril de 2010

Done

Longe de mim querer ser mal-agradecido, ora essa, ainda mais se pensarmos que hoje em dia nem bom-dia está saindo de graça. Pensando bem, por outro lado, essa história de pegar dinheiro emprestado sempre foi bom negócio para o credor: óbvio. Porém, quando não se tem muita alternativa frente ao jeito como se deseja levar a vida, não há muito para onde fugirmos.

Desde O... - peraí. Minto. Muito, muito antes de O Mercador de Veneza que os empréstimos vêm fazendo a gente literalmente sofrer na carne, e, agora, sofrer no carnê. Dos bancos.

Pra liberar o financiamento de 25 anos com juros mais baixos - um por cento -, exigem que se adquira um produto do banco no valor também de um por cento do total do financiamento. Fora que o obrigam a se tornar correntista, com tarifas mensais de manutenção de conta e cartão de crédito com anuidade (que dispensaria: já tenho um com anuidade grátis ad eternum enquantum continuum durum).

Além de um título de capitalização (com resgate do total em dois anos, mas reajustado 1% - ao ano!) , tive a grata felicidade de comprar uma apólice de seguro residencial. Comprar não é o termo apropriado, eu sei. O termo certo é se sentir um ganso engolindo gororoba à força pra depois te abrirem o bucho e fazer foie gras.

O caso é que a gerente, um tanto assim impaciente com minhas perguntas e minha demora em querer saber, só me apresentou as cláusulas do contrato depois que assinei. Fui burro, burro. Deveria ter pedido pra ler antes, como todo mundo sabe.

É embasbacante. Depois de ler as cláusulas, desafio qualquer vivente a encontrar alguma coisa - qualquer coisa mesmo, objeto, bem, o que você quiser e puder imaginar - que esteja assegurada na hipótese de alguém me furtar/assaltar. Ei, o que você pensou aí? Não, seguro não cobre. Vai, vai tentando.

O contrato de seguro residencial (creio que todos devem ser assim) é, na verdade, não um compreensível arrazoado de regras, mas um extenso compêndio de exceções. Sem dúvida, colocadas ali para abrir todas as brechas possíveis e imagináveis para fazer com que o seguro não lhe pague em caso de sinistro. As famigeradas letrinhas podem ser tradicionalmente miúdas no tamanho, mas inversamente proporcionais na canalhice.

O que me traz a triste lembrança: no seguro contra assalto já rola o assalto. Legal e institucionalizado, mas assalto.

Deveria existir um seguro contra os seguros.

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Ainda assim, está feito. It´s done. Apesar dos pesares, estamos felizes e na expectativa da mudança. Lula e Dilma, podem me pôr aí na lista. Meu nome é Estatística da Silva, um a mais a dar testemunho de como nunca se fez tanto financiamento imobiliário na história desse país.

E de que gente como nós, zé povim, é roubado de todas as maneiras. Como sempre.

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