quarta-feira, 4 de março de 2009

Música e Quadrinhos

Sempre li quadrinhos. Adulto, tinha vergonha de dizer que ainda lia gibi de super-herói, sobretudo (e obviamente) às mulheres.

Mas, nada como o tempo passar pra gente voltar a ser menino em paz.  

Tanto que fico à vontade para confessar um segredo - não, não chega a tanto; é apenas uma pequena bobagem.

Tinha uma mania, talvez precocemente excêntrica, que começou na infância e seguiu até, aproximadamente, à fase adulta. 

Eu lia determinada história e buscava associá-la a alguma canção, geralmente contemporânea à época. Lia, relia e trilia a trama ouvindo a música. Nos fones ou na cabeça. 

Curioso é que a letra das canções que eu escolhia, por obra de alguma disfunção sináptica misteriosa e inextricável, raramente seguia um processo de associação lógica com a história em quadrinhos: o que a música dizia simplesmente não se, digamos, enquadrava, com o universo semântico em questão. Era nada a ver com nada, nenhuma ligação aparente com o contexto da história. 

Acredito que um encadeamento associativo esperado e normal, por exemplo, seria você ler uma história que se passa em New Orleans e associar à história um determinado blues ou jazz. Comigo, não, violão.

Nas edições de Disney Especial, as aventuras do Tio Patinhas e sobrinhos saltavam da imaginação de Karl Barks para literalmente me hipnotizar ao som-do-mar-e-à-luz-do-céu-profundo de Baby do Brasil com o Balão Mágico, em Juntos.

Li Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, aos 13, com Voyage, Voyage de trilha sonora em cada quadrinho.

A queda de Murdock, com Cindy Lauper em All through the night.

Monstro do Pântano, com Lover´s Mix, pout-pourri de 5 minutos do álbum Jive Bunny - aquele do coelho com seleções dos anos 50.

Astonishing X-men, de Whedon e Cassaday, também com um bocado de fifties na vitrola, que incluíam Roy Orbison, Dion and The Belmonts, The Platters, Bobby Vee.

Lembro que esse hábito se estendeu para a leitura de certos livros, como, com 15, li os quatro primeiros Operação Cavalo de Tróia, do JJ Benitez, escutando alternadamente Save a Prayer, do Duran Duran, e Monte Castelo, do Legião. Essas, pelo menos, tinham um pouco a ver. 

Até hoje escuto essas músicas e elas me remetem às histórias. Ok.

Toda essa digressão é porque capitulei: mesmo correndo risco de passar raiva, vou ao cinema assistir Watchmen. E que, pelo que conferi no trailer, as músicas escolhidas para a trilha sonora estão totalmente inadequadas. 

O certo, o justo, o que o diretor realmente tinha que ter usado, era a sensível, a depressiva e melódica canção mela-cueca Build, do extinto conjunto britânico The Housemartins.

Pronto, era a crítica que eu queria fazer. Depois do cinema tem mais.

5 comentários:

Anônimo disse...

Rubão e leitores do "Boêmios no Divã",

Se souberem de alguma empresa que esteja precisando de jornalista, aqui estou.

Entrem em contato: fernandachacara@yahoo.com.br.

Obrigada!

Rubão disse...

Ok. A propósito, querida, feliz aniversário! Saúde e sucesso!

Letícia Silviano disse...

Também acho que vou ao cinema passar raiva, Rubens. Acho que vou, mas ainda estou pensando. Para mim, os quadrinhos de super-heróis morreram nos clássicos, os mesmos clássicos que conheci sob sua orientação. E agora o cinema resolveu assassinar os clássicos em troca de alguns milhões de dólares.

Felizmente, nasceu para mim na contemporaneidade, diversos estilos de quadrinhos independentes e alternativos de autores pouco conhecidos mas geniais (que nada tem a ver com Neil Gaiman, não se assuste Rubão). Sem diminuir o mestre Moore, que para mim sempre será o grande gênio. Aliás, um autor muito difícil de se levar para as telas, devido à sua visão filosófica e profunda dos acontecimentos. Miller já é um pouco mais fácil, se o diretor tiver algum interesse além de faturar.

Antes de ir ao cinema, penso que irei esperar novo post, que irá me dizer se o filme vale a pena, assim também posso esperar as filas quilométricas diminuírem.

Beijos.

Rubão disse...

Ora, Lets. Foi por meio de suas dicas que conheci Joe Sacco, Bone e outros quadrinhos alternativos muito legais. A propósito, já leste Persépolis? Lost Girls? E o Fun Home?

E, ó, andei até vendo umas produções baseadas na obra do Gaiman. Mas meu nariz continua torcido. No mais, concordo contigo.

bj,
r

Letícia Silviano disse...

Pesépolis, confesso envergonhada que ainda não li, Lost Girls quase comprei mas os altos custos me assustaram, e tenho a mania de possuir os quadrinhos e não apenas lê-los. Fun Home está lista dos top 10 na minha estante.

Bjos.