A alguns metros, espreitam zagueiros.
Parto em diagonal, adianto a bola com o pé direito: o primeiro engole a isca. Faço um suspiro de pausa, circulo sobre a bola, catando-a com o pé esquerdo mais rápido do que ele poderia supor.
A bola segue vizinha da canhota e o segundo beque avança como se a grande área fosse um território sacro proibido para pés pagãos. Sinto que vai dar carrinho; arranco pra trocar o compasso; com o pé direito, alço a bola como um pequeno chapéu por cima das pernas que deslizam no gramado agora encharcado.
Não tem mais nada. Estamos sozinhos, a chuva, eu e o goleiro.
Tudo acontece assim, ó. Abro pro meio, o braço do primeiro zagueiro vem à minha nuca; o goleiro sai. Num último esforço, encho o pulmão de ar e a perna, de força. Solto o pé no espaço que ele me dá.
O chute sai com raiva, o grito vem na hora. Cerro punhos e dentes, vejo tendões e veias.
Deus, é bom demais jogar futebol.
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