segunda-feira, 30 de março de 2009

Ontem foi dia de espetáculo

Que joguinho ruim, o da Seleção Brasileira. 

Na casa do compadre Rodrigão, onde a fartura sempre entra em campo, foi uma vez mais exasperador assistir a Ronaldinho Bunda de Tanajura naquele seu toque-toque sem-vergonha, se escondendo do jogo, sem dar um só pique de 10 metros, sem uma tabela sequer, sem alma. "Sem elán, o sujeito não chupa nem um Chicabon", diria o Nelson.

Futebol é tão fácil de ver, às vezes. Bastou entrar o Júlio Baptista, dar um toque e aparecer na frente pra receber que saiu o gol. Óbvio.

O calipígio segue perdido nessa vidinha de não querer fazer gol, não querer nada com nada. Acho que ele tá péssimo de cabeça, precisa de terapia. Será que tão rabudo como ele é o Dunga? Que vai insistir com sua obtusidade até nos matar de raiva e, quando chegar a Copa, quando todo mundo dará o Ronaldinho como acabado para o futebol, o homem entra, arrebenta e ajuda a trazer o caneco do hexa?

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Depois da partida contra o Equador, Rodrigão escalou seu mais novo brinquedinho para animar nossas reuniões: um videokê. E quem surpreendeu em meio aos pernas-de-pau do gogó, quem entrou no finalzinho do segundo tempo e deu show de bola foi dona Meg. Vencida a timidez inicial, própria de todo grande talento, fez duplinha com a Bala, amiga nossa, e arrasou. Nasce uma estrela; sosseguem, porém, empresários: o passe é meu.

No mais, ó que me arrisco a dizer que Leo, Rodrigão, Titio, Flavão e eu cantando tava dando mais gosto de ver do que o jogo do Brasil. 

De ver, pelo menos.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Posto que nenhuma sexta-feira deve ser Van, aos bares!



Desilusão

Às vezes, percebendo como as pessoas são e as coisas realmente funcionam, me sinto o último dos ingênuos, o primeiro dos idiotas. 

Tipologia alquímica

Interessante.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Oportunidade

- Bem-vindo, a casa é sua. Repare a simplicidade, não: o blog é humilde, mas honesto. Adquiri a escritura há coisa de uns dois anos. Aqui no Ostracismo é muito tranqüilo, quase não tem movimento no bairro, pouco barulho durante o dia e menos ainda durante a noite. Silêncio demais às vezes chega a ser desconfortável, mas se você não for dos que se incomodam com isso... Como já deve ter notado, não tenho muitas condições de bancar um projeto de decoração. Sim, infelizmente tenho que concordar que o papel de parede está um pouco gasto, talvez demodê. Mas o acesso aos links está funcionando; a maioria está desentupida, só um ou outro carece reparo. Sempre quis fazer uma reforma, mas falta tempo. Ah, verdade; estou certo de que uma nova tintura, pinturas e fotos nas paredes e móveis sem serifas darão um sopro de cor e vida à construção, mas isso é algo que a gente tira de letra... A despeito dessas considerações, há espaço de sobra, confira. Pode percorrer a casa toda, há caixas de comentários vazias em quase todos os aposentos: dá pra guardar muita coisa. E o custo de armários planejados hoje em dia é exorbitante, não? Falando em valores, que tal lhe parece o negócio? Financio e aceito o seu na troca. Cá entre nós: na minha modesta opinião, esta é uma excelente oportunidade para se investir. Se você aprecia um retiro para meditação, se prefere locais ermos e solitários à agitação e balbúrdia dos blogs populares, se o que busca é isolamento, tenho certeza de que aqui é a sua cara. Perdão, sua casa. 

A César...

No Brazil, é assim. A renda da classe média tem imposto, a dos ricos tem impostura.

Ouvi que os donos da Daslu receberam novamente ordem de prisão por algum tipo de fraude tributária, desdobramento possível daquele antigo rolo com importações.

E mal consigo disfarçar uma pequena surpresa com o episódio Deconstructing Camargo Correa. Justamente por parecer que estão mesmo tendo o atrevimento de mexer na lisura da talvez mais cara e sagrada instituição da história republicana deste país – as empreiteiras. Desconfio, no entanto, pela opulência e solidez da turma, que essa história toda signifique a eles somente o desgosto de uma reles fissurinha.

Bom ver o país funcionando, né? Armando o laço em torno dos colarinhos brancos. Quando a fome ronca na barriga do erário, o governo é democrático, competente e veloz. 

Ainda que, no fim, o dinheiro apenas troque  de mãos erradas.

terça-feira, 24 de março de 2009

A memória dá voltas

Domino no peito; ela rodopia no ar, cola uma pequena abóbada de suor na camisa, acima de onde deve estar meu coração, mas não me escapa. 

A alguns metros, espreitam zagueiros. 

Parto em diagonal, adianto a bola com o pé direito: o primeiro engole a isca. Faço um suspiro de pausa, circulo sobre a bola, catando-a com o pé esquerdo mais rápido do que ele poderia supor. 

A bola segue vizinha da canhota e o segundo beque avança como se a grande área fosse um território sacro proibido para pés pagãos. Sinto que vai dar carrinho; arranco pra trocar o compasso; com o pé direito, alço a bola como um pequeno chapéu por cima das pernas que deslizam no gramado agora encharcado. 

Não tem mais nada. Estamos sozinhos, a chuva, eu e o goleiro. 

Tudo acontece assim, ó. Abro pro meio, o braço do primeiro zagueiro vem à minha nuca; o goleiro sai. Num último esforço, encho o pulmão de ar e a perna, de força. Solto o pé no espaço que ele me dá. 

O chute sai com raiva, o grito vem na hora. Cerro punhos e dentes, vejo tendões e veias. 

Deus, é bom demais jogar futebol.

No império

Muito interessante, o Scofield dando suas impressões agora dos EUA. São algumas mamonas estilingadas contra o muro de opiniões preconcebidas sobre os atuais Estados Unidos, trabalho, qualidade dos serviços e brasileiros.
 
Munição boa para uma mesa de bar com os amigos, discussão com os inimigos e filosofia de botequim.
 
Nada, nada que vá fazer estrago ou abalar a estrutura de certos preconceitos, mas já dá pra sujar um pouco.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Toques rápidos

O Messi, nem digo mais. Cês viram o que bicho fez na goleada do Barça? A entortada no zagueiro?

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Mas, que bola tá jogando o Gerrad, hein? Na também goleada do Liverpool, ele cobrou uma falta que parecia que o gramado era outro tapede verde; todo mundo jogando futebol; ele, bilhar. 

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E o Ibrahimovich, na Inter? G-o-la-ç-o. 

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Entretanto, nada que se compare a um time que tem Diego Tardeli, Éder Luís e Chiquinho. Sorte deles que a gente não vai pra Tóquio nem joga na Champions League.

Eu sabia

Assume esse instante a minha voz mais rabugenta, velha conhecida dos amigos. 

Watchmen foi quase tudo o que eu esperava: ou seja, quase nada.

A verdade é que esse negócio de adaptar obras de quadrinhos para o cinema exige que o leitor se desprenda de qualquer expectativa - é totalmente outra história que se passa na telona; leve-se em conta, como no telefone sem fio, que é a visão de um terceiro; e sobretudo há as diferenças intrínsecas entre as duas mídias, o que dificulta ainda mais quando a história original foi exclusivamente concebida para um meio audiovisual que apresenta vantagens e desvantagens em relação ao cinema.

Acho que adaptar literatura é mais fácil.

Ressalva feita, ora, dá pra encarar numa boa qualquer projeção "...baseada na aclamada obra XYZ", se se entende que nada mais é do que exatamente isso: uma adaptação; uma leitura interpretada a partir de uma idéia primeva; uma receita de churrasco em um microondas.

Nerds talvez se empolguem com o filme. Mas críticos que não conhecem a fundo a graphic novel, como por exemplo a Isabela Boscov, dizem que o filme não funciona - e acho que têm razão. O grande público deve sentir o mesmo estranhamento, e tanto isso deve ser verdade que, pelo menos por aqui, o filme já está minguando nos horários dos cinemas, apesar do pouco tempo de exibição, menos de um mês.

Quem admira a obra do Alan Moore provavelmente ficou desconfortável com as cenas de violência gratuitas/explícitas e aquelas lutinhas coreografadas (totalmente desnecessárias e que me deram vergonha alheia, nas quais nem um mísero meliante consegue acertar um cuspe à distância no mocinho) que absolutamente não existiam ou foram deturpadas do original. 

A ausência do lado humano da história, dos dilemas e contradições morais, dos dramas paralelos - tudo só confirmou a suspeita de que sensibilidade não é lá o forte do Zack Snyder (desconfio que seria melhor produtor do que diretor). E que a pressão dos figurões de Hollywood, a necessidade de correr com o tempo num filme já longo para os atuais padrões e a idéia de reproduzir na película uma história intrincada como Watchmen  só prova que foi uma tentativa, embora acredite bem intencionada, vã desde o início.

Ainda bem que fui sem Meg. Se ainda alimento esperanças de que um dia ela leia a obra-prima em quadrinhos, conhecer a história por meio do filme seria prestar um desserviço.

Pelo menos nesse ponto tô com o Rorschach: sem acordo, sem concessões. Nem à beira do Armageddon.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Hoje vou assim

Quando no peito aperta a força da ansiedade sem nome e sem sentido, pra contrabalaçar o peso desse desassossego e me sentir mais humilde, mais próximo, mais humano, mais livre, mais resignado da minha pequenez, eu vou assim.

http://www.youtube.com/watch?v=PeY5y4EZRsU

Instintos

A propósito, lembrei de uma frase do Nelson. 

Algo assim: "O homem só é homem contra os próprios instintos". 

Do contrário, estaria por aí na noite chupando carótidas, fornicando as vizinhas, urrando nos bosques.



quarta-feira, 18 de março de 2009

À torpeza

Se alguém afirmasse que na elipse entre o relativo e o absoluto reside o lar da moral, eu diria simplesmente: não sei.

O desafio que se apresenta a cada qual, na jornada do fim inevitável, é a forma do itinerário; certas vezes, estrada retilínea; outras, trilha sinuosa daquilo que convencionam chamar sabedoria - essa espécie de mapa do tesouro para se viver, caramba, bem e dignamente, ao longo do passeio.

Ainda que aceitemos que todo homem seja livre e senhor de suas escolhas nas encruzilhadas entre o que se entende como "certo" e o que se entende como "errado", não procede a suspeita de que somos cativos de nossa própria natureza, essa bússola interna cujas orientações ora obedecemos, ora transgredimos?

O que me pergunto é como saber o melhor caminho a tomar quando o jardim se bifurca.

Pois, se usassem de perfídias e mesquinharias com você ou alguém de suas mais caras relações - sua mãe, seu irmão, seu filho, seu amigo -, o que você faria? Mexer com quem você ama é mexer com você? Quando a retaliação se traveste de justiça?

À procura de direção, cabe farejar gente que deixou rastro no pensamento. Sagan, num ensaio a respeito de códigos morais, As regras do jogo, resumiu filosofias distintas numa tábula de cinco regras, em critério de valor segundo suas denominações.

Regra de Ferro: Faz aos outros o que quiseres, antes que te façam o mesmo.

Regra de Bronze: Faz aos outros o que te fazem.

Regra de Prata: Não faças aos outros o que não desejas que te façam.

Regra de Ouro: Faz aos outros o que desejas que te façam.

Razoável com algumas, crítico a todas, o cientista não se fiou por nenhuma. Preferia aquela a que chamou de "Tit-for-Tat".

Coopere com os outros primeiro; depois, faz aos outros o que te fazem.

Fico querendo concordar. Falemos com a franqueza que antecede o tiro da primeira pedra: a Regra de Ouro, sagrada em nossa educação ocidental cristã, por inúmeras e complexas razões, é quase uma utopia em seus esquadros. Difícil física, espiritual e cotidianamente de se sujeitar. A realidade é mais complexa do que a sua beleza pode permitir. E porque a "Tit-for-Tat" perfaz a interseção entre a predisposição da boa vontade com a prática do perdão, sem, contudo, as ciladas da ingenuidade.

Me pergunto: até que ponto vale ser tolerante com quem não quer o meu bem?

Mas, ai; tudo às vezes é tão simples. E, também, tão complicado.

Reza a esperança de que o envenenador que falha fortalece a vítima contra o fel. E, se a leviandade ocorre sem maiores conseqüencias, ele acaba fazendo mais mal é a si mesmo.

Ainda assim, no fundo, o que dá raiva é a impunidade. Sair ileso.

Vamos em frente. Como o poeta, o que eu quero mesmo é seguir com o coração passarinho.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Pra você ficar rico

Embora, à primeira vista, hoje o blog parece ter se dedicado exclusivamente a pequenas bobagens e amenidades inúteis, quero presentear a todos com uma idéia absolutamente magnífica, verdadeira cornucópia, que, se bem executada e produzida como a vejo, trará a seu empreendedor os folguedos da fortuna e os louros da glória.

Na verdade, é muito simples. Basta que ouse ser diretor ou produtor de cinema. 

Imaginei um filme oficial, mas produzido como se fosse pirata. Gravado dentro de um cinema quase vazio, com a câmara tentando não ficar tremida. No início do nosso filme, você vê, em primeiro, segundo e terceiro plano, uma ou outra pessoa se sentando, pedindo licença. Um pigarreia, um velho gordo senta à esquerda (ufa, não ficou na frente da câmera), ali se sentou uma mulher, fulano sinaliza posição pra alguém que se atrasou comprando pipocas.

No último plano, projeta-se a película no telão do cinema – cujo título é o do nosso filme.

No entanto, aquela mulher, à qual você detivera o olhar na silhueta, acaba de ganhar a companhia de um sujeito. Ela gira e encara o homem, que estaca alguns segundos diante dela - como se já se conhecessem – mas é o tempo necessário para a platéia pedir ao homem que se assente. O homem assim procede e passa o braço por trás da cadeira da referida mulher. Você volta a prestar atenção ao filme. Depois de um minuto e meio, a cabeça da mulher tomba de repente para o lado; em seguida, num movimento súbito, verte para trás, inerte, como se seu olhar estivesse fixo no teto escuro da sala. O homem se levanta rapidamente para sair. Nesse instante, você julga ver o reflexo de um objeto metálico sendo guardado no bolso do paletó. O filme no telão prossegue e acaba. Antes do cara guardar a câmera na mochila, você ouve o burburinho dos espectadores e alguns gritos. E, nos outros filmes pirateados pelo mesmo cinegrafista, o misterioso assassino é presença garantida e continua fazendo novas vítimas.

Pronto, Hitchcock. Pode se preparar pro tilintar da máquina registradora.

Mas, no auge do sucesso, não se esqueça da colaboração inestimável do Boêmios no Divã e que “muito obrigado” não é quid pro quo

Meu bloco é esse aí

Pra libertar meu coração
Eu quero muito mais
Que o som da marcha lenta
Eu quero um novo balancê
E o bloco do prazer
Que a multidão comenta
Não quero oito e nem oitenta
Eu quero o bloco do prazer
E quem não vai querer?

Mamã mamãe eu quero sim
Quero ser mandarim
Cheirando gasolina
Na fina flor do meu jardim
Assim como carmim
Da boca das meninas
Que a vida arrasa e contamina
O gás que embala o balancê

Vem meu amor feito louca
Que a vida tá curta
E eu quero muito mais
Mais que essa dor que arrebenta
A paixão violenta
Oitenta carnavais

Cogumelos luminosos


Acabei de ler aqui uma matéria sobre a descoberta de cogumelos bioluminescentes, na Amazônia. 

O matiz e a intensidade lembra a dos pirilampos.

Parece coisa de conto de fadas. Um smurf insone lendo até tarde. Um ingrediente de uma poção mágica de bruxas. Um abajur de gnomo. 

Serão comestíveis? Duvido. Mas, caso o fossem, e se por algum místerio brilhassem depois de retirados do solo, imagina isso, o delírio visual num prato. Uma caverninha de piamontês, com um misterioso brilho esverdeado em seu interior, cercado pelo laguinho de molho madeira.

Um jantar romântico onde se come até a luz.


quinta-feira, 12 de março de 2009

Meg, a leoa

Homem brinca com leoa em rio na África do Sul

Para muitos, uma insanidade. Para Kevin Richardson, um prazer. O zoológo costuma se refrescar em um rio na África do Sul ao lado de uma leoa - a Meg. Os dois são bons amigos, garante Kevin. 

Estudioso do comportamento animal, ele brinca e interage com um dos animais mais temidos do planeta. Kevin costuma ser visto brincando, nadando e dormindo com vários animais no parque de Magaliesburg. Meg, com seus 185 quilos, é a preferida.


"As pessoas ficam maravilhadas com o fato de ela não me reduzir a pedacinhos com as suas garras", contou o zoólogo ao "Daily Mail".


http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/posts/2009/03/12/homem-brinca-com-leoa-em-rio-na-africa-do-sul-168053.asp

O Terror de espinhas

A questão é complexa e certamente mereceria uma reflexão mais consistente. 

Entretanto, os massacres protagonizados por adolescentes em instituições de ensino na Europa e nos Estados Unidos parecem ter deixado a raridade pela intermitência, e tremo só de pensar na possibilidade, nada desprezível, eu diria, de algo similar acontecer por aqui em mais um desses estrangeirismos que adoramos copiar.

Na busca por uma causa, a chacina pode ser vista por diferentes prismas. Mas de saída me espanta a facilidade com que um jovem tem acesso a armas. Há desequilibrados de todas as idades, e, no caso de pessoas (relativamente) normais, mãos erradas se tornam certas somente com a passagem dos anos que levam à maturidade. 

Ora, se há por aí gente grande que não sabe nem deveria manejar uma simples faca de descascar legumes ou acender uma churrasqueira, que dirá um adolescente bolinando uma Beretta. Um adolescente! Quem já sobreviveu a essa fase sabe o que é o ser cujo cérebro partiu em uma jornada desconhecida e que só retornará ao dono depois de alguns anos, no início da vida adulta! É pistola na mão de um macacóide.

Esses desatinados que perpetram essas matanças e que se suicidam logo depois dão a sua colaboração para o clima de medo, paranóia, desconfiança, preconceito e ódio gratuitos que assola nosso mundinho. 

O terrorismo faz escola. Uma lástima.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Coloque o sabão, feche a tampa e relaxe

O artigo da dona Giulia Galeotti, publicado no Osservatore Romano, jornal do Vaticano, certamente não reflete a opinião de todos os fiéis. Mas dá pistas concretas de como a Igreja Católica vê o futuro, o presente e o passado da nossa sociedade ocidental e o papel das mulheres nesse contexto.

Intitulado "A máquina de lavar e a emancipação da mulher", o artigo propõe a seguinte reflexão: "No século XX, o que teve mais influência na emancipação das mulheres ocidentais?"

Segundo o órgão porta-voz do Vaticano, não foi a pílula, não foi o direito de trabalhar fora de casa. 

Foi, rufem os tambores, a máquina de lavar.

Que gracinha.

Embora não seja nenhuma Brastemp, a igreja católica não é de lavar a alma?

Lacônico

Filmes

Dúvida: bom.
O leitor: marromeno.

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Cervejas

Paulander: bom.
Stella Artois: marromeno.

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Livros

O conde de Monte Cristo: muito bom.
Noite na taverna: marromeno.


* * * 

Parabéns ao amigo pela aquisição de uma cobertura! Beleza, felicidades para o casal na nova morada. A propósito, vai preparando meu quartinho de visita.


terça-feira, 10 de março de 2009

Tirou fino

Bem que eu tinha sentido algo no ar.

Li, um tiquinho aterrado (aterrado é a palavra certa), que, na penúltima segunda-feira, um asteróide raspou a superfície da Terra, passando a uma distância de 72 mil Km - alizinho, o termo técnico em linguagem científica-espacial. Um fio de cabelo galáctico.

Pra se ter uma idéia melhor: na comparação da reportagem, se o coração de um humano adulto fosse do tamanho da Terra e o asteróide, um projétil de revólver, o tiro acertaria a coxa. Com o potencial destrutivo de 1000 bombas nucleares.

Como o pedregulho tinha entre 21 e 47 metros de diâmetro, só foi possível detectá-lo dois dias antes de sua aproximação. 

E você, aí, sem saber de nada. Alheio a eventos cósmicos de suma importância e de seu interesse, se preocupando com a zaga do Galo ou se vai chover no sábado. 

Paro e me pergunto por um momento se a ignorância de uma hecatombe global iminente seria mais tranquilizante. Ou, caetanicamente, não. 

Alguém aí gostaria realmente de saber a hora da morte?

Depende, né. Depende, em primeiro lugar, do prazo que se tem até o instante da devastação total. E, sobretudo, se dá tempo de chegar à Bahia pra tomar uma geladinha à sombra dos coqueiros.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Vida em família

Sexta: jogo de mímica, casa da Meg.

Sábado: Hot-zone, BH Shopping; festinha infantil, Anchieta.

Domingo: Parque de Diversões Guanabara, Lagoa da Pampulha.

Brincando, brincando... a gente vai crescendo.

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Sabe bem o Diabo, versado nos ardis do orgulho, que não há em minha vida grandes feitos dignos de vanglória. Este fim de semana, no entanto, virou fumaça uma das minhas poucas e mais caras façanhas: o 100% de aproveitamento naquela máquina em que uma garra mecânica pega um bicho de pelúcia.

Há muitos anos, a fim de impressionar uma donzela, me meti a pegar um bichinho naquele aparelho que jamais havia jogado. Fui lá e... pimba! 

Para minha própria surpresa e da minha companhia, eu havia pego o brinquedo. 

Saí do lugar diferente. Eu não era mais o mesmo; era outro. Triunfante. Ungido dos deuses, tisnado pela sorte, predestinado. Arthur não tirou a espada Excalibur da rocha, após a tentativa de muitos, na lendária Camelot? Pois Rubens havia tirado o ursinho Blau-blau da máquina, após o insucesso de tantos, no Shopping Del-Rey.  

O mundo me pertencia. Lembro-me de descer as escadas rolantes olhando por cima, como um soberano contempla o seu reino, como um conquistador admira o seu império. 

Anos mais tarde, vem o panaca aqui contar papo junto à Doutora, no Hot-zone. Que é o bom, que na única vez que jogou foi bem-sucedido,  talicoisa, coisa e tal, e que vai tentar se esforçar para não pegar três bichinhos de uma vez para não correr o risco de ser admoestado pela direção da casa, tal qual os que vez por outra quebram a banca dos cassinos. Moleza, facílimo, vai ser como tirar doce da boca de criança.

Uma, duas, três tentativas e nada. A jactância me custou uns 20 reais; uma ninharia, convenhamos, comparada à auto-estima. 

sexta-feira, 6 de março de 2009

Quem julga os juízes?

A propósito de uma certa banca. 

Carta aos puros

Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.

Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.

Ó vós, homens iluminados a néon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem-amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.

Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.

Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.

Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.

Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.

Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.

Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.

Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.

Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.

Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra...
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.

Vinicius de Moraes

Amantes de Hiroshima





quinta-feira, 5 de março de 2009

Flanelinhas

Hoje, está cada vez mais difícil escapar deles.







quarta-feira, 4 de março de 2009

Música e Quadrinhos

Sempre li quadrinhos. Adulto, tinha vergonha de dizer que ainda lia gibi de super-herói, sobretudo (e obviamente) às mulheres.

Mas, nada como o tempo passar pra gente voltar a ser menino em paz.  

Tanto que fico à vontade para confessar um segredo - não, não chega a tanto; é apenas uma pequena bobagem.

Tinha uma mania, talvez precocemente excêntrica, que começou na infância e seguiu até, aproximadamente, à fase adulta. 

Eu lia determinada história e buscava associá-la a alguma canção, geralmente contemporânea à época. Lia, relia e trilia a trama ouvindo a música. Nos fones ou na cabeça. 

Curioso é que a letra das canções que eu escolhia, por obra de alguma disfunção sináptica misteriosa e inextricável, raramente seguia um processo de associação lógica com a história em quadrinhos: o que a música dizia simplesmente não se, digamos, enquadrava, com o universo semântico em questão. Era nada a ver com nada, nenhuma ligação aparente com o contexto da história. 

Acredito que um encadeamento associativo esperado e normal, por exemplo, seria você ler uma história que se passa em New Orleans e associar à história um determinado blues ou jazz. Comigo, não, violão.

Nas edições de Disney Especial, as aventuras do Tio Patinhas e sobrinhos saltavam da imaginação de Karl Barks para literalmente me hipnotizar ao som-do-mar-e-à-luz-do-céu-profundo de Baby do Brasil com o Balão Mágico, em Juntos.

Li Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, aos 13, com Voyage, Voyage de trilha sonora em cada quadrinho.

A queda de Murdock, com Cindy Lauper em All through the night.

Monstro do Pântano, com Lover´s Mix, pout-pourri de 5 minutos do álbum Jive Bunny - aquele do coelho com seleções dos anos 50.

Astonishing X-men, de Whedon e Cassaday, também com um bocado de fifties na vitrola, que incluíam Roy Orbison, Dion and The Belmonts, The Platters, Bobby Vee.

Lembro que esse hábito se estendeu para a leitura de certos livros, como, com 15, li os quatro primeiros Operação Cavalo de Tróia, do JJ Benitez, escutando alternadamente Save a Prayer, do Duran Duran, e Monte Castelo, do Legião. Essas, pelo menos, tinham um pouco a ver. 

Até hoje escuto essas músicas e elas me remetem às histórias. Ok.

Toda essa digressão é porque capitulei: mesmo correndo risco de passar raiva, vou ao cinema assistir Watchmen. E que, pelo que conferi no trailer, as músicas escolhidas para a trilha sonora estão totalmente inadequadas. 

O certo, o justo, o que o diretor realmente tinha que ter usado, era a sensível, a depressiva e melódica canção mela-cueca Build, do extinto conjunto britânico The Housemartins.

Pronto, era a crítica que eu queria fazer. Depois do cinema tem mais.

Lula, Collor, Ideli, Renan, Sarney...

Política no Brasil é:

a) o paroxismo da hipocrisia

b) o samba da infidelidade

c) o sofisma pelo poder

d) a arte da pantomima

e) uma tragédia em três atos -  Legislativo, Executivo e Judiciário (Judiciário, sim, tem tudo a ver, apesar de ser um Poder coerente: quando trata com o zé povim, dá pena; quando trata com o colarinho branco, também)


Do blog do Noblat. Link aí do lado.

Por 13 votos a 10, o senador Fernando Collor (PTB-AL) foi eleito presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado na disputa com a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). O novo líder da bancada do PMDB, Renan Calheiros (AL), que em 2007 renunciou à presidência da Casa para escapar da cassação, se empenhou pessoalmente nos últimos dias para garantir a eleição de Collor .

Para derrotar Ideli, Renan designou para a comissão sua mais fiel tropa de choque - os senadores Wellington Salgado (MG), Gilvam Borges (SE) e Almeida Lima (SE) - em substituição a nomes de peso do partido, como Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), que haviam lhe comunicado a intenção de votar na candidata do PT. Leia mais em Collor é eleito presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado

(Comentário meuReal política é assim. Collor e Renan foram aliados quando Collor governou Alagoas e depois se elegeu presidente da República. Renan acabou promovido a líder do governo na Câmara. Mais tarde resolveu disputar o governo de Alagoas. Aí Collor preferiu apoiar outro candidato. Uma vez derrotado, Renan rompeu com Collor e denunciou-o como corrupto. Ajudou a derrubá-lo.

Collor havia sido eleito em oposição ao então presidente da República José Sarney. Durante a campanha eleitoral, alvejou-o com os mais pesados insultos.

Como líder do PT no Senado, obedecendo a ordens de Lula, Ideli foi da tropa de choque que salvou Renan duas vezes no ano passado de ser cassado por ter usado um lobista de empreiteira para pagar despesas de uma ex-amante. Renan foi obrigado a renunciar à presidência do Senado, mas preservou o mandato.

O meio que Renan encontrou para voltar a ser influente no Senado foi eleger Sarney presidente da Casa pela terceira vez. Convenceu Collor a votar em Sarney contra Tião Viana (PT-AC), candidato do PT e naturalmente de Ideli. Lula, como sempre, fez jogo duplo: preferia Tião, foi enganado por Sarney que negou três vezes que seria candidato, por fim engoliu a seco a eleição de Sarney.)



Resistir, insistir, persistir

Tem hora que dá vontade de desistir. De chorar. Entregar os pontos.

Uma vez ou outra na vida, todo mundo já se achou um bosta. Eu me acho - com toda sinceridade, cada vez que recebo um job que não consigo resolver de prima. 

Bate aquele desespero: "Meu Deus, sou um bosta. Vão me desmascarar!".

Aí, insisto, insisto, insisto. Insisto mais um pouquinho, até o limiar das forças. E, então, quando não havia mais esperança, como que por mágica,  surge uma soluçãozinha, um pequeno brilho, uma idéia. Uma resposta adequada para aquele determinado problema.

Que, de tão simples e óbvia, dá até vergonha de mostrar pros outros quanto trabalho e folhas de rascunho percorri pra chegar até ela.

Coragem é a gasolina da persistência.

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Mesmo assim, quando nada parece ajudar, eu vou e olho o cortador de pedras martelando sua rocha. 

Uma, dez, talvez cem vezes sem que nem uma só rachadura apareça. 

No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que a conseguiu. 

Mas todas as outras que vieram antes.

terça-feira, 3 de março de 2009

Alalaô


Nestes dias em que você pressente que, a qualquer momento, irá do estado sólido ao gasoso sem cumprir as escalas intermediárias, costuma bater aquela pregui.

São os trópicos, dirá. Porém, pelo rumo que a coisa toda toma - Que trópicos, cara-bronzeada? Vai ver, devido ao aquecimento global, efeito estufa e congêneres, nossa tradicional classificação geoclimática está em vias de reforma ou obsolescência.  Até onde chegam as notícias das agências internacionais, hoje faz calor no hemisfério norte para valadarense nenhum botar defeito. 

Quando,  submetidos às mesmas condições anormais de temperatura e pressão, os povos do norte continuarem assim mesmo com sua proverbial diligência, disposição empreendedora para o trabalho e todo aquele conjunto de atributos pré-conceituados ou aceitos como intrínsecos que teoricamente os caracterizam como gente de primeiro mundo - as escusas para nossa cremosa indolência vão ter a mesma solidez de sorvete fora da geladeira. 

Bom, isso é com você. Você pode ficar sem desculpas para justificar o corpo mole no serviço ou a vontade incontrolável de se esparramar ao longo do primeiro sofá que encontrar; eu, não. Tenho sangue baiano, e como todo mundo sabe, isso muda tudo. A gente já nasce pré-disposto à contemplação, geneticamente falando. 

É nessas horas que me dá vontade de ter um monte de filho pequeno pra exercer minha telecinese inata. Com eles. Para que a cerveja se desloque rapidamente do freezer às minhas mãos e as uvas frescas desçam magicamente à minha boca. Já usar a paranormalidade baiana, para sobrepujar o esforço de mover o maxilar ou deglutir, é demais. Não sou de ficar por aí me mostrando.

Sonho de uma tarde de verão

Água de côco - caipirinha - suco natural -soneca - rede - sombra - palmeira - cerveja - água fresca - água da bica - abacaxi - gelo em cubo na testa - sorvete - picolé de limão - drink gelado - banho de mar - banho de cachoeira - ducha gelada - piscina - siesta - vento na cara - bermuda - camiseta - chinelo de dedo - ventilador - ar descondicionado - (minha) mulher caliente, do lado.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Arte de JK


Demos uma passadinha ontem na mostra modernista no Palácio das Artes, uma seleção de obras a partir da Semana de Arte Moderna até os anos de Juscelino Kubitschek. Legal inferir que, nas filas das galerias, perfilava-se gente de todo tipo e de classes econômicas diferentes - se meu olhar preconceituoso não me engana. Eu achava que esse era um programa de gosto apenas das elites. Não é - povo gosta de ver arte também, de levar os filhos para ver, mesmo que (como eu), talvez não saiba ou entenda muito lá dessas coisas.

Taí, caiu a Bastilha de um equívoco. 

Mas deu pra consolidar uma velha teoria: a de que JK tenha sido o mais sensível de nossos presidentes, aquele com maior pendor para arriscar, ousar, incentivar as artes, a música, a arquitetura. Mais do que FH, decerto. Dom Pedro II, obviamente, não entra na lista.

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Lá havia uma pequena galeria com peças publicitárias, objetos, vestidos, acessórios e revistas da época. Manuseando uma Manchete de 1957, decobri, no índice, "Uma página de Rubem Braga". Na crônica, o sabiá discorria sobre "a primeira mulher do Nunes", por quem se apaixonara, mas que jamais conhecera. Gostei de folhear uma crônica publicada em seu original, com todos os cacoetes ortográficos da época. Nos dias de hoje, talvez o Braga tivesse um blog.

Não estranhe, essa conversa não vai a lugar algum. Só estou pensando alto e sozinho.