Recebi, da doutora, Romeu e Julieta.
Há um par de luas, ela se indignou ao saber que eu nunca havia lido por inteiro nem uma única peça do bardo.
E então, hoje, a me esperar em uma livraria da UFMG para almoçarmos - comida, não livros - me presenteou com a famosa lovistori de Verona.
Menos pela indignação com minha lacuna cultural do que pelo seu carinho que transborda, seu bem-querer diário e contagiante, desconfio.
Mal perde por esperar, a doutora. Meus lábios peregrinos hão de profanar cada polegada sacra daquele corpo.
Pensando o quê? Sou displicente, pero concupiscente.
Ignorante, pero cumpridor.
* * *
Almoçamos, depois, num self-service na praça de serviços. Imagine, porém, como me lembrei há pouco, a metáfora já um tanto quanto gasta de se alimentar de livros.
- O que você vai comer hoje?
- Uma saladinha de Borges e a peixada à Saramago.
- De entrada, nada?
- Um Verissimo, talvez. Para degustação.
- Leve, né? Eu tô com fome. Feijoada à João do Rio e, quem sabe, alguma massa italiana.
- Calvino?
- Pode ser. Algo de sobremesa?
- Acho que vou de Proust.
- Proust! Não é muito pesado?
- Só algumas madeleines.
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