segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Misto Quente




Patroa escreveu a respeito; agora que terminei de ler, não resistirei a uma resenhinha.

Minha mais recente tese de botequim: pelo estilo fluido, direto e coloquial, avesso a descrições parnasianas e engenhosidades de raciocínio, não será Bukowski uma leitura do nosso tempo? Porque aquele tipo de linguagem tem tudo a ver com estes tempos de tuitização do pensamento, da expressão rápida, da ojeriza à profundidade de uma sociedade acrítica que a cada geração se forma - em todos os sentidos - valorizando mais a imagem do que o conteúdo.

Por sincronicidade ou não, hoje vou lá no tedouumdado e encontro o intelectual brasileiro Alexandre Frota em uma fotografia na qual ele lê um livro. O autor, Bukowski.


Achei Misto Quente boa leitura. E acredito que a superficialidade latente destes dias ainda conviverá com outros estilos literários mais exigentes com o leitor, que afinal não morreram e são apreciados até hoje, com sua lá percentagem de público cativo. Aliás, talvez haja no futuro algum tipo de sobrevalorização do conteúdo em detrimento do culto ao superficial, até como diferenciação de marketing enquanto produto cultural, fenômeno embutido na lógica de mercado.

Voltando à história, a própria personagem protagonista , alter-ego de Bukowsky, reclamava dos autores que "enchiam linguiça" e, em plena época da Grande Depressão americana, ainda escreviam como se estivessem no século 19.

Embora Misto Quente seja de 82, segundo Wikipedia, acho que o cara - e toda a turma beatnik pregressa ou contemporânea a Bukowski - sacou, ou pelo menos lá no fundo intuiu, que o estilo direto e sem rocamboles seria aquele com maior chance de ser apreciado pelo grosso da massa globalizada das décadas seguintes.

Até porque entre um porre e outro, sempre há momentos de amarga lucidez.

2 comentários:

Tina Lopes disse...

Gosto muito do Bukowski e acho subestimado - principalmente por terem sido publicados, em coletâneas, seus textos sobre sexo, feitos para uma revista pornô - no Brasil. "Cartas na Rua" é uma delícia e um relato muito bacana da classe baixa trabalhadora americana. E apesar de não gostar de poesia, alguma coisa dele sempre me toca.

Rubão disse...

Eu gostei de Misto Quente, nada mais li dele. Fica anotada a dica.