sábado, 25 de junho de 2011

Coluna esportiva*

Acho ótimo que jogadores, torcedores e midiotas de todos os continentes endeusem Neymar e não Ganso. Ótimo, ótimo. Muito bom.

Porque, embora Neymar seja indiscutivelmente talentoso, debaixo daquele moicano não se percebem muitas idéias. Há ainda, é claro, o agravante da juventude e as tolices intrínsecas da idade. Mais: diria que o corpo de Neymar sabe jogar bola como poucos, mas o cérebro de Neymar é oco como o de muitos. Sei lá, deve ser a escola Ronaldinho Gaúcho de jogar futebol.

A verdadeira jóia da coroa ali - o amigo já sabe - é Ganso. Esse, sim. Tem a alma grande. E enxerga o jogo como se fosse o próprio Láion de espada justiceira, com visão além do alcance.

De forma que os holofotes em Neymar são salutares e bem-vindos. Primeiro, porque os marcadores irão atrás dele como a limalha de ferro persegue um ímã. Com a marcação cerrada, talvez Neymar não produza performances de alto nível - o que concorreria para formação de caráter dele, seria bom o bicho amargar uns insucessos.

Segundo, a marcação sobre Neymar abriria espaços para os outros companheiros de seleção. E, finalmente, a persistir a admiração abjeta e massacrante a Neymar, Ganso ficaria livre dos perigos da vaidade, de estancar prematuramente sua progressão, se achar melhor do que realmente é.

Que falem, que entronizem, que escrevam páginas e páginas sobre Neymar, ao fim do quê, um jogador utilíssimo, porque, assim, tiram o foco sobre quem é realmente essencial.

* * *

Nem vou perder o seu tempo falando do fenômeno Lucas Leiva, que deve ser o volante com o melhor empresário lobista do mundo, para estar ali ocupando no meio-campo do Brasil o lugar de Arouca.

Seria uma maravilha divagar apenas sobre o que se passa dentro das quatro linhas. Mas enquanto Ricardo Teixeira e essa curriolada toda estiverem por aí - em boa parte culpados pela cultura "guerreira" e imbecilizante que conspurca os times, a imprensa e os torcedores brasileiros -, já não dá gosto ver futebol. Só o Barça.

Quer um exemplo da idiotia generalizada?

Dá uma vergonha danada toda vez que eu passo em frente às lojas especializadas e megastores que vendem a estátua do Galo, mascote do clube. O Galo troglodita.

Pra quem não conhece, explico. Falo de um ídolo decorativo, que é na verdade um pesadelo centáurico, um minotauro de penas. Trata-se de um corpo ultrahipermegamarombado, vestido com o uniforme do time; e sobre esta aberração de músculos, resta a cabeça de um galo furioso, com cara de gladiador romano prestes a entrar na arena, rilhando os dentes. Dentes. E só falta uma maça na mão.

Meu Deus! Até parece que o futebol não é o esporte mais democrático do mundo! O único em que podem jogar, desde que tenham talento - ou vá lá, desde que nem o tenham - quaisquer uns. Os fortes e os brucutus podem, mas também, e sobretudo, os mais fracos, os mais gordos, os mais baixinhos! Aliás, registra a história: Pelé, Garrincha, Maradona, Di Stefano, Romário, Cruyff, Zico, Ronaldo, Zidane, Messi... olhe aí a lista e você não encontra um lutador de Octagon, um Dolph Lundgren, um Mike Tyson.

Aliás, o comum é os gênios nem ultrapassarem 1, 70m de altura. De cabeça, me lembro que Zico - Messi também - teve que fazer tratamento especial para crescer e adquirir massa muscular. E ficaram daquele tamanhinho. Imagina se não o fizessem, o Galinho de Quintino e La Pulga.

O caso do futebol é igual a muita coisa na vida: o negócio não é força, amigo. É jeito. Está claro para qualquer sujeito mediano, menos para os imbecis de todas as torcidas.

O que importa, sempre, ad eternum, é saber jogar futebol. A menos que a bola seja de chumbo, lugar de troglô é no lançamento de peso, no halterofilismo ou nesses torneios sangrentos, Ultimate Fighting. Ou nas academias, fazendo pose diante do espelho.

Então, me contem, por que cargas d´água aquele mascote está lá - representando meu time de coração, meus sonhos de garoto e minhas esperanças de um bom futebol - como se fosse um Xuazenéguer de chuteiras? Ora, por que não a estátua de um franguinho franzino, mirrado mesmo, com coxas e canelas tão finas, que alma alguma jamais pensaria em levá-lo às panelas, mas com um olhar altivo, cínico e traiçoeiro, numa disposição que revela toda a sua habilidade, fazendo embaixadinhas e malabarismos com a bola ou enfiando-a entre as pernas de uma perplexa raposa?

Agora, vá explicar isso ao maçaranduba das arquibancadas.







*Andei relendo Nelson Rodrigues. É uma influência exasperante.

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